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Threatin, uma banda acusada de forjar popularidade e fazer turnê para ninguém

Jered Threatin, da banda Threatin - Reprodução
Jered Threatin, da banda Threatin Imagem: Reprodução

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

14/11/2018 04h00

"O mundo raramente vê tanto talento em uma só pessoa". É assim que Jered Threatin se descreve no perfil de sua banda no YouTube, a Threatin. E foi assim que o norte-americano de Los Angeles se vendeu para promotores europeus e conseguiu agendar uma turnê por lá. O problema é que ninguém apareceu.

O Threatin ganhou espaço no noticiário estrangeiro desta semana com sua "fake band". Tudo o que envolve a banda de hard rock e metal, que até existe de verdade, soa estranho.

Um videoclipe denota sucesso: 1 milhão de pessoas assistiram a "Living is Dying" no YouTube, publicado há um ano. Mas o número de curtidas do vídeo, agora escondido, aparentava se tratar de uma compra de visualizações, até em comparação aos outros vídeos do perfil.

Era assim, com números inflados, todas as páginas da banda nas redes sociais. Até a gravadora, Superlative Music Recordings, que o Threatin citava, não existe mais, apesar de ter funcionado no século passado.

Segundo o jornal britânico "The Guardian", o Threatin parecia uma banda legítima, e dizia que havia feito uma turnê de sucesso nos Estados Unidos. Mas como provas disso só havia a palavra de Jered e seus vídeos. 

O fato é que a turnê europeia foi marcada, ganhou um vídeo promocional bastante tosco --e com imagens de público de grandes festivais, claramente não relacionadas a shows do grupo-- e a promessa era de encher as casas na Europa.

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Segundo os promotores, Jered chegava a dizer que tinha vendido entre 150 e 200 ingressos para os shows. Enquanto isso, as casas não tinham comercializado entradas, mas se organizavam para uma noite com bastante público. No dia do show, não aparecia ninguém.

A casa The Underworld chegou a cobrar publicamente Jered e a banda, em seu Facebook. "O que aconteceu com os 291 ingressos vendidos adiantados que seu empresário falou? Três pessoas apareceram".

A banda Sasori, que abriria um show da banda, postou críticas em seu Facebook e ironizou a promessa de que teriam a honra de participar de um evento com ingressos esgotados. "O Exchange, em Bristol, estava com sua equipe completa, com dois seguranças na porta, para uma noite que devia ser lotada. Eles apenas desperdiçaram dinheiro e tempo que poderiam ser gastos com artistas genuínos. Essas pessoas merecem ser desmascaradas e mostradas pelo que são. Ou não são".

Com as notícias se espalhando, a turnê do Threatin minguou. Ainda mais. O show de domingo, em Belfast, foi cancelado. Duas bandas locais se apresentaram, mas nada do Threatin. Surgiram notícias de que o guitarrista e o baterista deixaram o grupo, e ainda foi exposto que Jered estava pagando pelo uso das casas de show em adiantado, para garantir que, mesmo que não houvesse público, eles poderiam se apresentar.

Agora, nem isso está acontecendo. Alguns vídeos oficiais da banda foram apagados, houve restrições em alguns dados nas páginas da banda, como, por exemplo, o número de curtidas nos vídeos do YouTube, e Jered sumiu, assim como a página da banda no Facebook, que tinha até então 38 mil curtidas.

Resta saber se, depois de tudo isso e, mesmo com a banda supostamente desmascarada, o Threatin vai sair dessa história maior do que entrou, já que ganhou espaço na mídia com sua polêmica.

No Twitter, um rapaz disse que ganhou ingressos para ver o Threatin e acabou comprando uma camiseta, por sentir pena de eles tocarem só para duas pessoas.

Já a casa de shows Belfast Empire ironizou: "Se você comprou ingressos para o show desta noite do Threatin, ambas pessoas podem pegar seu reembolso no local da compra".