De "demente" a "maravilhoso": "Bacurau" divide opinião da crítica internacional
"Bacurau": Um filme estranho e muitas vezes confuso, que tem problemas de roteiro e traz pano de fundo político. Um maravilhoso e ultraviolento neofaroeste que critica tecnologia, Estados Unidos e chega a evocar o trabalho do diretor de terror John Carpenter.
"Os Sete Samurais", clássico de Akira Kurosawa, e "O Albergue", produzido por Quentin Tarantino, são descritos como referências de um longa que pode encontrar problemas para ser vendido e distribuído no mundo, devido a seu tom não tradicional.
A imprensa internacional reagiu assim, com críticas divergentes, ao novo filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho ("O Som ao Redor", "Aquarius"). Dirigida em parceria com o produtor Juliano Dornelles, a produção teve sua pré-estreia hoje no segundo dia de Festival de Cannes, na França.
Segundo a revista "The Hollywood Reporter", o filme, que mostra uma comunidade rural nordestina sendo alvo de invasores, é visualmente bonito, bem-humorado e ambicioso, evocando produções dos anos 1970. "Mas esse neowestern nunca consegue ser totalmente satisfatório", escreveu o crítico Stephen Dalton.
Um dos pontos descritos como negativos é a forma caricata e "desajeitada" com que os vilões estrangeiros são retratados. "O diálogo descontraído parece o trabalho de pessoas que não falam inglês, como se o roteiro de português fosse simplesmente alimentado pelo Google Tradutor.
"
Já para a revista "The Wrap ", "Bacurau" entrega uma boa mistura de violência gratuita e crítica social ao abordar a exploração de comunidades rurais. O problema é que o longa acaba se perdendo com personagens muito diferentes um dos outros, da doutora interpretada por Sonia Braga ao bandido gay vivido por Silvero Pereira.
"Todos eles claramente se divertem em interpretações exageradas enquanto os diretores se divertem fazendo um exercício violento", entendeu o americano Steve Pond, que cita influências de John Carpenter e indica que, por explorar regionalismo, a história acabará sendo melhor compreendida por brasileiros.
Peter Bradshaw, crítico do jornal britânico "The Guardian", elogia a coragem de Kleber Mendonça Filha, que "abandonou tons mais calmos e humanistas em prol de um perturbador frenesi ultraviolento". Ele ainda cita a alfinetada do diretor ao governo Jair Bolsonaro, que vem enxugando investimentos na área da cultura.
"Os créditos finais apontam que a produção criou 800 empregos", destaca Bradshaw. Segundo ele, a trama é estranha: começa com estilo documentário, se transforma em sonho doentio e termina em banho de sangue. Mas isso não prejudica o resulta. "É um filme completamente distinto, executado com clareza e força implacáveis."
"Bacurau tem problemas. É estranho, por exemplo, que Barbara Colen, a ótima atriz que interpretou Sonia Braga jovem em 'Aquarius,' volte para casa para o funeral da avó e depois seja deixada de lado na história. Mas a combinação de sátira e selvageria é bastante feroz e intrigantemente única", afirmou Tim Robey, do jornal britânico "The Telegraph".
Para o site IndieWire, "Bacurau" é um "maravilhoso e demente" faroeste sobre os perigos da modernização desenfreada. "Ele começa no espaço, termina com [o ator] Udo Kier sendo caçado por um fantasma e passa o resto do tempo misturando tudo de "Sete Samurais" e "O Albergue"."
"Isso com um maldito e sem remorso 'foda-se' dado a qualquer um que pense que tecnologia de ponta dá o direito de ver o mundo como seu matadouro pessoal", concluiu o crítico David Ehrlich.
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