Sem dinheiro público, mas com Fernanda Montenegro: Como A Vida Invisível vai tentar vaga no Oscar
Escolhido pelo Brasil para tentar uma indicação na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2020, A Vida Invisível não terá verbas públicas em sua campanha de divulgação nos Estados Unidos, considerada crucial para a nomeação em Hollywood. Segundo o UOL apurou, diferentemente de anos anteriores, nem Ancine nem o Ministério da Cidadania aprovaram apoio financeiro ao filme.
Em um cenário de cortes e enxugamento de patrocínios na área da cultura, o governo brasileiro autorizou apenas o apoio institucional da campanha brasileira, com inclusão da marca do governo federal, já que o filme do cineasta cearense Karim Aïnouz foi parcialmente financiado com recursos oriundos da Lei do Audiovisual.
Em 2018, durante o governo Temer, o longa escolhido para representar o país na disputa, O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, recebeu cerca de R$ 200 mil do antigo Ministério da Cultura para sua divulgação em Hollywood, sem conseguir entrar na lista final da Academia. Tradicionalmente, no entanto, a maior parcela dos recursos empregados na empreitada é privada.
Apesar da falta de interesse do governo, que desde janeiro vive em pé de guerra com o setor, a equipe de A Vida Invisível está otimista, apostando em uma campanha ampla, com forte articulação internacional e recursos 100% privados.
Em entrevista ao UOL, sem revelar valores, o produtor Rodrigo Teixeira revela que a verba virá de duas frentes: de sua produtora, a RT Features e, principalmente, da gigante Amazon, em um "investimento pesado" que colocará o filme em pé de igualdade com favoritos da categoria, como Dor e Glória, do espanhol Pedro Almodóvar.
A comitiva de A Vida Invisível está desde o fim de semana no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, onde, além de acompanhar a estreia do filme na América do Norte, tem reuniões marcadas com figurões da Amazon.
Os últimos detalhes do lançamento internacional ainda serão acertados. A ideia é lançar primeiro nas salas de cinemas dos Estados Unidos, até o mês de dezembro, antes de chegar ao streaming, na Amazon Prime Video, que servirá de mola na distribuição internacional.

Trunfos
Nome forte no cinema mundial, o produtor Rodrigo Teixeira, 42 anos, é tido como um dos maiores trunfos de A Vida Invisível na corrida pelo Oscar. Experiente, ele tem trânsito no cinema dos EUA e está por trás de filmes como Mistress America e Frances Ha, do diretor Noah Bambauch. Teixeira também assina o drama Me Chame Pelo Seu Nome, que fez barulho em Hollywood e conquistou quatro indicações no ano passado, levando o Oscar de melhor roteiro adaptado.
Nas palavras do produtor, outros quatro fatores podem pesar na indicação de A Vida Invisível na categoria de melhor filme internacional —antigo Oscar de filme estrangeiro—, que não vem para o Brasil há 21 anos, desde Central do Brasil:
- A vitória do filme em Cannes 2019 na mostra Um Certo Olhar, a segunda mais importante no festival.
- Ser do gênero "melodrama", que conversa diretamente com o público e o cinema norte-americanos --vide o sucesso recente de Nasce uma Estrela.
- A produtora RT Features não só estar inserida no mercado dos EUA como, em 2018, emplacou três filmes no Independent Spirit Awards, considerado o Oscar do cinema independente.
- Contar com Fernanda Montenegro no elenco, já indicada ao prêmio de melhor atriz, e o diretor Karim Aïnouz (Praia do Futuro), com carreira reconhecida internacionalmente.

O caminho para o Oscar
Neste primeiro momento, o desafio de A Vida Invisível é criar burburinho no público e influenciadores de Hollywood. O mais importante é chamar atenção dos 8.000 membros votantes da Academia, que, na prática, não são obrigados a assistir a todas as produções que tentam entrar no Oscar. Para isso, a produção trabalha no corpo a corpo e enviando DVDs diretamente aos jurados.
Outro passo importante, que já foi dado: entrar na rota dos principais eventos de cinema do mundo. O longa já passou por Cannes e por festivais como os de Munique, Sidney, Melbourne e Lima, além de já ter confirmado sessões no festivais de Nova Zelândia, Zurique, Londres, além dos brasileiros Mostra Internacional de São Paulo e o Cine BH.
A campanha em Hollywood também inclui anúncios publicados nas mais diversas plataformas, incluindo jornais, sites e revistas considerados estratégicos em termos de influência. "Temos um assessor de imprensa local experiente com campanha de outros filmes estrangeiros", confia Teixeira.
"Também é importante promover sessões para os integrantes da Academia em cidades-chaves dos EUA, onde temos o maior número de votantes. Vamos fazer isso. Também temos um circuito de festivais norte-americanos, a confirmar, e onde o contingente de votantes também é grande", detalha o produtor.

Porque pode ter chegado a hora do Brasil
Sobre as chances reais de ser indicado e, eventualmente, vencer o Oscar de filme internacional, a produção demonstra confiança. Diferentemente de outros filmes nacionais que tentaram chegar lá, A Vida Invisível, que é baseado na obra da escritora Martha Batalha e conta a história de duas irmãs em conflitos nos anos 1940, atravessa um tema cada vez mais caro a Hollywood: o machismo em suas mais variadas formas.
"Nesse sentido, apesar de ser um filme época, trabalhamos situações que são ainda facilmente reconhecidas num mundo contemporâneo. E num contexto em que os direitos das mulheres e o machismo ainda são questionados, acredito que o filme tenha uma importância muito maior hoje do que em outros tempos", conclui Rodrigo Teixeira.
Estrelado por Julia Stockler e Carol Duarte, com participações de Fernanda Montenegro, Gregório Duvivier e António Fonseca, A Vida Invisível chega ao circuito comercial brasileiro em 31 de outubro. Antes, estreia em algumas salas do Nordeste a partir de 19 de setembro. Uma lista preliminar de indicados a melhor filme internacional será divulgada pela Academia de Hollywood até o fim deste ano. A relação final com os cinco indicados será conhecida apenas no dia 13 de janeiro.
A cerimônia de entrega do Oscar ocorre em 9 de fevereiro, em Los Angeles.
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Gosto assim sem dinheiro do meu Bolso!
FILMES BRASILEIROS NO MÁXIMO GANHAM PRÉMIO DE CONSOLAÇÃO POR MOSTRAR COMO É O CORPO DAS BRASILEIRAS.