Marginal e excluído: Por que Coringa não seguirá a história dos quadrinhos
Quando Coringa estrear nos cinemas mundiais, a partir de 3 de outubro, os fãs de longa data do personagem não encontrarão ali muito do que já conhecem. Em entrevista à revista norte-americana Empire, o diretor Todd Phillips afirmou que nada na trama do filme foi diretamente inspirado pelos quadrinhos da DC Comics.
"Não seguimos nada dos quadrinhos, o que vai irritar as pessoas. Nós só escrevemos nossa própria versão de onde poderia surgir um cara como o Coringa", afirmou o também responsável pelos filmes Se Beber Não Case e Dias Incríveis. "É isso que é interessante, para mim. Nem estamos fazendo o Coringa, mas a história de se tornar o Coringa. É sobre um homem".
O homem, no caso, é Arthur Fleck, vivido por Joaquin Phoenix. No primeiro teaser trailer do filme, lançado em abril, é possível vê-lo como um palhaço de rua. Após repetidos infortúnios, e em meio ao que parece ser uma crescente tensão na desigual cidade de Gotham, ele emerge com uma nova identidade: a do Coringa, numa versão pensada especialmente para o ator de Ela e Gladiador.
"Eu acho ele é um dos maiores atores", disse Phillips. "Tínhamos uma foto dele acima do nosso computador, enquanto escrevíamos [o filme]. Constantemente, pensávamos: 'Deus, imagine se Joaquin realmente fizer isso'".
Novo ângulo para uma ideia velha
Embora costume funcionar melhor como uma misteriosa força do caos (como em Batman: O Cavaleiro das Trevas), o Coringa volta e meia recebe uma nova história de origem. Nos quadrinhos, já foi bandido meia-boca desfigurado, humorista frustrado e até entidade quase paranormal. Nas animações, misturou tanto esses elementos que fica difícil precisar só uma versão. E, nos cinemas, foi até o responsável pela morte dos pais do Homem-Morcego.
Agora, os rumos parecem se voltar para uma gênese mais pessoal, fruto de traumas familiares ("minha mãe sempre me diz para sorrir e colocar um rosto feliz", diz Arthur Fleck, no teaser) e da marginalização numa sociedade de economia frágil e injusta. Segundo o site norte-americano Birth.Movies.Death, que teve acesso ao roteiro escrito por Phillips, são duas as principais influências cinematográficas que guiam a história: Taxi Driver e O Rei da Comédia.
Além de dividirem Robert De Niro (que também atua em Coringa), ambos são filmes de Martin Scorsese sobre excluídos, marginais, homens presos numa espiral de toxicidade dentro de suas mentes que não veem saída se não romper com quaisquer códigos sociais e morais que os cerquem, entregando-se ao caos.
Não é difícil enxergar paralelos nessas narrativas com o conceito central ao Príncipe Palhaço do Crime, o de um homem levado ao limite, seja na mídia que for. Assim como não é difícil de ver onde esse caminho deve desaguar longe da abordagem tradicional, que costuma definir o personagem mais pela sua relação com o Batman do que por ele mesmo. O futuro herói, aliás, parece ser carta fora do baralho em Coringa.
Na mais pessimista das análises, é um caminho ao menos estimulante para se contar uma nova história com um personagem velho. Quanto maior a oferta de filmes inspirados em quadrinhos, maior é de se esperar a diversidade entre eles, o que só enriquece o cinema de forma geral - e deve ser sempre celebrado. Como já afirmou Roberto Sadovski, blogueiro do UOL, por aqui: "Contar uma boa história é mais importante que ser fiel aos gibis".
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