Com R$ 250 no bolso, Cynthia Luz iniciou carreira em ascensão no rap nacional
Resumo da notícia
- Aos 25, rapper tem 2,4 milhões de ouvintes no Spotify
- Filha de pastores, se afastou do gospel e mirou no rap
- Mudou para SP com R$ 250 no bolso
- Para álbum de estreia, escreveu 65 músicas
Os números de Cynthia Luz são pra lá de seguros: são 25 milhões de views no YouTube e 2,4 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Fora que a rapper é seguida de perto por 900 mil fãs no Instagram e seus posts atingem a marca das dezenas de milhares de likes com certa facilidade. No entanto, certa de que queria fazer música, Cynthia teve que convencer a si mesma de que tinha o que precisava para seguir sua carreira artística, apostando todas suas fichas no incerto. "E a galera fala: 'Ah, foi muito rápido, muito fácil'. Eu só dou uma risada. Nem faço questão de contestar. A gente carrega um rótulo. Essa foi uma missão que me foi dada", disse ao UOL, por telefone.
Cynthia Luz nasceu em Itajubá, Minas Gerais, mas se mudou ainda criança para São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde dividiu sua adolescência posteriormente com São José do Rio Preto. Filha de pastores, a música fez parte de sua rotina desde a infância. "Eu cresci envolvida no louvor da igreja e com os músicos. Me identificava muito. Meu pai toca e eu meio que fui indo junto com ele nessa vibe dos instrumentos e de tocar".
A brincadeira com a música começou por volta dos cinco anos de idade. Aos nove, começou a cantar no coral da igreja. Enquanto olhava atentamente os acordes do pai ao violão, Cynthia começou a aprender a tocar o suficiente para escrever suas próprias músicas. Mas a música gospel não lhe atraía. "Quando eu fiquei mais velha, mais adolescente, eu não gostava mais de cantar na igreja. Eu achava que precisava fazer outras coisas. Não era dessa forma que queria cantar", explicou.
Meu pai não me deixava ouvir outras coisas que não fossem da igreja.
"E aí comecei a compor. Eu sempre gostei de escrever poesias, textos e histórias. Meus amigos olhavam pra mim e falavam 'que música boa'. E eu ficava pensando: será que é boa mesmo?". A aprovação dos amigos deu aquele empurrão necessário para dar um pontapé em uma carreira. O primeiro desafio era enfrentar o circuito da noite, quase um rito de passagem para os músicos que começam suas vidas artísticas nos barzinhos.
Entre levar o violão para tocar com os amigos na escola, Cynthia se arriscou nos palcos da noite. Mostrou suas músicas nos bares e criou eventos onde pudesse tocar. "Comecei a sentir muita vontade de fazer isso de verdade. E por que não posso tentar?".
Na noite, seu contato com a música se aprofundou na música brasileira com Caetano Veloso, Elis Regina [que cita diversas vezes ao longo da entrevista], Charlie Brown Jr. e Rael. A troca da música gospel pela vida noturna, obviamente, não foi vista com bons olhos inicialmente.
"Eu não tinha apoio. A minha família me ama muito, mas nesse quesito eu fui muito sozinha. Meu pai tinha medo de eu tocar na noite. Eu sou a filha mais nova de um casal de pastores. Foi assustador pro meu pai".
"Sempre meti a cara"
"Eu nunca tive vergonha. Nunca fui tímida. Eu sempre meti a cara. Ficava lá com meu violão e ficava tocando a noite inteira no bar. Ganhava, sei lá, R$ 50". Quando as coisas começaram a tomar forma, Cynthia Luz entrou no modo "faça você mesmo".
"Queria cantar e não tinha palco. Sou capricorniana e sou muito de trabalhar. Quando não estava compondo, estava fazendo contato em estúdio, colocando meu celular no timer pra fazer foto pra flyer...Eu me virava". E foi nessa de "meter a cara" que decidiu sair do interior do estado e se arriscar em São Paulo.
"Comecei a tomar coragem e comecei a fazer contatos. Eu tinha R$ 250 na carteira. Vou achar um emprego, junto uma grana, encontro um estúdio e gravo".
Aos 21 anos, se mudou para a capital paulista e foi morar em uma república com mais cinco pessoas, com quem arrumou emprego em uma loja de roupas. "Enquanto não estava trabalhando no shopping, estava fazendo contatos. Enviava mensagens para rappers e mandava músicas".
E aí o Froid viu
A ascensão desta nova geração do rap tem vários responsáveis, incluindo Froid, que apareceu "do nada" e chegou a assustar Cynthia Luz.
"Um dia eu botei um vídeo e o Froid viu. Me chamou no Instagram, disse que tinha um projeto e que minha voz era uma parada que ele tava procurando. E eu fiquei assim. Como esse cara aparece do nada e fala da minha voz. Passou um mês e nós gravamos. Nós nos conectamos profissionalmente de uma forma muito forte".
Aquela vitrine nos shows do rapper alavancaram definitivamente sua carreira. De cantora de apoio, passou a dividir os shows com Froid e logo marcou sua própria turnê e o sonho de fazer o primeiro álbum.
"Você não tem ideia"
O processo de concepção de "Do Caos ao Nirvana" durou quatro meses. Toda aquela ansiedade da rapper pelo palco e estúdio finalmente puderam ser exacerbadas na frente do microfone. Tanto que a cantora chegou a escrever 65 músicas para seu primeiro registro, que foi finalizado com 10 faixas.
Eu ficava 14 horas dentro do estúdio. A gravadora estava se erguendo e eu meio que era a única artista que eles tinham pra trabalhar. Eles colocavam um beat e eu começava a escrever no celular.
O resultado deste primeiro trabalho lhe rendeu os frutos que vemos atualmente naqueles números gigantes que abrem este texto. Somam-se a eles os 170 shows que fez em 2018. O primeiro deles foi justamente em seu aniversário, no dia 12 de janeiro.
"A primeira casa que a gente fechou se esgotou. Ficaram 300 pessoas pra fora. E era meu aniversário. Foi absurdo o que acontece de proximidade com o público. As pessoas me abraçaram".
O espanto dos números da rapper também pegaram nas plataformas digitais, que entraram em contato com ela para entender um fenômeno musical tão orgânico.
"Eles devem ter ficado pensando: 'A mina não põe R$ 1 de patrocínio e o bagulho fica girando igual relógio de água'".
Novo disco e nome secreto
No dia 22 de fevereiro, Cynthia Luz lançará seu segundo álbum. A voz da rapper ao telefone se enche de satisfação ao falar do lançamento.
"Ralei a cara no chão, passei humilhação em casa de show, passei dificuldade. Hoje vivo a plenitude no trabalho". O nome do álbum, porém, é motivo de segredo da cantora, que só quer anunciar na data de lançamento. "Eu sou louca e tô com essas coisas na cabeça. Vou fazer da forma que minha intuição tá falando aqui".
Desde os primeiros acordes desengonçados no violão ou no primeiro show esgotado da carreira, Cynthia fala orgulhosa do que conquistou aos 25 anos de idade.
"Estou vivendo minha vida profissional de uma forma plena. Sei tudo o que acontece. Eu tenho uma empresa. Hoje eu sou uma empresa. Administro tudo com a minha equipe de dez pessoas. A coisa mais legal foi ter o contato mais próximo possível com meu trabalho. Estamos aqui porque a gente tem que estar".
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