Globo de Ouro deixa acidez de lado e mira no "humor família"
"Esse prêmio não vale nada. É um pedaço de metal que um jornalista velho e confuso quis entregar para tirar uma selfie com você", disse o Ricky Gervais na abertura do Globo de Ouro em 2016, a última das quatro vezes em que foi apresentador da cerimônia. Diferente do tom glamouroso do Oscar, o Globo de Ouro sempre soube rir de si mesmo. Mas não foi assim em 2019, cuja 76ª edição do prêmio foi apresentada por Andy Samberg e Sandra Oh na noite deste domingo (6), nos Estados Unidos.
Por muitas vezes, o humor ácido de seus anfitriões respingava nos próprios homenageados e polêmicas. Essa tensão no ar se tornou marca registrada da cerimônia. Com o britânico sendo responsável por dar um tom que sempre causou polêmica, a medida sempre se repetiu, tanto com as brilhantes Tina Fey e Amy Poehler, quanto com Seth Meyers e Jimmy Fallon.
O anúncio de Andy Samberg -- cria do "SNL" assim como Meyers e Fallon -- e a atriz Sandra Oh como apresentadores imediatamente causou certo estranhamento. E o receio de que o grau do humor ácido do Globo de Ouro não se repetiria em 2019 só cresceu quando eles mesmos deixaram claro que esta seria uma edição pronta para se esquivar de um viés político. "A função de um apresentador é estar lá para apoiar os indicados e aqueles que queiram usar o espaço para falar o que bem entenderem", disse Sandra Oh na entrevista.
Mas não foi sempre assim.
Em questão de polêmicas, Ricky Gervais sempre esteve na liderança desta disputa. O criador de "The Office" perguntou para Johnny Depp ainda no palco se ele estava sob influência de drogas. O próprio britânico impediu a resposta e disse: "Nós sabemos a resposta". Com Mel Gibson, em um ano brincou com o alcoolismo do ator. No seguinte, questionou seu posicionamento religioso. Posteriormente, disse que havia sido proibido pela premiação de falar o nome do ator. É claro que não adiantou e novas piadas surgiram.
Se a sintonia entre Andy Samberg e Sandra Oh é questionável -- ambos estavam grudados no roteiro lido nos teleprompters -- isto não pode ser dito das cerimônias ancoradas por Tina Fey e Amy Poehler. Atrás apenas do humorista britânico que apresentou quatro cerimônias, a dupla comandou a festa três vezes. O mesmo humor ácido se fez presente em todas as ocasiões.
Tina e Amy não demonstraram constrangimento algum ao imitar Bill Cosby justamente no período em que o humorista foi alvo de diversas acusações de abuso sexual. "Eu coloquei as pílulas nas pessoas e elas não queriam as pílulas", imitaram as duas comediantes reproduzindo os trejeitos de Cosby.
Até Jimmy Fallon, que pode ser considerado o mais politicamente correto deste time, entrou na dança em seu monólogo de abertura com várias piadas atacando Donald Trump, que na época havia assumido como presidente dos Estados Unidos.
"Humor família"
Todos os sinais indicavam uma mudança de direção no Globo de Ouro. E elas se confirmaram. O próprio monólogo fez piada com essa ruptura.
"Sabemos o que estão pensando. Andy Samberg e Sandra Oh? As duas pessoas mais legais da indústria? Isso vai dar sono", afirmou Andy. E de fato a recepção foi mais ou menos por aí. A maior parte das piadas -- todas rigorosamente lidas nos monitores -- no máximo levantaram um sorriso de canto de boca. Pode ser de dizer que a esquete da mudança de Jim Carrey de lugar na plateia pode ter salvado a premiação por alguns segundos, mas a intenção desta mudança de direção ficou evidente.
Parte do público do Globo de Ouro se habituou ao ver na cerimônia um tipo de abordagem diferente do Oscar, Emmy e outras premiações. Os protocolos, luxo e pompa eram deixados de lado por alguns segundos. Um roteiro bem amarrado, piadas incisivas e coragem para tocar em assuntos delicados conseguiam arrancar gargalhadas inimagináveis nas edições anteriores.
Em um ano onde a Cientologia tomava conta dos noticiários com grandes nomes de Hollywood envolvidos, Ricky Gervais fez questão de levantar o tópico e fazer um ataque que dividiu a plateia em risos e receio. "Meus advogados me ajudaram a escrever essa piada. É verdade", completou, orgulhoso após desfilar em um campo minado e sair vitorioso ao tocar em um tópico tão difícil na indústria cinematográfica.
No lugar disso, apenas vimos Sandra Oh defendendo a indicação de "Pantera Negra" com uma piada infantil. "As pessoas querem mais filmes com pessoas montadas em rinocerontes. Tenho dito isso há anos".
Uma pena.
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