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Ainda mais arrastado, novo ano de "Making a Murderer" é salvo por advogadas

Steven Avery em cena de "Making a Murderer" - Reprodução
Steven Avery em cena de "Making a Murderer" Imagem: Reprodução

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

24/10/2018 04h00

Depois de contar em detalhes sobre a investigação no caso real de Steve Avery e seu sobrinho Brendan Dassey em "Making a Murderer", a segunda temporada da série documental --que estreou na última sexta-feira (19) na Netflix-- chega baseada em recursos e apelos, em busca de novos julgamentos para os dois. Mas a realidade dos fatos e a morosidade da Justiça norte-americana no episódio fizeram com que as roteiristas e diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos caminhassem mais para o entretenimento.

Por um lado, houve a facilidade das novas duas advogadas de defesa serem muito envolventes e virarem protagonistas, muitas vezes mais que Steve e Brendan; por outro, o ritmo que já era arrastado em longos episódios de 1 hora soa ainda mais exagerado, mesmo que o ponto de partida da série seja retratar justamente o sofrimento de se estar nas mãos dos tribunais, como no caso de Steve, que chegou a ficar preso 18 anos por um crime que não cometeu.

Na primeira temporada vemos Steve Avery, trabalhador do ferro velho de sua família, ser acusado de assassinato e ficar 18 anos preso até conseguir comprovar que era inocente. Depois de solto, ele é acusado de mais um homicídio, agora da fotógrafa Teresa Halbach, mas clama inocência e se diz vítima de um complô da polícia local, que teria plantado provas contra ele, por nunca ter engolido sua soltura. Seu sobrinho Brendan, então com 16 anos, é detido como cúmplice.

Kathleen Zellner, nova advogada de Steven Avery, da série "Making a Murderer" - Reprodução - Reprodução
Kathleen Zellner, nova advogada de Steven Avery, da série "Making a Murderer"
Imagem: Reprodução

Agora, nos novos episódios, entra em cena a advogada Kathleen Zellner. Famosa por tirar da cadeia presos condenados injustamente, ela assume o caso de Steve Avery, e a série passa a ser, basicamente, sobre seus esforços para desmontar o caso vencido pela promotoria do estado de Wisconsin. Forte, segura e com um discurso envolvente, Zellner sabe se portar diante das câmeras e rouba a cena. "Daria minha vida para provar sua inocência", ela diz em certo momento.

Este segundo ano de "Making a Murderer" passa em muitos momentos de relatos de investigações reais a experimentos de perícia. Zellner usa gotas de sangue falsas, um manequim com peso real de um corpo humano e até dispara armas. Tudo para simular situações que poderiam mostrar que Avery é inocente. O problema é que isso soa antiquado: interessante de se ver, mas sem uma noção de que resultado sairá daquilo.

Na defesa de Brendan Dassey, a advogada Laura Nirider também se destaca. Jovem e mais emocional, ela é quase o oposto de Zellner e por boa parte da temporada busca um habeas corpus para o cliente, tentando deslegitimar a confissão que é a única evidência usada contra ele.

Autocrítica

Uma das qualidades da nova temporada de "Making a Murderer" está em sua autocrítica e em saber mostrar sua importância. O primeiro episódio lida com a fama da própria série e expõe opiniões contrárias, fala de eventos que não apareceram no primeiro ano e mostra como o caso afetou a Justiça e virou um dos mais importantes para a imprensa norte-americana.

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Outro bom momento, mas não tão explorado, é o surgimento de dois novos suspeitos, de acordo com a defesa, que são da própria família de Steve e Brendan.

making a murderer - Morry Gash/AP/Arquivo - Morry Gash/AP/Arquivo
Brendan Dassey foi preso aos 16 anos acusado de ser cúmplice do crime
Imagem: Morry Gash/AP/Arquivo

O que acontece é que faltam novidades no mundo real para bancarem as cerca de dez horas na frente da tela: há muito menos material para se trabalhar e ele não parece tão atrativo. A necessidade de se explicar em detalhes como funciona todo o sistema judiciário, com todas as idas e vindas dos recursos e apelações, mina o ritmo e o interesse.

Outro ponto importante é que, mais uma vez, a família de Halbach não contribuiu com o documentário, tanto que, nos créditos, há uma enorme lista de pessoas que se recusaram a dar entrevista para o programa. A série segue totalmente pendente para o lado de Steve e Brendan, basicamente pregando sua inocência, ainda que as diretoras afirmem que a inocência ou não deles não é a prioridade da série.

"Making a Murderer" segue relevante em seus propósitos e em apontar falhas e contradições da Justiça, mas perde força quando o noticiário envolvendo seus protagonistas também vem esfriando. Ao fim da segunda temporada, fica a dúvida se ainda pode haver material suficiente para uma terceira, ou se este é o fim da linha.

Assista ao trailer da segunda temporada: