"Game of Thrones" tropeça em ação apressada, mas brilha com intrigas
ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers do quarto episódio da oitava temporada de "Game of Thrones". Não leia se não quiser saber o que acontece.
Pode ser que seja a falta de lastro nos livros de George R.R. Martin, ou o número de episódios reduzidos: o fato é que "Game of Thrones", em suas sétima e oitava temporadas, tem apressado seus acontecimentos a ponto de, volta e meia, jogar pela janela o cuidado com seus roteiros. "The Last of the Starks", que foi ao ar ontem, foi um exemplo claro disso. O episódio oscilou entre as finas intrigas políticas que se tornaram marca registrada da série e momentos anticlimáticos que pareceram jogados apenas para avançar a história - ou pior, causar choque nos espectadores.
O problema foi mais acentuado na sequência que culminou na morte de Rhaegal, um dos dragões de Daenerys. A criatura sobreviveu ao embate com o Rei da Noite, no episódio anterior, para ser atacado repentinamente por Euron Greyjoy enquanto Daenerys e parte de seu exército se dirigiam à Pedra do Dragão. Uma flecha acertou em cheio o peito de Rhaegal, que em seguida foi atingido outra vez, no pescoço.
A cena foi surpreendente, mas gratuita. Não houve uma preparação que fundamentasse o momento, o que deixou várias dúvidas: Daenerys, do alto, não conseguiu enxergar as tropas inimigas? Pedra do Dragão estava totalmente desprotegida? Ninguém pensou em mandar uma equipe para verificar se havia uma emboscada -- o que era esperado, já que se trata de uma guerra?
Foi muito diferente da construção sutil feita pelos showrunners David Benioff e D.B. Weiss para revelar Arya como a assassina do Rei da Noite, no episódio anterior. Goste ou não da decisão, ficou claríssimo que todo o caminho percorrido por ela a levou até aquele ponto - e a série já havia adotado a mesma estratégia com outros momentos surpreendentes, como o Casamento Vermelho.
No fim das contas, a morte de Rhaegal pareceu feita sob medida para cumprir dois propósitos: criar uma cena de impacto e enfraquecer o poderio de Daenerys, acrescentando mais emoção ao iminente conflito contra Cersei. Foi um desserviço ao histórico da série, agravado pelo fato de toda a ação ter ficado restrita aos 30 minutos finais de um episódio de quase 1h20.
Mas sejamos justos: quando se trata de intrigas políticas, "The Last of the Starks" foi um retorno ao que "Game of Thrones" sabe fazer de melhor. "Nós os derrotamos, agora temos de enfrentar a nós mesmos", prenunciou Tyrion, logo nos minutos iniciais do capítulo. A série não demorou a cumprir as palavras do anão, criando uma tensão quase insuportável com o espalhamento gradual revelação sobre a real paternidade de Jon Snow.
Foi o próprio protetor do Norte que deu o pontapé na grande fofoca dos Sete Reinos quando contou a verdade a Sansa e Arya, em uma atitude ingênua e honrosa - do tipo das que custaram a vida de Ned Stark na primeira temporada. O que se seguiu foi uma sequência de tramoias, com diálogos afiados envolvendo Tyrion, Sansa e Varys, os três preocupados, cada um a sua maneira, com um possível governo de Daenerys.
Em um crescendo com uma traição à vista, o episódio terminou em um golpe forte com a morte de Missandei e a presença de Cersei, fortalecida pela atuação expressiva da atriz Lena Headey. Dessa forma, "Game of Thrones" prepara o terreno para aquele que será seu embate mais decisivo e deixa entrever que seu final não será decidido nas trincheiras, mas sim nos corredores dos castelos - uma conclusão mais do que apropriada para a saga épica da HBO.
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