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Discreto e sensível, Elton Medeiros fez canções obrigatórias nas rodas de samba

O sambista Elton Medeiros, posa na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, em 2001 - Ana Carolina Fernandes/Folhapress
O sambista Elton Medeiros, posa na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, em 2001 Imagem: Ana Carolina Fernandes/Folhapress

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL

04/09/2019 13h27

O mundo do samba, que nos últimos anos têm passado por perdas sensíveis em suas fileiras, perdeu um de seus mais talentosos e generosos representantes. Discreto, de voz sóbria, mas de musicalidade intensa e polivalência única, Elton Medeiros, que morreu ontem no Rio, deixa um legado de canções que são obrigatórias em todas as rodas de norte a sul do país.

Parceiro de Cartola em O Sol Nascerá e Peito Vazio, e de Paulinho da Viola em Onde a Dor Não Tem Razão e Recomeçar, Elton é um dos mais produtivos compositores do samba. Estima-se que centenas de composições suas jamais foram gravadas e encontram-se guardadas em seu baú.

Nascido em 22 de julho de 1930 na Glória, Zona Sul do Rio, Elton começou sua carreira aos 14 anos, embora haja registros de que tenha feito sambas para blocos de sua região na infância. No subúrbio de Parada de Lucas, encontrou abrigo na ala de compositores da Aprendizes de Lucas (que, após fundir-se com a Unidos da Capela, formou a atual Unidos de Lucas), onde emplacou um samba-enredo que é uma verdadeira pérola do gênero e muito pouco comentada hoje em dia: Exaltação a São Paulo, apresentado no Carnaval de 1954.

Exímio ritmista, nos anos 1960, atuou em grupos como A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos, até despontar no antológico musical Rosa de Ouro. Nesta década, tornou-se parceiro de Hermínio Bello de Carvalho, Zé Keti, Paulinho da Viola e Cartola, em cujo bar, o antológico Zicartola, foi presença constante em todas as rodas de samba. O Sol Nascerá, atualmente trilha sonora da novela Bom Sucesso, da Rede Globo, foi composta com Cartola em 1964 e tornou-se sucesso imediato na voz de Nara Leão.

Seu talento como compositor não encontrou eco na carreira fonográfica. Gravou poucos discos e não teve sucesso como cantor como muitos de seus contemporâneos. Porém, sempre desempenhou com maestria a função de abastecer os colegas com sambas de sensibilidade única.