Mãe de Cazuza protesta contra ministro por fala falsa atribuída ao filho
Uma entrevista do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, em que ele cita uma frase que atribui a Cazuza, acabou gerando uma resposta da mãe do cantor, Lucinha Araújo. Em uma carta aberta, divulgada na segunda-feira (4), ela explica que as palavras de Vélez Rodríguez à revista "Veja" são falsas e pede retratação.
O ministro afirmou que Cazuza "pregava que liberdade é passar a mão no guarda". Lucinha, na carta, nega que Cazuza, que morreu em 1990, seja autor da frase.
Leia a pergunta e a resposta da "Veja" e do ministro:
Veja - A liberdade de cátedra inclui ensinar marxismo, fascismo e liberalismo, ou o senhor discorda?
Ricardo Vélez Rodríguez: - Liberdade não é fazer o que você deseja. Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró. Nossas crianças e adolescentes devem ser formados na educação para a cidadania, que ensina como agir de acordo com a lei e com a moral.
Lucinha criticou o Vélez Rodríguez por "faltar com a verdade".
"Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade", escreveu ela na carta.
O caso gerou repercussão na internet, e o ministro foi criticado por Fernando Haddad, candidato à presidência pelo PT na última eleição e ministro da Educação no governo Lula: "Ignorância: ministro da Educação de Bolsonaro atribui a Cazuza frase que ele nunca disse e Lucinha Araújo, mãe do compositor, pede respeito à sua memória."
Confira a nota completa de Lucinha Araújo:
"Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade.
Não venho a público para discussão política, nesse momento, por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios pelos quais trabalho à frente da Viva Cazuza há 28 anos.
Cazuza foi um artista que deixou um legado através de sua obra, e isso não é a mãe do artista quem está dizendo, mas sim pela importância de sua obra, do número de novos artistas que a regravam, do quanto é tocado nos rádios, do quanto é baixado nos streamings, mesmo depois de 28 anos longe de nós. Se achar que é pouco, gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos.
Posso vislumbrar que não seja prioridade do atual governo programas sociais que visem a igualdade de direitos, respeito as minorias, educação e saneamento básico como prioridades, mas respeito a democracia que elegeu o atual presidente e que lhe nomeou. Mas, não posso deixar que declarações levianas coloquem na boca de Cazuza o que ele nunca disse. Gostaria de deixar aberta a possibilidade de se retratar publicamente para que não seja necessário ter que tomar providências jurídicas.
Atenciosamente,
Lucinha Araújo"
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