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Um rolê na manhã da Virada: metal extremo, Jovem Guarda e pouca comida

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

21/06/2015 16h37

Se há um momento em que São Paulo faz jus à fama de "cidade que não dorme", ele acontece na Virada Cultural --mas apenas até certo ponto. Os "virados" de sábado (20) para domingo (21), que acompanharam centenas de atrações no centro da capital, resistem bem até início da manhã, quando rapidamente dão lugar às famílias, crianças e à uma verdadeira profusão de adolescentes skatistas.

Na manhã deste domingo, por volta das 6h, o som começou alto e extremo. As bandas de heavy metal Krisiun, Korzus, Dr. Sin e Voodoopriest se encarregaram de promover o ritual headbanger no palco montado na avenida Rio Branco, na altura da Ipiranga. "Ser headbanger é ser livre. Ser headbanger é ser fiel. Ser headbanger é ser inteligente também. Você não vê hadbanger burro", filosofou logo cedo o vocalista do Korzus, Marcelo Pompeu, quando a temperatura ainda não passava dos 15ºC.

O público era numeroso, principalmente considerando o horário dos shows. Uma horda de camisetas pretas balançando as cabeças com violência --e acordando vizinhos. O vinho chapinha e as long necks ainda são hits na Virada, principalmente entre os headbangers, que se preocupam menos em tirar selfies e, aparentemente, com a própria infraestrutura do local.

Neste horário não havia barracas de comida nem banheiros próximos. Com o comércio fechado, a solução para enganar a fome e ainda curtir o show era vagar rapidamente pela avenida Ipiranga até ter a sorte de encontrar uma lanchonete funcionando.  

Funk e Erasmo pela manhã

A apenas 800 metros dali, no Largo do Arouche, atravessando o forró do pequeno palco montado na Praça da República, a carioca MC Ludmilla inciava, às 9h, sua apresentação de diva moderna do funk.

Na plateia, um público composto por jovens delirava com versões de de Anitta, Valesca Popozuda e Beyoncé. E também com o visual extravagante da cantora, que vestia calça de oncinha, top e óculos escuros. "Estava no Baile da Favorita, em Campinas, às 6h e estou cheia de olheiras na cara. Mas, se vocês gritarem alto, eu prometo tirar os óculos até o fim do show".

Skatetistas marcham em direção ao Vale do Anhagabaú - Leonardo Rodrigues/UOL - Leonardo Rodrigues/UOL
21.jun.2015 - Skatetistas marcham em direção ao Vale do Anhagabaú, em São Paulo, em manifestação em prol do skate, durante Virada Cultural 2015
Imagem: Leonardo Rodrigues/UOL

Saindo do Arouche, em direção ao palco da avenida São João, a reportagem do UOL foi surpreendida por uma multidão de skatetistas marchando em direção ao vale do Anhagabaú. Eram centenas em uma espécie de manifestação em prol do skate. "Skate por amor", dizia um piquete segurado por um integrante do grupo.

"A gente faz isso todo o ano no domingo de manhã da Virada. Vamos para o Anhagabaú e depois outro grupo vai para a Praça da Sé e Praça Roosevelt", contou outro skatista, enquanto segurava uma câmera filmando a cena. "Ano passado foram umas 47 mil pessoas", completou, com o típico sorriso do exagero.

Passando a marcha, paramos no show de Erasmo Carlos, às 10h, na São João. O ciclo já havia claramente sido completado ali. Nada de bêbados ou chapinha. Plateia mais velha, muitos com cerca de dos 60/70 anos, vindos de casa com banho e café da manhã tomados.

Ao menos no show do Tremendão, não houve conflito de turmas. A apresentação foi de rocks e hits, como "Além do Horizonte", "É Preciso Saber Viver" e "Mesmo que Seja Eu". "Rock and roll não é só rebeldia e contestação. Rock and roll é amor e sexo", disse Erasmo ao público.

Área gastronômica

No palco São João, os banheiros eram distantes do palco. Comida, então, só se aventurando pelos carrinhos de hot-dog e pastéis fritos avenida abaixo. Um bom conselho para quem sai domingo de manhã para a Virada Cultural é se garantir comendo em casa.

Na área gastronômica, por sinal, as atrações estavam ainda mais espalhadas pelo centro da cidade. Uma forma de evitar a confusão de 2012, quando o Minhocão não conseguir suportar a quantidade de gente que apareceu nas barraquinhas montadas por chefs no local, entre eles Alex Atala.

O almoço de domingo da Virada foi servido neste ano em 13 barraquinhas de comida gourmet no largo São Francisco. Havia risotos de linguiça e salmão, bobó de camarão, galinhada e a chamada Paella del Peppe, entre outras iguarias. Quase tudo saía a R$ 20.

Os adeptos do fast-food poderiam se dirigir ao Pátio do Colégio, local de outra feirinha gastronônomica, com cachorro-quente francês vendido a R$ 15 e uma porção de dez diminutas coxinhas gourmet, que saiam por R$ 10.

Deslocadas, as barracas viram poucas filas mesmo no período do almoço. A esta hora, na praça Roosevelt, o "galinhódromo" de Alex Atala já havia sido substituído por skatistas. Centenas deles. Todos dando de ombros para um grupo de mais de 15 evangélicos, fantasiados com cores e temas carnavalescos, que apareceram para gritar que "Jesus é a salvação". Ao estilo torcida de futebol.