Diretor de O Bar Luva Dourada diz testar limites da violência ao retratar serial killer
A história de um serial killer alemão dos anos 1970, que estuprava, matava e esquartejava as vítimas, escondendo os corpos dentro de seu apartamento, é retratada explicitamente no filme de terror O Bar Luva Dourada, que estreia hoje nos cinemas brasileiros. Fritz Honka era um homem estrábico, de nariz quebrado e com dentes podres, e cometeu seus crimes entre 1970 e 1975.
Em entrevista ao UOL, o diretor alemão Fatih Akin disse que o foco na violência foi para testar os limites do que é suportável para as telas de cinema. "O cinema, para mim, pode ser como um esporte. Os limites são um desafio. Quando você vê tenta pular mais alto, tenta ser mais rápido, fazer mais gols. Quando penso nas imagens gráficas de O Bar Luva Dourada, há um pouco disso na minha cabeça", contou por telefone Fatih, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim pelo filme Contra a Parede (2004).
Para ele, os limites estão cada vez mais difíceis de serem enxergados. "Vejo muita violência e penso em como a sociedade encara isso. E isso diz mais sobre a sociedade do que sobre mim. Hoje temos tanta violência na mídia, nos games, no YouTube. Claro que meu filme é sobre violência. Eu quero chocar, mas com um propósito. Como fazer isso, quando os limites estão tão esgarçados?", questionou.
De galã a grotesco
No papel de Fritz Honka está o ator Jonas Dassler, de 23 anos. O alemão passou por sessões de mais de 2h, diariamente, para ganhar maquiagem e próteses no rosto para viver Honka.
O serial killer vivia em Hamburgo e frequentava o bar, aproximando-se frequentemente de mulheres mais velhas, muitas delas ex-prostitutas, atraindo-as para sua casa e cometendo seus crimes. O filme mostra suas frustrações sexuais e sua paixão platônica por uma jovem loira inalcançável a quem ele imagina em um ambiente também excêntrico para um fetiche: um açougue.
O resultado é um retrato nauseante, cheio de violência e nudez, de uma geração de alemães que cresceu no pós-guerra e se apoiou no álcool radicalmente. Mas também um recado para a violência que há escondida na sociedade atual, num momento de ascensão conservadora.
"É um retrato da Alemanha nos 1970, uma época que formatou toda uma geração após o Holocausto. Era uma sociedade traumatizada e que tentava apagar esse trauma com álcool. Claro que a geração atual é diferente, mas o arquétipo básico está ali em todos os humanos. Por um lado, eu aprecio a Alemanha por como ela está agora. Por outro lado, sei que temos de lutar todo dia para que essas vitórias se mantenham assim. A razão para termos tanta desinformação sobre Segunda Guerra Mundial e nazismo é porque há um vazio nas gerações que vieram depois desta", disse o diretor.
Fatih ganhou manchetes nos anos 2000 quando fez protestos abertamente contra o governo de George W. Bush, nos Estados Unidos. Questionado sobre líderes ainda mais conversadores como os atuais presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, assumiu tom crítico em relação a eles e disse que tenta, por meio de seu filme, manter um diálogo com quem pensa diferente dele.
O diretor contou que estava em férias na Grécia, na semana passada, quando a dona da casa onde iria se hospedar o abordou e iniciou um papo que descambou para a política, elogiando Trump. "Ela me disse: 'Trump protege seus cidadãos quando fala em América em primeiro'. Ela vê como natural pensar assim, e é uma pessoa qualquer, como as que votaram em Bolsonaro e Trump, apesar de estar na Grécia. Eu fiquei bravo e pensando se queria dar meu dinheiro da hospedagem a ela, mas vi que, se quero mudar, eu tenho de manter o contato. Com O Bar Luva Dourada é o mesmo, quero que minhas mensagens atinjam essas pessoas e eu possa dialogar com elas".
A classificação indicativa de O Bar Luva Dourada para maiores de 18 anos.
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