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R. Kelly: Quem é ele e por que se tornou tóxico na música americana

R. Kelly e Lady Gaga - Getty Images/BBC
R. Kelly e Lady Gaga Imagem: Getty Images/BBC

Da BBC

14/01/2019 10h38

John Legend o descreveu como um abusador "em série". Lady Gaga se desculpou por ter trabalhado com ele. E o cantor Neyo diz que não há "desculpa" para não boicotá-lo.

Há 20 anos, o músico americano R. Kelly enfrenta diversas acusações de assédio e abuso sexual --e muitas denúncias envolvendo adolescentes. Mas o cantor, de 52 anos, nunca foi condenado e nega todas as acusações.

Os grandes sucessos de Kelly ainda são tocados por DJs de todo o mundo, ele tem um enorme fã-clube e é considerado uma das maiores estrelas do gênero R&B (de rhythm & blues, a corrente mais comercial da música negra com influências de soul, funk e jazz).

No entanto, várias celebridades se posicionaram agora contra ele após o lançamento de um documentário chamado "Surviving R. Kelly", exibido recentemente no canal americano Lifetime.

Dividido em seis episódios, o documentário expõe detalhes de denúncias de abuso físico e emocional de mulheres, inclusive menores de idade, durante várias décadas.

Alega ainda que o cantor de R&B conduzia uma espécie de "culto" em que mantinha mulheres sob seu domínio, contra a vontade delas. Em 2008, o cantor foi absolvido de 14 acusações de pornografia infantil em julgamento nos EUA e não enfrentou mais ações criminais desde então.

"Mute R. Kelly"

Assim como Lady Gaga, outros artistas como Chance the Rapper e a banda francesa Phoenix também pediram desculpas por terem trabalhado com ele. Já Omarion, vocalista do grupo B2K que teve alguns de seus maiores sucessos produzidos por R. Kelly, disse que a banda não vai mais tocar suas músicas.

A campanha "Mute R Kelly", que prega o boicote de suas músicas e shows, ganhou, assim, fôlego novo. Ela foi lançada em 2017 depois que outras denúncias contra o músico vieram à tona e ganhou força no ano passado, quando rostos famosos como a cineasta Ava DuVernay e a cantora Janelle Monae apoiaram o movimento.

Apesar de as denúncias de abuso contra R. Kelly terem voltado aos holofotes, parece que sua carreira ainda não foi prejudicada.

A Nielsen Music, empresa de análise de dados nos Estados Unidos, diz que os números de streaming das músicas do cantor dobraram desde que o documentário foi ao ar, na primeira semana do ano.

De acordo com a companhia, R. Kelly teve em média mais de 955.600 streamings na última semana de 2018. Esse número subiu para mais de 1,5 milhão de 3 a 6 de janeiro.

O documentário inclui diversas entrevistas. Uma delas é com o cantor John Legend, que disse acreditar nas mulheres, descrevendo Kelly como um abusador "em série".

O diretor, Dream Hampton, disse que o filme mostra como Kelly "construiu um ecossistema ao redor de sua predação" de quase três décadas, "predando jovens e vulneráveis mulheres".

Pai "monstro"

Diante do documentário, a filha de R. Kelly rompeu com o silêncio sobre as denúncias de abuso sexual contra o pai. Em um post no Instagram, Joann Kelly, ou Buku Abi (seu nome verdadeiro), disse estar "arrasada".

Buku, 20, diz que não vê ou fala com o pai há anos. Chama ele de "monstro" e de pai "terrível". Ela disse apoiar as supostas vítimas do pai. Ela também explicou por que esperou para falar sobre as alegações, dizendo que demorou para ficar bem em relação a isso.

"Tem sido muito difícil lidar com tudo isso", escreveu em um story no Instagram. "Fora reunir as palavras certas para expressar tudo o que eu sinto."

Buku disse a seus 23 mil seguidores no Instagram que ela reza para todas as mulheres que dizem ter sido afetadas pelas supostas ações do pai. Ela disse que não queria falar sobre sua vida pessoal nas redes sociais, mas por causa do escrutínio intenso sob o qual estavam seu pai e sua família, ela achava que era o momento certo.

"O mesmo monstro com quem vocês estão me confrontando agora é o meu pai. Eu sei muito bem quem e como ele é. Eu cresci naquela casa", disse. "Minha escolha de não falar sobre ele e o que ele fala é para minha paz de espírito. Meu estado emocional. E minha cura."

Lady Gaga

Já a cantora Lady Gaga, que também é ativista pelas vítimas de abuso sexual, foi pressionada a comentar sobre as alegações contra Kelly desde que colaborou com ele na canção "Do What U Want (With My Body)", de 2013.

A colaboração foi controversa desde o início. Naquela época, histórias sobre a vida pessoal de Kelly já tinham sido noticiadas e, em 2008, ele fora acusado de fazer uma sex tape com uma menor de idade --mas inocentado pela Justiça.

Em uma coletiva de imprensa no Japão em 2013, Gaga defendeu a colaboração. "R. Kelly e eu temos coisas que não são verdadeiras escritas sobre nós, então, de alguma forma, temos uma conexão."

Na semana passada, a cantora se desculpou por ter trabalhado com R. Kelly e disse que removeria o dueto "Do What U Want" de serviços de streaming, o que acabou ocorrendo. Gaga disse que as histórias eram "horríveis" e "indefensáveis". "Eu apoio 1000% essas mulheres."

Autor de vários hits

Robert Sylvester Kelly nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1967. É produtor musical, compositor, cantor e multi-instrumentista.

Entre suas obras, estão vários hits, como a música "I Believe I Can Fly", do filme "Space Jam: O Jogo do Século" (1996). Ele escreveu ainda "You Are Not Alone" (1995) para Michael Jackson e "Gotham City" do filme "Batman & Robin" (1997). Trabalhou em parceria com artistas como Céline Dion, Janet Jackson e Jennifer Lopez, entre outros.

Kelly negou todas as alegações contra ele, e até divulgou uma música em que canta: "Sou tão falsamente acusado".

O cantor fez um show semana passada em Chicago, nos EUA. Disse que era seu aniversário e que não daria atenção para o que estava acontecendo.