"Ele estaria irritado com todas essas homenagens", diz Xexéo sobre Cony
Parceiro de Carlos Heitor Cony na apresentação de um programa diário de rádio na CBN, Artur Xexéo disse que o amigo "estaria muito irritado com todas essas homenagens". Cony morreu na noite de sexta-feira (5) aos 91 anos, no Rio, mas a morte só foi divulgada no final da manhã deste sábado (6).
"Ele estaria muito irritado com todas essas homenagens. Ele sabia que a vida é efêmera. Não queria que a morte dele fosse divulgada. Ele não queria velório, festejos, homenagens. Mas é impossível não homenagear o Cony", disse Xexéo durante uma entrevista ao vivo para a Globo News.
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O jornalista ainda lembrou que era frequentemente confundido com Cony, já que apresentavam juntos o programa de rádio. "A primeira pessoa que eu dava bom dia era o Cony. As pessoas confundiam as vozes. Fico honrado. Ele era muito mais inteligente, muito mais culto. Tive diariamente, durante 15 anos, uma aula diária com o Cony sobre história, sobre política".
Milton Jung, outro parceiro de Cony na rádio CBN, também falou sobre a ironia fina do amigo em entrevista à Globo News. "Se ele estivesse ouvindo nesse momento, estaria rindo das nossas palavras, debochando do lugar-comum. Falar da morte do Cony e achar a palavra certa para isso é praticamente impossível. Nunca vou achar uma à altura".
Jung ainda lembrou que Cony não gostava de ser chamado de imortal, título que levava por fazer parte da ABL (Academia Brasileira de Letras). "'Imortal é a mãe', ele costumava brincar [...] Mas é um imortal pela história que contou para nós e deixou. E vamos levar para a frente". Jung também contou que Cony brincava sobre cantar "muitos anos de vida" ao celebrar o aniversário. "Não se deseja isso a ninguém", dizia o escritor.
Amor pela cachorrinha Mila
A escritora Nélida Piñon contou uma curiosidade sobre a relação de Cony com sua cachorrinha, Mila. "Ele teve um grande amor pela Mila, a cachorrinha dele. Ele dizia: 'Eu nunca amei tanto quanto eu amei Mila. E nunca fui tão amado na minha vida quanto fui amado pela Mila'". Nélida disse que o amigo se abria com ela sobre o assunto por saber que a escritora também amava profundamente os cachorros.
Nélida contou que "Quase Memória", a obra mais conhecida de Carlos Heitor Cony, começou a ser escrita para aliviar as dores da cachorrinha."Atenuava as dores dela quando ele batia o romance na máquina de escrever. Para aliviar a cachorrinha, ele começou a teclar. Ele deve esse romance à Mila."
Cronista ácido e de humor peculiar, Cony foi vencedor de três prêmios Jabuti e era o quinto ocupante da cadeira de número 3 da ABL desde 2000. Seu romance mais famoso, "Quase Memória", foi publicado em 1995 e vendeu mais de 400 mil exemplares.
Ainda que tocando em temas políticos, a obra de Cony tinha como foco, antes de mais nada, as relações humanas. E o modo como tratou esses temas deu ao autor a pecha de pessimista inveterado.
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