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Filme brasileiro "Bacurau" vence prêmio do júri no Festival de Cannes

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Cannes

25/05/2019 14h58

O filme "Bacurau", dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ganhou o prêmio do júri no Festival de Cannes. O longa dividiu o prêmio com "Les Misérables", do francês Ladj Ly. É o terceiro prêmio mais importante do evento. A estreia nos cinemas está marcada para o dia 30 de agosto.

Veja teaser de "Bacurau"

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O troféu coroa a excelente participação do Brasil no evento, o mais prestigiado festival do calendário cinematográfico mundial. Ontem, o longa "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, arrebatou o prêmio principal reservado aos filmes da mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), a segunda mostra mais importante de Cannes.

Outro filme com DNA do Brasil também recebeu prêmio na tarde de hoje: o longa "The Lighthouse", dirigido pelo americano Robert Eggers e produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features (também produtora de "Eurídice Gusmão"), foi agraciado com o prêmio da crítica (Fipresci) dedicado aos filmes em mostras paralelas.

"Queria mandar um beijo para todo mundo do Recife, Pernambuco", disse Mendonça Filho, no palco da cerimônia. "Faz 20 anos que venho, era uma jornalista e descobri muitos filmes aqui", completou o cineasta, que em seguida celebrou o fato de o filme de Aïnouz ter ganhado o prêmio Un Certain Regard de ontem, dizendo que os artistas são "embaixadores da cultura" brasileira no exterior.

Juliano Dornelles ("Bacurau"), Michael Moore,  Ladj Ly ("Les Miseralables") e Kleber Mendonça Filho ("Bacurau") durante cerimônia em Cannes - Gareth Cattermole/Getty Images - Gareth Cattermole/Getty Images
Juliano Dornelles ("Bacurau"), Michael Moore, Ladj Ly ("Les Miséralables") e Kleber Mendonça Filho ("Bacurau") durante cerimônia em Cannes
Imagem: Gareth Cattermole/Getty Images

"Queria dizer que 'Bacurau' foi um filme que envolveu o trabalho de muita gente, do Brasil e de fora, e essas pessoas trabalharam duro para que o filme ficasse pronto", disse Dornelles. "Dedico esse prêmio a todos os trabalhadores do Brasil da ciência, da educação e da cultura", completou.

Kleber Mendonça Filho discursa em cerimônia do Festival de Cannes - Pascal Le Segretain/Getty Images - Pascal Le Segretain/Getty Images
Kleber Mendonça Filho discursa em cerimônia do Festival de Cannes
Imagem: Pascal Le Segretain/Getty Images

Com caráter distópico, "Bacurau" se passa em uma cidade fictícia de mesmo nome, em um futuro próximo, no interior de Pernambuco. Na trama, o vilarejo começa a ser sabotado por grupos interessados em exterminar o local --nos mapas oficiais, a cidade já não existe mais.

Água, comida e sinal de celular também já foram cortados, e quando forasteiros aparecem na região, os habitantes se unem para resistir ao extermínio.

O elenco conta com Sônia Braga, Karine Teles, Barbara Colen e o ator alemão Udo Kier. Com estilo a meio caminho entre o realista e o metafórico, o longa conta um forte viés político, com notório paralelo com o Brasil conservador de Jair Bolsonaro.

A cidade de Bacurau, com seus habitantes orgulhosos da própria cultura e ciosos do respeito às diferenças de comportamento entre si, pode ser compreendida, alegoricamente, como um centro de resistência a investidas de forças reacionárias.

Notório opositor de Bolsonaro, Mendonça Filho fez barulho da outra vez que esteve em Cannes, em 2016, quando seu longa "Aquarius" disputou a Palma de Ouro. Na ocasião, o cineasta e membros da equipe do filme aproveitaram o tapete vermelho para protestar contra o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff.

Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles posam para fotos após receberem prêmio - Regis Duvignau/Reuters - Regis Duvignau/Reuters
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles posam para fotos após receberem prêmio
Imagem: Regis Duvignau/Reuters

Desta vez, embora não tenha feito protesto no red carpet, o diretor se pronunciou contra o atual governo na conversa com a imprensa, com críticas específicas aos cortes na área da educação.

O outro vencedor do prêmio, "Les Misérables", mostra um policial francês que se muda para uma nova cidade, onde precisa se adaptar a uma nova rotina, marcada por problemas ligados a uma juventude entregue à criminalidade.