Flip: amigos lembram censura a Millôr por piada com bunda de Jackie Kennedy
Homenageado do ano na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), Millôr Fernandes foi tema de mais uma mesa na manhã desta sexta-feira (01), integrada apenas por amigos e profissionais que conviveram com ele, o cartunista Claudius, o caricaturista Cassio Loredano e o jornalista Sérgio Augusto.
O trio lembrou anedotas, causos e feitos de Millôr ao longo de sua carreira como desenhista, cartunista, escritor e tradutor em publicações como “O Cruzeiro”, “Pif Paf” e “Pasquim”, entre outras. Seus problemas com a censura também ganharam destaque.
Chamando-o de “destemido”, os amigos se lembraram de dois momentos em que Millör teve problemas com a censura – um deles ainda durante o governo Kubitschek, antes da ditadura, pelo fato de ter feito uma piada com a primeira-dama. “Dona Sarah Kubitschek chegou da Europa depois de seis meses de viagem e foi condecorada com a Ordem do Trabalho”, disse Millôr, irônico, embora não fosse uma mentira.
Outro incidente ocorreu na época do “Pasquim”, quando Jacqueline Kennedy, então casada com o milionário grego Aristóteles Onassis, foi fotografada nua por um paparazzo. Millôr escreveu: “Ela nasceu com a bunda pra lua e aprendeu a usá-la”. O jornal foi apreendido por causa da piada.
Destemido e perigoso
O posicionamento político de Millôr também foi tema da conversa. Ainda que tenha estado por trás de dois momentos importantes de resistência ao regime militar (foi coautor da peça “Liberdade, Liberdade” e um dos fundadores do “Pasquim”), ele não se definia politicamente. “Livre como um táxi” – esta era a sua posição.
“Millôr dizia: ‘os pássaros voam porque não têm ideologia’” lembrou Sergio Augusto, provocando aplausos da plateia. “Nunca conheci ninguém tão destemido”, acrescentou Claudius.
O fato de Millôr ter sido o único integrante do “Pasquim” a não ser preso durante a ditadura militar voltou a ser tema de piadas – o assunto já havia sido lembrado na mesa de abertura da Flip pelo cartunista Jaguar.
Na lembrança de Sérgio Augusto, Millôr assim explicou a situação: “Nós não temos nenhuma importância para ser presos, nem para ser soltos”. “Ele desenhou, certa vez, como seria a turma dos censores recebendo Pasquim e eles apareciam rindo”, contou Loredano.
“Era perigoso, eu sou do tempo que a palavra ‘bunda’ era palavrão, e o Pasquim sempre vinha com asterisco e você sabia exatamente qual era a palavra naquele lugar. O bicho era muito corajoso. A turma ia presa mesmo, não sei como ele nunca foi preso”, completou o caricaturista. Claudius lembrou a anedota que Millôr não foi preso porque a viatura policial que iria levá-lo já estava lotada e deixou a tarefa para o dia seguinte.
Em uma época repleta de manifestações, prisões involuntárias e panfletagem, alguém da plateia questionou os convidados: O que Millêr estaria fazendo? “Você não pode imaginar o que ele estaria fazendo hoje. Tem que chamar ele de volta”, devolveu Claudius.
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