"Nunca gostei de ouvir homem cantando", diz Milton Nascimento no Altas Horas

Milton Nascimento disse ontem, durante a gravação do programa "Altas Horas" especial em sua homenagem, que Ray Charles foi o responsável por fazê-lo cantar.

"Nunca gostei de ouvir homem cantando. Só mulher. Mudei de ideia quando ouvi Ray Charles", disse. "Quando eu era criança e minha voz começou a engrossar, fui chorar para a minha mãe porque eu não queria cantar igual homem. Só com Ray Charles eu soube que homem poderia cantar".

O programa será exibido neste sábado e Serginho Groisman não poupou esforços nas homenagens a Milton Nascimento. Além de Milton, participaram também Gal Costa, Ney Matogrosso, Samuel Rosa, Lô Borges, Maria Gadú, Criolo, Padre Fábio de Melo, Anavitória, Ceú e Chitãozinho & Xororó.

"Programas especiais com homenagens como essas serão frequentes aqui no 'Altas Horas'", disse Serginho ao UOL antes da gravação. A edição abriu mão dos tradicionais quadros e também das perguntas do público para fazer um programa com 12 músicas interpretadas pelos convidados, intercaladas por histórias dos convidados sobre cantor.

Aos 76 anos, Milton Nascimento entrou auxiliado e caminhando com dificuldade no estúdio. Ele ficou a apresentação inteira sentado em uma cadeira ouvindo com atenção aos convidados. Um dos momentos mais emocionantes foi uma homenagem feita por Criolo que levou Milton Nascimento às lágrimas. "Quando você tenta descrever o sol, é no Milton Nascimento que você pensa", afirmou Criolo.

O programa foi aberto por Padre Fábio de Melo, que interpretou "Canção da América". Na sequência, o padre fez graça para a cantora Céu. "Eu só canto se for para o céu", disse. "A música mineira é uma mistura de sagrado e profano. A arte só é verdadeira quando nos eleva. Ouvir Milton é como entrar em uma catedral. Você se sente elevado. Milton é uma epifania", afirmou.

Gal Costa também se emocionou. A cantora, que errou a música e precisou repetir a sua interpretação, deu vários selinhos em Milton. "Vem cá me dá um beijo", ela disse no palco. Ao relembrar da parceria com Milton, ela se lembrou que o cantor sempre preferiu Elis Regina. "Eu fiquei mais velha e melhorei. No passado, ele gostava mais da Elis Regina, mas ela foi embora muito cedo. Hoje ele é meu amigo".

A dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó cantou "Travessia". Xororó afirmou que a música tem uma levada caipira, quase uma moda de viola. "Milton tem essa qualidade, de compor músicas sofisticadas e muito populares", disse. No palco, o público gritou para que a dupla cantasse o "hino", a música "Evidências". Chitãozinho ficou sem graça e tentou desconversar, mas Serginho pediu para eles cantarem e que depois cortaria a música na edição final.

A melhor interpretação do programa ficou por conta de Ney Matogrosso, que cantou "Coração Civil", lançada na época da ditadura militar e que tem nos versos "Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?". Ney afirmou que a música entrou no repertório de seu novo show e está mais atual do que nunca. Samuel Rosa brincou e perguntou se Milton tinha escrito essa canção na semana passada.

Lô Borges, amigo de Milton da época do Clube da Esquina, destacou o incentivo que ele recebeu do cantor no início da sua carreira. "Eu não era ninguém e Milton fez questão de gravar comigo e botar meu nome no disco", afirmou.

Ao final, as três Marias: Maria Gadú, Maria do Céu e Maria das Graças (Gal Costa) cantaram "Maria, Maria". "Todas as mulheres são Marias", disse Gal antes de cantarem a música.