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Terapeuta se vê em personagem de série "Billions" e processa canal

Denise Shull (à esquerda) e dra. Wendy Rhoades, de "Billions" - Getty Images/Reprodução
Denise Shull (à esquerda) e dra. Wendy Rhoades, de "Billions" Imagem: Getty Images/Reprodução

Simone Foxman

08/01/2019 16h06

Assim como muita gente em Wall Street, Denise Shull tem assistido assiduamente a "Billions", série do canal Showtime que causou alarde no mercado financeiro devido a seus paralelos não muito sutis com gestores de recursos da vida real.

Mas há uma semelhança difícil de superar: a dela com a Dra. Wendy Rhoades, coach de desempenho do fundos de investimento da série, que trabalha com os negociadores da empresa.

O personagem de Rhoades, uma mulher sem papas na língua que está casada com o procurador-geral de Manhattan, ajuda os analistas da empresa a lidar com emoções, acalmar temores e obter confiança para ter um desempenho melhor no trabalho.

A personagem é uma "imitação não autorizada", afirmou Shull, que também é coach de desempenho, em um processo aberto no mês passado. Exceto por seus apetites sexuais.

"O primeiro episódio mostra que ela é uma dominadora", disse Shull, ex-negociadora que atualmente dirige a ReThink Group, em entrevista por telefone. "Eu não sou. Nem sei nada sobre isso."

Elenco da série "Billions", que estreou em 2016 no Showtime e, no Brasil, é exibida pela Netflix - Divulgação - Divulgação
Elenco da série "Billions", que estreou em 2016 no Showtime e, no Brasil, é exibida pela Netflix
Imagem: Divulgação

"Billions" expõe uma faceta da indústria de gestão de recursos que não era muito conhecida: grandes fundos de investimento às vezes empregam pessoas para trabalhar com gerentes de carteira e negociadores na esperança de melhorar o desempenho e os lucros.

Shull, de 59 anos, não trabalha em fundos, mas diz que uma versão fictícia de si mesma trabalhava no livro que publicou em 2012, "Market Mind Games: A Radical Psychology of Investing, Trading and Risk".

Ela afirma em seu processo que os criadores de "Billions", incluindo Andrew Ross Sorkin, Brian Koppelman e David Levien, usaram muito do conteúdo do livro sem compensá-la por isso.

Uma porta-voz do Showtime refutou a acusação, e Sorkin, Koppelman e Levien não responderam aos pedidos de comentários.

"A Sra. Shull passou por vários escritórios de advocacia e teorias de seu suposto caso como parte de suas reiteradas tentativas frustradas de forçar-nos a contratá-la como consultora de nosso programa", disse a porta-voz em comunicado enviado por e-mail.

"Temos certeza de que o processo dela também fracassará."

Em sua queixa, Shull disse que conversou sobre seu livro com Sorkin em 2012 durante uma entrevista no programa "Squawk Box", da CNBC, em que ele é apresentador.

Sorkin, que também é repórter do New York Times, entrou em contato com ela em agosto de 2015, buscando ajuda para desenvolver a personagem de Rhoades, de acordo com o processo.

Shull disse que trocou e-mails naquele mês com Maggie Siff, que interpreta Rhoades, e também com Koppelman e Levien, o que culminou em uma reunião no mês seguinte.

Koppelman expressou interesse em ler seu livro, mas "parecia incômodo" quando ela lhe disse que se tratava de ficção, de acordo com o processo, que foi apresentado em 31 de dezembro em um tribunal federal em Manhattan.

Durante a semana seguinte, Shull disse ter conversado com as equipes de marketing e criação do Showtime sobre a participação na promoção da série.

Mas as conversas logo foram interrompidas, e ela disse que nunca assinou um acordo de compensação ou crédito com os criadores nem com o canal, que pertence à CBS.

O Showtime solicitou um piloto em março de 2014, de acordo com comunicados à imprensa, e o primeiro episódio foi ao ar em janeiro de 2016.

Shull argumenta que as semelhanças entre as cenas de "Billions" e as de seu livro são tão grandes que constituem uma violação de direitos autorais.

Agora, é possível que um programa baseado no ego de poderosos executivos de Wall Street, nos agentes da lei que os perseguem e nas pessoas que vivem neste mundo opulento provoque um drama na vida real.

"É como se eu fizesse parte de um dos enredos", disse Shull.