Bolsonaro, Marielle e Ághata: Rock in Rio é o mais politizado da história
A edição de 2019 do Rock in Rio, maior da história em espaço físico e programação, pode ser lembrada por outro superlativo: nunca em suas oito edições nacionais, o maior festival brasileiro, e um dos maiores do mundo, carregou tanto em tintas políticas, seja por parte de artistas que marcaram posição no palco ou por parte do público, que também deu o seu recado.
Em meio a mensagens pró-diversidade, empoderamento feminino e contra o racismo, o principal alvo das plateias foi o presidente Jair Bolsonaro. A exemplo do último Lollapalooza, ele foi lembrado diversas vezes, especialmente em shows de artistas brasileiros.
Ora incentivado por músicos, ora surgindo de forma orgânica, o grito "Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*" virou uma espécie de "hino" do público do Rock in Rio, invadindo vários palcos, transmissões e virando trending topic no Twitter.
O protesto veio até em shows com apoiadores do presidente no palco, como na homenagem aos 30 anos do funk feita pela Funk Orquestra, que contou com o cantor Buchecha. A sugestão nada lisonjeira ao político do PSL também ecoou em shows de Alok, Capital Inicial, Emicida, Elza Soares, Detonautas, Iza com Alcione, entre vários outros, incluindo internacionais como Black Eyed Peas e Pink.
Do palco
No palco Sunset, no primeiro sábado (28/9) de festival, Karol Conka, Linn da Quebrada e Gloria Groove puxaram as manifestações criticando duramente políticas de extermínio do povo negro, com Linn pedindo o fim do genocídio nas periferias, e Conka bradando "fogo nos racistas".
Na apresentação do grupo multinacional Francisco El Hombre, na última quinta (3), também no Sunset, o Rock in Rio entregou aquela que provavelmente foi sua apresentação mais política de todos os tempo, com forte viés de esquerda e com grande parte do público na casa dos 20 anos. Usando uniforme verde e amarelo, a banda exibiu no telão imagens de Marielle Franco, Ághata Félix (garota de 8 anos morta por uma bala no Rio de Janeiro em setembro), Dilma Rousseff, Luiza Erundina, Djamila Ribeiro, Malala, Greta Thumberg e do cacique Raoni, enquanto o grupo carregava uma bandeira do MST. Gritos de "Lula Livre" também chegaram a ser ouvidos na plateia.
Apesar de não mencionarem diretamente Jair Bolsonaro, como fez no ano passado o cantor Roger Waters, artistas internacionais também deram seu recado político. Pink exibiu mensagens pró-feminismo e diversidade de gênero e ouviu um fã pedir o namorado em casamento; Drake e Red Hot Chili Peppers lembraram as queimadas na Amazônia, fato que dominou o noticiário internacional recentemente.
Embora tenha escolhido abraçar a questão ambiental já há algumas edições, a organização do Rock in Rio prefere se manter neutra quando o assunto são outras questões políticas, especialmente as que envolvem verniz partidário, como as políticas de Jair Bolsonaro. O festival diz apenas que apoia o direito à livre manifestação, dentro e fora do festival, sem distinção de cunho ideológico.
Festival e protesto combinam?
Da parte do público, apesar da predominância do discurso de esquerda nos protestos, que ocorreram principalmente em dias com pessoas mais jovens, o UOL constatou que há, sim, divergências.
Mas a maioria das pessoas ouvidas pela reportagem, durante os sete dias de festival, entrou em um consenso: o momento é de contestar o presidente, que passa por uma queda de popularidade na esteira da estagnação econômica e de suas políticas consideradas polêmicas, muitas vezes impopulares.
"Eu votei no Bolsonaro. Mas estamos em um evento de música, um evento de arte, e a opinião política acaba se misturando. É normal e faz sentido que aconteça, principalmente vindo do rock and roll, que sempre questionou o status quo. As pessoas têm esse direito", diz ao UOL Bruno Szerman, 30, administrador que foi ao Rock in Rio.
Para a publicitária Livia Caon, 21 anos, música e política se misturam e é antidemocrático pensar que isso deva ser reprimido ou desincentivado. "Esse é um festival que abrange o Brasil inteiro, com transmissão no Mutishow e tem muito destaque na Globo. Então a gente tem visibilidade. Então, se a gente faz isso aqui, pode ser que chegue em algum lugar."
Mas nem todos pensam assim. "Eu acho que esse tipo de protesto deveria ser feito nas ruas. Aqui é um evento eclético, com gente diferente, e nem todo mundo pensa da mesma forma. Como existem diversos pensamentos, as pessoas precisam respeitar o espaço do outro, independentemente de que lado for. Tem pessoas que não são de lado nenhum, e ficam no meio disso tudo", entende a professora universitária Letícia Dantas, 43.
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