Bienal se torna evento importante para resistência LGBTQ+ após censura de Crivella
Depois que o prefeito Marcelo Crivella mandou apreender os exemplares da HQ Vingadores - A Cruzada das Crianças, da Marvel, por conter imagens ilustrativas de um beijo gay, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro se tornou um espaço importante de resistência LGBTQ+.
"Isso é censura. É ilegal. Acho um ato inconstitucional. Dentro da lógica dele, se ele tivesse o mínimo de coerência, ele teria que censurar todas as publicações com todos tipos de beijo", disse o desenvolvedor de software Pedro Rocha, 36, presente no evento.
A professora Ellen Pereira Vieira, 35, que trabalha com educação infantil e personagens vivos em festas, reforça o coro contra a censura. "Toda leitura é válida, independente de religião, posição política. Formar cidadão é isso. Você tem que mostrar para os jovens as diversas possibilidades, de diversos temas, para que ele decida o que é melhor para ele. A gente ouve muito falar que o estado é laico, de apoio à diversidade, mas sabemos que na prática não é bem assim. Existe muita censura."
Idalina Sabadine, 48, que foi acompanhar o marido escritor Wagner Fernandes, na tarde de autógrafos de Sobre Histórias de Sacis e Outras Lendas, não poupou críticas a Crivella.
"Tenho certeza de que esse tipo de censura não convém com o século 21. Nós temos crianças que estão sendo adotadas por famílias gays. Pela imagem que eu vi no livro, é apenas um beijo de um casal, uma demonstração de amor, de carinho. Acho que o prefeito tem mais o que fazer do que procurar fiscalizar uma besteira dessa. Não quero um país assim e acredito que a maioria da população não queira."
Segundo UOL apurou, todos os exemplares de Vingadores - A Cruzada das Crianças, da Marvel, foram vendidos na Bienal. A Editora Salvat, que publica a HQ, não tem stand no evento este ano, por isso os livros foram comercializados em lojas mistas. O quadrinho não é lançamento e foi publicado em 2016. Os impressos adquiridos no evento eram sobras de lotes.
Bienal no fim de semana
Mesmo com a tentativa de censura do prefeito, impedida por uma liminar da justiça, a Bienal dedicará para da programação deste sábado à diversidade.
Ao meio-dia, o youtuber Felipe Neto prometeu distribuir 14 mil livros com a temática LGBTQ+, com uma irônica etiqueta escrito: "Este livro é impróprio - para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas".
Às 17h, no Pavilhão Azul, João Silvério Trevisan, Tobias Carvalho e Jaqueline Gomes participarão de um debate com o tema Diversidade, Substantivo Plural.
No pavilhão 4, às 19h, Lucas Rocha, Vitor Martins, Igor Pires, Thati Machado, Vinicius Grossos e Pedro HMC falarão sobre Literatura Arco-Íris. No mesmo horário, na Arena Verde, Luiza Marilac, Nana Queiroz, Natalia Travassos, Tarso Brant, Mulher Pepita e Amara Moira são convidas para discutirem sobre Literatura Trans.
Fora da Bienal, a atitude de Crivella fez com que a Bienal se tornasse um dos assuntos mais comentados no Twitter. A feira de livros recebeu o apoio de populares e famosos em sua posição contra a ofensa à liberdade e expressão do político conservador.
Fábio Porchat deu sua opinião no microblog. "Quando uma criança vê um casal gay se beijando, ela não aprende a ser gay. Ela aprende que as pessoas se amam. Não é o beijo gay que tem que ser impedido. É o homem batendo em mulher, o negro sendo chicoteado em supermercado, a desigualdade em cada sinal", declarou o humorista.
Mais cedo, a Bienal divulgou um comunicado contra a atitude de Marcelo Crivella e ressaltou que o evento está aberto a todos os públicos. "Consagrada como o maior evento literário do país, a Bienal do Livro mantém sua programação para o fim de semana, dando voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados."
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