"Supermercado tem muita coisa que não merece o nome de comida", diz autor
Espécie de guru da alimentação saudável, autor de inúmeros livros sobre o assunto, o americano Michael Pollan aproveitou a sua participação na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) para expor os pilares de sua pregação.
Um dos lemas famosos de Pollan é: “Não coma nada que a sua avó não reconheceria como alimento”. Autor de "Em Defesa da Comida”, "Regras da Comida", "O Dilema do Onívoro" e, mais recentemente, “Cozinhar”, Pollan defende a necessidade de comer menos e melhor, deixando de lado alimentados processados industrialmente e valorizando a cozinha feita de forma artesanal.
“O supermercado tem muito alimento que não merece a honra de ser chamado de comida”, disse, provocando aplausos. ”Vejo uma garrafa de água brasileira, e está lá o aviso: não contém glúten. Parabéns. É bom saber. Os supermercados se tornaram traiçoeiros”, disse.
Comida padronizada
“O problema começou quando terceirizamos a responsabilidade de cozinhar para as grandes empresas. Eles querem que cada frango seja idêntico, que a batata seja padronizada. Essa monotonia visual é altamente dependente de produtos químicos, geneticamente modificados”, criticou.
Na visão de Pollan, a indústria vende a ideia de quantidade em lugar de qualidade. “O que queremos de uma refeição não é só caloria. É uma experiência alimentar. E podemos ter isso sem quantidade”, observou. “Os pais perguntam às crianças nos Estados Unidos: ‘Já está cheio?’ Essa é uma pergunta errada. O momento em que você não está mais com fome é a hora de parar. Não quando você está cheio.”
A esse respeito, o jornalista lembrou: “Temos um bilhão de pessoas famintas no mundo e um bilhão de obesos. Não é lógico.”
Pollan não é vegetariano, mas não come carne. “Não como carne de gado confinado. Já frequentei fazendas de gado confinado. O cheiro fica nas narinas por vários dias. Já a carne sustentável é difícil e cara de encontrar. Por isso não como.”
O que tem na sua geladeira? “Minha alimentação é bem normal. Não temos horas para ficar cozinhando durante a semana. Por isso, a gente faz muita coisa grelhada. E aproveitamos sobras do dia anterior. Na verdade, ‘sobra’ não é uma boa palavra. Se faço salmão assado ou grelhado, faço o dobro da quantidade. Enquanto você pode ter a refeição de um dia ajudando a do dia seguinte, você está se ajudando.”
Por fim, o público quis saber o que Pollan achou da comida brasileira. O jornalista mostrou entusiasmo com a moqueca. “Comi várias moquecas na Bahia e gostei. Comi uma moqueca vegetariana aqui em Paraty. Adorei. Gostei de acarajé. Feijoada. Vou deixar o Brasil maior do que cheguei”, brincou. “E se cachaça é um alimento, gostei muito também.”
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