Sem patrocínio da Petrobras, diretores e produtores temem desmonte do cinema
Resumo da notícia
- Bolsonaro quer focar recursos, entre outros, em educação infantil
- Petrobras tem contratos de patrocínio até 2021 que somam R$ R$ 453 milhões
- Diretora vê "dano muito grande" ao Festival de Cinema do Rio
- Petrobras foi procurada para se pronunciar, mas não respondeu
O tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre a revisão de "todos os patrocínios da Petrobras" causou surpresa e preocupação entre diretores, produtores e organizadores de festivais de cinema. Segundo o presidente, o objetivo é focar os recursos em educação infantil e na manutenção do empregado à Orquestra Petrobras.
Caso os patrocínios culturais não sejam renovados, grupos culturais importantes do país correm o risco de ficar sem suas principais fontes de renda. Ao todo, até 2021, a Petrobras tem contratos de patrocínio firmados em governos anteriores que somam R$ 453 milhões.
No que diz respeito ao cinema, um dos maiores prejudicados com o corte seria o Festival de Cinema do Rio, que recebeu da Petrobras no ano passado R$ 750 mil. Este valor foi apenas a metade do que eles receberam em 2017, já afetados por cortes do último governo.
A diretora de comunicação e marketing do Festival de Cinema do Rio, Vilma Lustosa, disse ao UOL que está em conversa com a Petrobras e que ainda não foi informada de qualquer corte. "Se a Petrobras deixar de patrocinar o festival, será um dano muito grande. Não sei o que vai acontecer [com relação ao patrocínio], mas vamos, sim, realizar o festival este ano", afirmou.
Vilma disse que está trabalhando para levantar o patrocínio. "O Festival do Rio tem uma história relevante para o país. Tenho certeza de que o governo não vai querer interrompê-la. O segmento do audiovisual é pujante no país", disse. "Não quero nem trabalhar com a hipótese de cortes. Antes de comentar qualquer coisa, preciso que eles digam algo para a gente".
Aliada do cinema brasileiro
A cineasta Laís Bodanzky, que teve quatro filmes patrocinados pela Petrobras, inclusive o premiado "Bicho de Sete Cabeças", lamenta os cortes e antevê um provável desmonte do cinema nacional. "A Petrobras se firmou como uma empresa que entende a importância da cultura e do cinema brasileiro. Tudo que é interrompido fica muito mais complexo para ser recomeçado. Ainda mais em uma decisão tomada unilateralmente, sem diálogo", disse.
Laís afirma que a indústria está aberta para conversar com o governo e apresentar números que comprovam a importância da cultura para a economia do país. "Nos Estados Unidos, a indústria cinematográfica é tão grande quanto a indústria bélica", afirmou.
Para ela, a maior preocupação agora é com a Ancine (Agência Nacional do Cinema). "É ela que está gerindo a política cinematográfica. Se acabarem com ela, aí vamos retroceder aos anos 1990. A criação da Ancine foi feita justamente para evitar que mudanças de governo modificassem também as políticas culturais no cinema. Ela foi criada para dar continuidade a um trabalho. Não dá para jogar tudo fora e recomeçar".
O cineasta Kleber Mendonça Filho, de "Aquarius" e "O Som Ao Redor", tem opinião semelhante à de Laís. "Me pergunto se cortar apoio à Cultura via Petrobras é uma ideia que foi discutida e pensada. Ou se o novo governo entende que um país rico como o Brasil deve apoiar a sua cultura, e que ela mobiliza uma rede ampla de profissionais em todo o país, como qualquer outra área de trabalho na sociedade. Projetos têm impactos na sociedade, na educação e na cidadania", disse. "A decisão parece ter sido fruto de um erro transformado em ação".
A preocupação é compartilhada por Paulo Henrique da Silva, presidente da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). "A Petrobras foi importante aliada para a reestruturação do cinema brasileiro após a extinção, em 1989, da Embrafilme", disse.
"É preciso saber qual o entendimento de cultura para o governo e se, com a perda de investimento da Petrobras, haverá modelos de incentivo capazes de substituir o relevante papel que a estatal vinha exercendo no estímulo à produção nacional, que, em pouco mais de 20 anos, se transformou num elemento fundamental dentro da indústria da economia criativa, gerando milhares de empregos", completou.
Artistas são inimigos?
A atriz e cineasta Karine Teles enxerga nesses cortes uma tentativa de demonizar o artista e tentar calar os profissionais. "Me parece que está rolando um movimento para tentar coibir o artista. A cultura é indissociável da educação. Do contrário, a gente vira uma máquina, e não um ser humano", disse.
O cineasta Aly Muritiba, de "Para a Minha Amada Morta", também enxerga perseguição no corte dos patrocínios. "Me parece uma jogada populista para, de alguma maneira, penalizar a categoria artística", afirmou. "Meu receio é de que a Petrobras seja apenas o começo de um projeto de aparelhamento do governo. Acredito, no entanto, que mexer com o setor do cinema sob o argumento econômico, não vai colar".
Procurada pela reportagem, a Petrobras se manifestou por meio de nota:
"A Petrobras está revisando sua política de patrocínios, em alinhamento ao novo posicionamento de marca da empresa, com foco em ciência e tecnologia e educação, principalmente infantil. Os contratos atualmente em vigor estão com seus desembolsos em dia."
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