"The Dirt": Filme do Mötley Crüe acerta onde "Bohemian Rhapsody" patinou
Quando o glam rock ainda era "tudo mato", o Mötley Crüe surgiu para misturar peso e melodia, couro e maquiagens, e se tornar uma das bandas mais famosas e polêmicas do estilo. Além de hits e turnês, essa história também se transformou na biografia "The Dirt: Confessions of the World's Most Notorious Rock Band", que virou o filme "The Dirt", disponível na Netflix. Em um ano em que outra cinebiografia roqueira foi indicada ao Oscar, é impossível não comparar o registro Mötley Crüe com "Bohemian Rhapsody", do Queen.
E o que pode se dizer de cara sobre "The Dirt" é que é um mergulho muito mais profundo no sexo, drogas e rock n' roll do que "Bohemian Rhapsody". A história do Mötley Crüe é contada de um modo que acerta em detalhes o quesito em que o filme sobre o Queen patinou. O longa dialoga com a verdade com mais franqueza e abertura do que é tratada a trajetória de Freddie Mercury e companhia.
O Mötley Crüe nunca foi do tipo de banda que esconde seu lado obscuro. Pelo contrário, fez disso um marketing, e assim é no filme da Netflix. Não à toa, ele teve os quatro integrantes - Nikki Sixx (baixo, interpretado por Douglas Booth), Vince Neil (voz, interpretado por Daniel Webber), Tommy Lee (bateria, interpretado pelo rapper Machine Gun Kelly) e Mick Mars (guitarra, interpretado por Iwan Rheon, de "Game of Thrones") - assinando como coprodutores.
Se isso poderia fazer parecer que "The Dirt" apenas puxaria a sardinha para o quarteto, essa impressão acaba sendo posta de lado com o desenrolar do enredo. A primeira metade do filme parece fazer apologia à vida de loucuras do grupo, com um exagero típico de uma banda de rock farofa, mas a parte final traz as duras consequências de uma jornada tão inconsequente.
Integrantes e narradores
Os quatro integrantes do Mötley Crüe são mostrados com detalhes marcantes de cada personalidade: Neil é o viciado em sexo, Tommy Lee um mimado pela família e doido por drogas e mulheres, Sixx é o jovem viciado que largou de casa e ainda tem problemas com isso e Mars é o esquisito, mais isolado por sua personalidade e uma doença degenerativa.
É nessa diferenciação marcante de cada um que entra o modo curioso como o roteiro se desenvolve. Os quatro se revezam como narradores, contando a história da banda por seus pontos de vista. Mais que isso, por vezes eles falam com o público e até admitem que a história vista no filme é um pouco diferente da realidade, por motivos artísticos.
"Bohemian Rhapsody" tem seu lado engraçado, mas se leva mais a sério e acabou sendo criticado por conta das adaptações que fez em relação aos fatos reais, gerando ruído com os fãs, e até pela forma como retrata a bissexualidade de Freddie Mercury.
É claro que falta a "The Dirt" um personagem como o vocalista do Queen, mas o Mötley Crüe deixa os espectadores com um pensamento fixo: "não é possível que isso aconteceu!".
Três cenas inacreditáveis - e que aconteceram
A sensação citada acima não acontece poucas vezes no filme e envolve até outros personagens marcantes da década de 1980 no hard rock e no metal, como Ozzy Osbourne - que rouba a cena interpretando o "Madman".
- Treta no primeiro show?
No filme, o primeiro show do "Mötley Crüe" mal começa e já estoura uma briga entre integrantes da banda e o público. Parece surreal demais, mas Vince Neil garante que foi assim que aconteceu. "Um metaleiro com uma camiseta do AC/DC cuspiu na minha calça branca. Sem pensar, eu desci do palco para brigar". E essa atitude os fez ganhar o público.
- A cena inicial com Tommy Lee
Logo na abertura - quase que para afastar os mais incautos - Tommy Lee faz uma namorada chegar ao orgasmo, com direito a "squirting" (chamado também de ejaculação feminina). Conta a biografia que originou o roteiro que sim, Tommy Lee, teve uma namorada de longa data que tinha esta, digamos, habilidade.
- Ozzy cheirou formigas?
O ator Tony Cavalero rouba a cena em "The Dirt" com sua versão de Ozzy Osbourne, a ponto de muita gente já pedir por uma cinebiografia do vocalista. O filme retrata a amizade entre Mötley Crüe e Ozzy em uma cena à beira de uma piscina de hotel. Doidão, Ozzy cheira uma fileira de formigas, faz xixi no chão e o lambe. O livro também descreve essa cena escatológica - apesar de Ozzy ter se pronunciado nesta semana de que não se lembra do ocorrido.
Consequências
O dinheiro e a fama, mostrados com riqueza de detalhes no filme, parecem dizer que o jeito inconsequente da banda compensava. Mas, ao final, não é bem o que se vê. Cada personagem sofre com os frutos que colheu - além de outros dramas pessoais.
Nikki Sixx quase perdeu a vida por conta das drogas, Mick Mars teve de operar e substituir os quadris por conta de sua doença degenerativa e Tommy Lee se dá mal por conta de seus relacionamentos - o conturbado casamento com Pamela Anderson, que rendeu uma famosa sextape, por sinal, não aparece na trama.
Já Vince Neil é quem tem a maior carga dramática. Em um acidente, ele viu morrer o amigo Razzle (que era baterista do Hanoi Rocks) e chegou a ser preso por dirigir embriagado na época. Em outro momento, tocante, ele perde a filha por conta de um câncer, além de acabar demitido da banda, para voltar anos depois.
Até o fato de a carreira musical ter declinado acaba transparecendo ao fim de "The Dirt", com um enfoque na amizade dos quatro integrantes da banda e pouco sobre o lado musical, que deu poucos destaque para o Mötley Crüe em seus anos finais. A banda chegou a gravar quatro canções inéditas para esta trilha sonora - entre elas o cover de "Like a Virgin", de Madonna -, mesmo tendo anunciado aposentadoria em 2015, com uma turnê de despedida. Como se vê, até depois de dizer adeus o Mötley Crüe se recusa a deixar os holofotes.
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