Como dois amigos da periferia de SP viraram protagonistas de série sobre maconha
Para jovens artistas da periferia de São Paulo, estrelar uma série mainstream pode parecer um sonho distante. Mas, para os amigos Luis Navarro e Henrique Santana, o sonho se tornou realidade. Os dois, nascidos e criados na Zona Leste da capital paulista, são os protagonistas de Pico da Neblina, a nova produção original da HBO, que estreia neste domingo (4), às 21h.
"Uns meses atrás, eu era coadjuvante em programas de TV, agora estou no canal que fez a 'série das séries' [referindo-se à Game of Thrones], em uma produção do melhor diretor do Brasil, Fernando Meirelles", comemorou Henrique, em entrevista ao UOL.
Dirigido por Quico Meirelles e produzido por seu pai, Fernando Meirelles, Pico da Neblina é ambientado num futuro próximo, onde o uso recreativo da maconha foi legalizado no Brasil.
A produção conta a história de Biriba (Luís Navarro), um jovem traficante paulistano que, com a mudança na lei, decide abandonar o crime e vender sua erva legalmente junto com um sócio investidor nada experiente (o humorista Daniel Furlan). Mas Salim (Henrique Santana), seu amigo de infância, resolve seguir como traficante à moda antiga: na ilegalidade.
Amigos de infância
Luis relembrou de como ele e Henrique foram escolhidos para a série. "Eu fiz o teste e não passei. Dias depois, o Henrique foi convidado também, mas estávamos no Rio e o teste seria em São Paulo. Então, nós dois pegamos o carro e viemos correndo pela Dutra até São Paulo", contou.
"Quando chegamos na produtora, o Quico se lembrou de mim e perguntou se eu não queria fazer o teste de novo. Deu certo. Fui aprovado para o papel de Biriba e o Henrique para de Salim no mesmo dia".
A amizade entre os dois atores transparece nos personagens. Eles são amigos de infância e cresceram juntos na Zona Leste.
O jeito de falar, a cumplicidade e até os cumprimentos e abraços que Biriba e Salim trocam em cena mostram que há entre eles muito mais do que uma relação entre "dono da boca" e "traficante". O resultado é uma dupla de protagonistas orgânica, em que seus papéis parecem ter sido escritos especialmente para eles.
Dançarino e quase padre
Antes de ser ator, Henrique estudou em um seminário para virar padre e também dava aulas de hip-hop e street dance ma igreja. "Desisti de ser padre e entrei nas artes cênicas. Se não fosse por isso, eu poderia ser um traficante também".
Foi com esse discurso que Henrique convenceu Fernando Meirelles a contratá-lo para o papel. "Sou de Cangaíba, na Zona Leste. Tive exemplos na família de pessoas que entraram para o tráfico. Mas Jesus foi me salvando e me largou num bom lugar".
Quando Fernando Meirelles me perguntou como eu imaginava o Salim, eu respondi: 'Se eu não fosse o Salim da ficção, muito provavelmente eu seria o Salim da vida real'. E ele me respondeu: 'Então, vamos te pagar para ser o Salim de mentirinha'.
Para Luis, o que engradece a série é o seu elenco majoritariamente negro e em papéis de protagonismo, como Teca Pereira, que interpreta a mãe de Biriba, e a cantora e atriz Leila Moreno, que dá vida à irmã de Biriba.
"Temos uma família inteira de negros na série. Isso é muito raro. É mais comum negros em papéis de figurantes", disse. "Para mim, é interessante também como aquele micro universo da Zona Leste, com suas gírias e cultura, se torna macro".
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