Festivais podem diminuir de tamanho, mas não serão cancelados após corte da Petrobras
A decisão da Petrobras de não renovar o patrocínio de 13 eventos culturais este ano, incluindo festivais de cinema internacionais como a Mostra de São Paulo, o Festival do Rio e o Anima Mundi, não irá inviabilizá-los, mas, segundo seus dirigentes, deve fazê-los diminuir de tamanho no que vem sendo classificado como um duro e injusto golpe ao setor.
Segundo a Folha, a estatal enviou uma lista de projetos cortados como resposta a um requerimento de informação feito pelos deputados federais Áurea Carolina (PSOL-MG) e Ivan Valente (PSOL-SP). No documento, a petroleira informa que seus programas de patrocínio estão em revisão e que, a partir de agora, deve focar em ciência, tecnologia e educação.
Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já havia anunciado no Twitter sua intenção de reduzir drasticamente todos os aportes a eventos culturais no país, levando temor de desmonte a grupos artísticos. Segundo ele, o objetivo é focar os recursos em educação infantil e na manutenção do empregado à Orquestra Petrobras.
A estatal tinha, até 2021, contratos de patrocínio firmados em governos anteriores na ordem de R$ 453 milhões. O UOL conversou com os responsáveis pelos eventos, e, em meio às negociações de novos patrocínios em andamento, apenas o Anima Mundo revelou seu orçamento.
Mostra de São Paulo
Segundo a diretora da Mostra de São Paulo, Renata de Almeida, o festival já tem mais de 200 filmes inscritos e, até julho, a expectativa é que cheguem a 1.500. Não há risco de cancelamento. Parceria havia 20 anos, a Petrobras, que era responsável por 20% do patrocínio, reduziu em 2018 50% de seu aporte, de R$ 1,2 milhão para R$ 750 mil.
O festival deve continuar com os parceiros remanescentes, como a Prefeitura de São Paulo, Spcine, Proac, Sesc, CPFL, Itaú e Sabesp, com possível enxugamento de despesas que não afetem diretamente o público, incluindo passagens aéreas e hospedagens de convidados. A data de realização da edição 2019 ainda não foi confirmada.
"Tanto a Sabesp como o Itaú são recursos provenientes da Lei Rouanet. O que acho até mais assustador é a lei estar parada e ninguém estar propondo nada no lugar. O setor cultural gera trabalho, emprego, imposto, e está sendo tratado de forma antiga, como apenas retirasse algo da sociedade e não contribuísse com nada", entende Renata.
Festival do Rio
Já a direção do Festival do Rio informa estar se movimentando para captar patrocínio e que a ideia é manter a estrutura. Os organizadores ainda não divulgaram data para a próxima edição. "Lamentamos o corte, depois de 20 anos e tanto investimento. Já temos o apoio garantido da TV Globo e estamos focando em negociações que não podemos revelar", afirma a diretora de comunicação Vilma Lustosa,
"É quase inacreditável, porque ajudamos a consolidar a marca da Petrobras. Está tudo sendo jogado no lixo. Não estão vendo a importância da cultura para a economia do Brasil e do Rio, exatamente no momento em que a cidade agoniza. A responsabilidade não pode ser tirada das empresas. Não estávamos criando um déficit para a Petrobras. Muito pelo contrário."
Anima Mundi
Segundo Cesar Coelho, diretor do Anima Mundi, o festival, agendado entre os dias 17 de julho e 21 de julho, terá cortes na programação. Até 2018, o patrocínio da Petrobras, representava cerca de 35% da cota do festival, que acontece no Rio e São Paulo com orçamento médio de R$ 3,5 milhões. A parceria começou há 22 anos.
O festival encerrou inscrições em março com cerca 1.800 filmes e agora corre contra o tempo. "Ainda temos a Spcine e o CCBB, mas os aportes ainda estão muito aquém do que a gente precisa. Nosso principal problema é conseguir patrocínio faltando tão pouco tempo. Vamos fazer, de qualquer forma, partindo da estrutura básica", afirma.
"Esse corte acontece justo no momento em que a animação brasileira vive seu melhor momento, com o maior reconhecimento. Foi graças e ela que conseguimos desenvolver nosso trabalho, e nós também somos responsáveis por ela chegar onde chegou. Vamos adotar a estratégia da sobrevivência como sempre fizemos desde 1993."
Prêmio da Música Brasileira
Segundo José Maurício Machline, diretor do Prêmio da Música Brasileira, não há possibilidade de cancelamento do evento, mesmo com a Petrobras sendo responsável por 100% do patrocínio. Machline diz ter recibo a notícia há um mês e meio e que está trabalhando na prospecção de parceiros para a edição que celebrará 30 anos de prêmio.
"O prêmio já está pronto e julgado, falta só o patrocínio para acontecer. Não é a primeira vez que perdemos patrocinador e não sabemos ainda qual será o impacto", diz ele. "Antes das mudanças de direção na Petrobras, já havíamos acertado a renovação do contrato por mais três anos. Agora tudo mudou. Estamos 'pendurados no relógio' até saber o caminho que vamos tomar."
Festival de Teatro de Curitiba
Outro dos eventos listados, o Festival de Teatro de Curitiba não será afetado pelo corte da Petrobras, que já havia deixado o maior encontro de artes cênicas da América Latina há dois anos. A última edição teve 74 patrocinadores.
"Já não contamos com o patrocínio da Petrobras nem na edição 2018 e nem na 2019 do Festival de Teatro de Curitiba. Para essa última edição, de 2019, chegamos até a fase de contrato, mas recebemos um e-mail dizendo que eles não continuariam", afirmou Knopfholz ao Blog do Arcanjo no UOL.
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