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Conheça o ambiente noturno de Lisboa que inspirou novo álbum de Madonna

Cantora de fado fuma cigadrro do lado de fora de casa de shows - Patrícia de Melo Moreira/AFP
Cantora de fado fuma cigadrro do lado de fora de casa de shows Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

De Lisboa (Portugal)

05/06/2019 18h41

Em um bar de bairro lisboeta com banquetas de madeira, um piano desafinado e violões pendurados nas paredes ouve-se fado, morna de Cabo Verde, bossa nova brasileira ou uma delirante fusão disso tudo e mais. Esse cenário serviu de inspiração para Madonna criar seu novo álbum, que será lançado em 14 de junho.

"Minha inspiração para meu novo álbum nasceu aqui, em Lisboa, no Tejo Bar", afirmou Madonna em sua conta de Instagram.

É um bar intimista em uma praça do bairro de Alfama. O ambiente muda a cada noite em função das improvisações dos músicos que se apresentam ante um público integrado por portugueses, turistas, estudantes, escritores, pintores, etc.

A fadista Vânia Duarte se apresenta no bairro de Alfama, em Lisboa - Patrícia de Melo Moreira/AFP - Patrícia de Melo Moreira/AFP
A fadista Vânia Duarte se apresenta no bairro de Alfama, em Lisboa
Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Seduzida por esta mistura musical, a rainha do pop criou uma obra, chamada "Madame X", inspirada nas noites de Lisboa e nos artistas que conheceu na capital portuguesa, onde em 2017 estabeleceu uma residência temporária.

Madonna se mudou para Lisboa para permitir que David Banda, um de seus quatro filhos adotados no Malawi, entrasse na academia de futebol do Benfica.

Sua rotina de mãe, que oscilava entre o colégio e os treinamentos de futebol em uma cidade em que não tinha amigos, acabou deprimindo-a "um pouco", confessou a cantora de 60 anos ao canal MTV.

Turistas passeiam pelo bairro de Alfama - Patrícia de Melo Moreira/AFP - Patrícia de Melo Moreira/AFP
Turistas passeiam pelo bairro de Alfama
Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Ao frequentar a clientela do Tejo Bar, descobriu "um caldeirão de culturas musicais" em Lisboa, que outrora foi a capital de um império colonial que incluía Brasil, Angola e Moçambique.

"Propor um espaço que inspira artistas como Madonna me enche de alegria", declarou com orgulho à agência France Press Mira Fragoso, uma ex-atriz brasileira coproprietária do bar, palco de encontros improváveis como o que ocorreu entre Madonna e um pianista brasileiro de 33 anos, João Ventura.

Homem toca piano no Tejo Bar em Alfama - Patrícia de Melo Moreira/AFP - Patrícia de Melo Moreira/AFP
Homem toca piano no Tejo Bar em Alfama
Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

"Pega o violão"

"Naquela noite ela estava sentada em um canto", lembra o pianista. A pedido de um amigo, ele tocou uma canção de bossa nova à qual incorporou a sonata Claro de Luna de Beethoven.

"No dia seguinte me ligou para dizer que tinha gostado e me propôs que a acompanhasse em um show em Nova York", conta o músico à AFP.

Depois de três ensaios com Madonna, acompanhou-a ao piano em três canções interpretadas em 2018 durante o Met Gala.

Dino D'Santiago, um cantor de origem cabo-verdiana que representa muito bem essa Lisboa mestiça e que canta em português e em crioulo guiou Madonna pelos becos e curvas da Alfama.

Imagem noturna da região do bairro de Alfama  - Patrícia de Melo Moreira/AFP - Patrícia de Melo Moreira/AFP
Imagem noturna da região do bairro de Alfama
Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

"Aqui a diversidade cultural não está confinada a guetos, está em todos os lados", afirmou à AFP este cantor de 36 anos, que afirma que Lisboa vive uma efervescência artística excepcional.

Fez com que ela descobrisse a orquestra de "batucadeiras", um grupo de cantoras e percussionistas cabo-verdianas que ele criou há um ano. Algumas acompanharão a rainha do pop em sua turnê.

Dino D'Santiago também lhe apresentou a Kimi Djabaté, um músico da Guiné-Bissau que descende dos trovadores mandingas. "Às vezes só me diz "pega seu violão" e ficamos em algum lugar com outros artistas", declara este homem de 44 anos que gravou "Ciao Bella", uma 'bonus track' de "Madame X".

Tapete vermelhos e polêmicas

Certa noite na discoteca africana B.Leza, Madonna conheceu Blaya, uma cantora e bailarina com o corpo coberto de tatuagens e cuja canção "Faz gostoso" aparece no novo álbum.

Vania Duarte, de 34 anos, também se beneficiou da visibilidade que Madonna deu a muitos artistas lisboetas. A cantora de fado de 34 anos se apresentou várias vezes para a artista na Casa de Linhares.

Embora Madonna tenha sido recebida com os braços abertos por músicos lisboetas, também suscitou polêmicas, como quando as redes sociais arremeteram contra a prefeitura, acusada de alugar para ela um estacionamento de 15 lugares por um preço inferior ao do mercado.

Pessoas andam pelos becos de Alfama, em Lisboa - Patrícia de Melo Moreira/AFP - Patrícia de Melo Moreira/AFP
Pessoas andam pelos becos de Alfama, em Lisboa
Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Na cidade de Sintra, ao oeste de Lisboa, foi proibida a entrada de um cavalo em uma mansão do século 19 para a gravação de um videoclipe. "Há coisas que o dinheiro não pode comprar", comentou o prefeito Basilio Horta, citado pelo semanário Expresso.

O governo socialista estendeu o tapete vermelho para a rainha do pop, que obteve uma autorização de residência especial prevista para os estrangeiros que representem "um interesse público", segundo várias fontes.

Em um país que aproveita que está na moda para desenvolver o turismo, Madonna é um "formidável cartão de visita", declarou à rádio Antena 1 em 2017 a secretária de Estado de Turismo, Ana Mendes Godinho.