Show de luta livre anima manhã de domingo na Sé
Os sinos da Catedral da Sé pareciam anunciar o show de pancadaria ‘fake’ no ringue de luta livre que começou logo cedo e animou a Praça da Sé na manhã deste domingo, 19. Duelos entre iniciantes e veteranos abriram o dia. O público, formado por gente de todas as idades, logo cercou a arena.
Desde 2011 na programação da Virada Cultural, o espetáculo teve nesta edição cerca de 50 lutas e participação de 85 lutadores. Entre eles dez estrangeiros, do México, Peru, Chile, Argentina e EUA. Foram combates de tirar o fôlego – em alguns casos, de tanto rir.
Influenciada pelos quadrinhos, na luta livre (conhecida também por Wrestling), lutadores se apresentam fantasiados como heróis e vilões, numa mistura caricata de teatro, circo e artes marciais. Um desfile de tipos bizarros que em geral agrada tanto adultos quanto crianças.
Após os combates da manhã, o público pode subir ao ringue e ensaiar alguns golpes em um workshop. “Muita gente que assiste tem vontade de participar, é essa a chance”, diz Bob Junior, lutador e produtor da Brazilian Wrestling Federation (BWF), que semanalmente promove lutas pela capital paulista, e que organiza as competições na Virada Cultural.
Mas segundo ele, o destaque da programação ficou reservado para a última parte do evento, na tarde deste domingo, 19. “Tem as finais do torneio Sul Americano, que pela segunda vez acontece na Virada Cultural, e de várias outras competições paralelas”, diz.
É tudo mentira
Apesar de ser um show esportivo regado a muitos socos, chutes e golpes de todos os tipos, no fundo é tudo ‘fake’. “É uma sátira em cima da velha luta do bem contra o mal, do mocinho contra o bandido”, ressalta Bob Junior. Só que mocinhos raramente se dão bem.
“O público adora os vilões”, explica Renato Dias, que lutou durante anos como a temível Caveira Killing e hoje narra os combates promovidos pela BWF. Segundo ele, o negócio funciona como uma novela. “É um espetáculo de golpes combinados”, “Quem decide o resultado das lutas são os produtores bem antes do combate começar”.
Entretanto, nem tudo é encenação, garante o jovem lutador Sônico. Ele mostra as marcas de uma pancada que recebeu do adversário, o gigante Xandão – atual campeão sul-americano. O golpe foi desferido com o auxílio nada nobre de uma escada. “Ele tem mais de 2 metros de altura, pesa cerca de 170 quilos e ainda pula feito um doido”, comenta Bob Junior.
“Revidei quebrando uma cadeira nele”, comenta Sônico ainda inconformado com o golpe baixo. A propósito, essa é outra característica desse divertido duelo de titãs, a tolerância a golpes sujos, juízes ladrões e picaretagens em geral. Em certas ocasiões, por exemplo, é permitido (e bem comum) espremer limão no olho do adversário.
Luta livre nasceu nos EUA
Acredita-se que o Wrestling tenha nascido nos EUA durante a década de 1920. “No início era realizada de modo itinerante, primeiro nas ruas, depois em circos”, conta o produtor de lutas, Bob Junior.
Por lá, o show de pancadarias também virou mania, chegando a bater em audiência o Superbowl. Em 2009, a luta livre americana foi parar nas telonas com o filme “O Lutador”, que deu sobrevida à decaída carreira de Mickey Rourke – a atuação rendeu até uma indicação ao Oscar de melhor ator.
No Brasil, a luta livre começou a ficar conhecida em São Paulo na década de 1960, com o pioneiro programa “Reis do Ringue”, da extinta TV Tupi. O auge foi marcado pelo programa “Telecatch”, com temporadas gloriosas na TV Excelsior e depois na TV Globo. As lutas agitavam semanalmente os ginásios do Ibirapuera ou do Pacaembu – invariavelmente lotados.
Hoje, uma nova safra de personagens prossegue chacoalhando os ringues espalhados pelos mais diferentes bairros e regiões da cidade. “As lutas não acontecem mais em um local fixo, mas se mantém em um circuito itinerante permanente, com um público fiel e bem barulhento”, finaliza Bob Junior.
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