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Dinho sobre bazar de Renato Russo: "Talvez eu tenha me metido em assunto familiar"

retrato de Dinho Ouro Preto  - Lucas Lima/UOL
retrato de Dinho Ouro Preto Imagem: Lucas Lima/UOL

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

05/04/2018 17h29

O bazar que o Retiro dos Artistas vai abrir para vender itens da coleção de Renato Russo enfrenta um imbróglio: Dinho Ouro Preto quer comprar todo o conteúdo para devolver à mãe e à irmã do líder da Legião Urbana. O cantor procurou a instituição para demonstrar seu interesse nos objetos, mas o Retiro está reticente com a oferta: eles não querem abrir o evento, já anunciado, com tudo vendido, conforme disse a diretora Cida Cabral à colunista da Folha Mônica Bergamo.

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Dinho, porém, não desistiu da ideia. "Eu vou tentar. Vou ver se consigo mandar alguém lá, alguém avulso, para comprar algumas coisas", contou o vocalista do Capital Inicial ao UOL, mesmo sem saber exatamente quais objetos estarão à venda no bazar. "Eu conheço a Dona Carmem [mãe de Renato] e a Carminha [irmã] há muitos anos, desde quando eu tinha 17 anos. Gosto de ambas. E senti que elas estavam muito chateadas com essa venda. E eu só quis comprar e devolver para elas. Simples assim".

O cantor afirmou que não quer se intrometer na rixa familiar entre o único herdeiro de Renato Russo, Giuliano Manfredini, e sua tia. "Talvez eu tenha me metido no meio de uma coisa familiar, sem querer. [A organização do Retiro] Se refere a coisas que não são tão importantes no bazar, mas para a mãe e a irmã evidentemente são", disse Dinho, por telefone. 

O cantor Renato Russo - Divulgação - Divulgação
O cantor Renato Russo
Imagem: Divulgação

Entenda o caso

Na última semana, quando Renato Russo completaria 58 anos, Giuliano virou tema de polêmica ao ser acusado pela irmã do cantor de querer leiloar todos os objetos do pai. Procurado pelo UOL, Giuliano não quis comentar assuntos particulares, mas apontou que milhares de itens do acervo do artista continuam sob responsabilidade do Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, onde uma gigantesca exposição sobre o cantor aconteceu entre setembro de 2017 e fevereiro de 2018.

"Com todo respeito, não vou comentar assunto de foro íntimo e familiar, mesmo se tratando de missiva irascível por parte de um parente que não tem nada a ver com o legado. E que os 3.000 itens de acervo intelectual e artístico do artista Renato Russo continuam sob a responsabilidade integral do Museu da Imagem e do Som, na cidade de São Paulo", escreveu o filho do líder da Legião Urbana.

Alguns dias depois, em entrevista para a rádio 89FM, Giuliano apontou que os itens, na verdade, não são valiosos. "[Os objetos] são reminiscências de artigos pessoais do dia a dia do Renato. Roupas, pijama, mobília, cabeceira. Essas coisas que não pertencem ao patrimônio artístico/cultural dele. Para a causa do Retiro dos Artistas, têm valor muito grande, para eles cuidarem dos artistas velhinhos", argumentou.

A também cantora Carmem Teresa, irmã de Renato, divulgou uma carta aberta no domingo (01) em que relata a preocupação da família com o futuro do espólio do ícone da música brasileira.

Leia abaixo alguns trechos da carta:

Como pode Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, que deveria zelar por todo esse patrimônio, leiloar simplesmente tudo? Se desfazer do mesmo como não significasse nada?

A tristeza é muito grande porque esses objetos, ou seja, todo o seu acervo cultural e artístico, foram guardados com muito esmero e carinho pelo seu pai, Renato Manfredini, minha mãe e por mim desde a sua morte em 1996. Cuidávamos de tudo, absolutamente tudo.

Agora ele quer doar tudo como se nada valesse para nós? E os nossos sentimentos? E alguns objetos, que são meus também, por direito, como livros e LPs de infância, fotos? E também alguns que pertencem à minha mãe?

E os fãs? Vocês que têm um carinho imensurável e amor incondicional pelo Renato e que nunca mais poderão ter a chance de ver uma outra exposição, pois todo esse espólio vai ser separado, espalhado e dilapidado.

Fico imaginando o sofrimento que o meu pai que faleceu ha 14 anos teria, e também, com  certeza, o pesar que as famílias Manfredini e Oliveira sentirão. Todos os meus tios e primos, sem exceção.

Toda a sua memória cultural e artística será desfeita.