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Baco Exu do Blues fala sobre depressão entre os negros: "Já pensei em me matar"

Reprodução de TV
Imagem: Reprodução de TV

Jonathan Pereira

Colaboração para o UOL

26/03/2019 07h45

Baco Exu do Blues falou o que pensa sobre racismo e inclusão para Lázaro Ramos na nova temporada do programa "Espelho", do Canal Brasil. O rapper baiano, de 22 anos, também abriu o coração sobre depressão.

"Eu descobri minha voz artística quando vi que não me enquadrava em lugar nenhum e que estava preso em uma caixinha: de eu me enquadrar em um lugar que as pessoas esperam que eu faça certas coisas e tenha vergonha de não fazer certas coisas. Quando vi 'você tem que fazer isso, aquilo, porque você é preto', me incomodou bastante. A que ponto isso é saudável, é bom?", questiona.

"Você está metido em uma sociedade que vê o preto como violento. Tenho que ser violento nas minhas letras; se eu deixo de ser, não estou fazendo mais música para preto, é o que vão falar para mim. Estou tentando lutar pela minha voz, as pessoas não entendem ainda o que eu quero falar. Elas não me veem no direito de falar de amor, da minha vida normal", continua.

Além da cor, Baco precisou quebrar outras barreiras para ser ouvido. "[A música] 'Sulicídio' foi a forma que achei de abrir porta, estava cansado de ver pessoas que fazem rap dentro do Nordeste tentando invadir uma cena fechada, gerações sendo excluídas. Estava focado em ser agressivo o máximo possível para chocar as pessoas e verem que eu existo".

Tudo isso acaba gerando um impasse. "Eu preciso ser agressivo para ser notado, mas ser agressivo é o que esperam que eu seja. Automaticamente, entro em um estereótipo. Até quando vou ter que entrar no estereótipo para conseguir alguma coisa?", pergunta.

Depressão

Ele toca em um assunto também pouco discutido: a depressão que o preconceito causa. "Não tinha coragem nem força para falar sobre o assunto. achava que ia ser ridicularizado: 'a gente sem grana, você está arranjando grana e procurando problema para sua vida?', diriam. Eu tinha toda uma equipe dependendo de mim, não posso mostrar que sou fraco".

Tirar a própria vida já passou por sua cabeça, como ele cita em algumas de suas letras, inclusive no disco mais recente, "Bluesman". "Já pensei em me matar tantas vezes por conta disso. Toda criança preta sofre muito quando criança, independente da classe social. Acredito que todos nós negros temos tendências depressivas, e isso não é discutido. A gente não vê como problema real, mas [a depressão] precisa ser combatida".

Família e escola

Filho de pai negro e mãe branca, Baco fala também de racismo dentro de casa. "Quando meu pai morreu, fui morar com minha mãe. Eu me vi num lugar que só tinha branco e comecei a entender que dentro da própria família existe racismo. É uma parada que me machucou muito. Por mais que a pessoa não tivesse a intenção, ela foi projetada a vida toda para me ferir", desabafa.

Os estudos não foram concluídos. "Na escola também foi muito duro esse processo, eu me neguei completamente a estar naquele espaço pois não era visto nem querido. Não aconselho ninguém a fazer isso, mas larguei [a escola] na sexta série para tentar viver de música, encontrar a vida, o conhecimento".