"Rocketman", biografia de Elton John, é um musical ultracolorido e sexual
Uma das maiores estrelas do Festival de Cannes de 2019, Elton John reluziu ontem à noite no tapete vermelho da estreia mundial de sua própria cinebiografia, "Rocketman", exibida fora de competição. Mas hoje, frustrou as expectativas dos jornalistas: preferiu não participar da conversa com a imprensa sobre o longa dirigido por Dexter Fletcher.
Mas o ator que o representa no filme, Taron Egerton, estava lá e mostrou que sua conexão com o músico ultrapassa as semelhanças de caraterização. O britânico revelou que, para compor o personagem, conversou tanto com Elton que, por fim, tornaram-se amigos.
"Foi uma grande honra e responsabilidade vivê-lo em cena. Ficamos amigos, o que me deixa muito honrado. Isso foi importante para mim", disse Egerton. "Eu e ele mergulhamos juntos em suas músicas, e tive a chance de conversar muito com ele, sobre tudo. Elton permite que você pergunte qualquer coisa: ele te dirá tudo. Poucas coisas o fazem corar: sempre foi muito resolvido com sua própria história", contou o ator.
E o filme de fato não esconde alguns dos momentos mais dramáticos da trajetória de Elton. Era um garoto tímido e gorducho, filho de um pai frio e uma mãe mais interessada no amante que na família. Mas o pequeno Reggie (que adotaria Elton após conhecer um músico amigo de mesmo nome, e John em homenagem ao ídolo John Lennon) tinha um talento excepcional: era capaz de tocar piano com extrema facilidade e de compor canções melodiosas, que seriam a marca de seu futuro repertório.
Quando, já adulto, conheceu o letrista Bernie Taupin, o sucesso estava garantido: do trabalho da dupla, surgiriam alguns dos maiores hits de Elton, como "Daniel", "Goodbye Yellow Brick Road" e "Don't Let the Sun Go Down on Me".
Mas o sucesso meteórico, as inseguranças amorosas de Elton e questões mal resolvidas com os pais atrapalhariam a carreira do cantor: ele se tornaria alcoólatra, cocainômano e viciado em sexo e compras. Mas embora tudo isso seja mostrado no filme, nunca o tratamento é pesada ou sensacionalista. Em "Rocketman", o espírito é de esperança e leveza. A mensagem é de que é sempre possível dar a volta por cima.
"O filme ganhou tanta atenção porque Elton é um fenômeno global, suas músicas iluminam a história das pessoas", teoriza Egerton. "Foi um dos melhores momentos da minha vida, não é uma cinebiografia típica, com tudo na ordem cronológica. Nós usamos certa licença com a realidade", explicou Egerton.
De fato, o filme é um musical sem tanto compromisso com os fatos. As canções de Elton surgem no filme para ilustrar momentos de sua vida, como nos musicais clássicos de Hollywood, quando os atores interrompem a narrativa para cantar trechos musicais. A trajetória do músico é recriada de forma imaginativa, em um mundo setentista e ultracolorido, com as inserções musicais fazendo alusões a aspectos da vida e personalidade extravagante de Elton.
"Os figurinos são inspirados nos de Elton, mas não exatamente iguais aos dele. Não é que não tenhamos feito nosso dever de casa. Tentamos ser autênticos e usar nossa criatividade. O mesmo com a música [com novos arranjos e na voz do próprio Egerton] e minha performance, buscamos ser espiritualmente honestos com o que aconteceu na realidade", disse o ator, que explicou que o próprio Elton sugeriu que o filme tivesse essa liberdade.
Taron Egerton tem uma energia tão grande em cena que, quando no palco, suas performances musicais nada deixam a dever às do próprio Elton John. Faz um excelente trabalho de composição, mas sem querer imitar o músico meticulosamente.
Diferentemente do Freddie Mercury quase assexuado de "Bohemian Rhapsody" (filme que Dexter Fletcher terminou de dirigir, depois que Bryan Singer foi demitido), seu Elton John de "Rocketman" é bastante sexual. Aliás, não apenas beija e faz sexo com homens como também diversas vezes assume claramente que é gay. Aliás, uma das cenas de destaque é a em que o músico, pouco antes de subir ao palco de um grande show, telefona para a mãe para revelar sua sexualidade.
"Não faço comparações entre os dois filmes", disse Egerton, diplomático. "Rami Malek teve uma performance maravilhosa, é um dos mais talentosos atores de nossa geração. Fico feliz de sermos mencionados na mesma frase. As comparações me deixam contente e só espero que abra porta para mais filmes como esses", disse Egerton.
"O filme é uma celebração: quisemos contar uma história de uma pessoa. Elton é um grande ser humano, mas acima de tudo apenas um ser humano", concluiu o ator. "Rocketman" estreia no Brasil no dia 30 de maio.
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