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Com espaço dedicado ao futebol, Bienal Livro do Rio ganha ares de estádio

05/09/2013 14h16

Bandeiras de times espalhadas por todos os lados, rostos conhecidos do futebol, torcedores de clubes rivais que passeiam lado a lado. Poderíamos pensar que se trata do Maracanã, mas estamos na Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

É que nesta edição de um dos maiores eventos literários do Brasil, o futebol ganhou um lugar de destaque. Às vésperas da Copa do Mundo de 2014, a combinação entre literatura e futebol nunca foi tão prolífica no país.

De almanaques a biografias, o mercado de livros que gira em torno futebol está com alto rendimento. Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), só em 2012 foram 300 novos títulos lançados sobre o tema.

No "Placar Literário", espaço reservado ao tema na Bienal, é possível conhecer os novos - e velhos - títulos apresentados pelas editoras. Mas também há lugar para 'pensar' a paixão nacional. Afinal, foram programadas mais de 15 mesas de discussão sobre futebol.

"O amante do futebol quer ler e discutir, quer debater o futuro do esporte no país e agora é o momento ideal para isso", explica à AFP João Máximo, curador da mostra e sumidade quando o assunto é bola.

Por isso, além de discussões literárias - com autores e especialistas no tema - as mesas do Placar também abordaram temas atuais no mundo do futebol, como as recentes manifestações contra os gastos abusivos com a Copa do Mundo do ano que vem, ou as transformações pelas quais o esporte vem passando no Brasil.

"É hora de pensarmos o futebol como cultura brasileira, e não mais como um acessório, uma mera diversão. O futebol diz muito sobre quem somos", avalia João Máximo. Ele, que escreve sobre o tema há mais de 30 anos, fala numa mudança no perfil do torcedor, que não quer apenas assistir aos jogos, mas quer ler também. "Quem torce quer saber o que se passa fora dos gramados, entender mais sobre seu time", diz.

Novidades em campo
O economista Rapahel Bernardes, de 37 anos, deixou a Bienal com cinco novas aquisições sobre futebol. "Tem de livro sobre a história do Fluminense a dois infantis para estimular a paixão desde cedo", brinca. Torcedor fanático pela seleção brasileira, ele levou as filhas Julia, 7, e Beatriz, 3, para dar um passeio pelo local. Para ele, o Painel Literário estimula uma "torcida consciente". Em 2014, "seremos palco do maior evento de futebol do mundo, não podemos deixar a oportunidade passar".

Impulsionada pelo Mundial, a nova safra de obras sobre futebol aposta em almanaques e guias, além de álbuns ilustrados. "Ainda não temos uma literatura de futebol própria, com obras de ficção e romances com um estilo definido", afirma Marcelo Duarte, diretor da Panda Books, uma das primeiras editoras a apostarem na combinação e que, hoje, conta com 49 títulos exclusivamente sobre futebol.

Mais livros para quem?
Para os aficionados pelo tema, a hora é de comemorar o aumento da oferta de obras futebolísticas. "Nunca vimos tantos lançamentos de livros sobre futebol no país. Faço coleção de livros de futebol. Atualmente tenho perto de 200 títulos, e senti essa diferença de forma brusca", conta à AFP Clara Albuquerque, jornalista responsável por um site sobre futebol e autora de livros sobre o assunto.

Há dez anos, era preciso caçar livros sobre o esporte, hoje é possível escolher em meio a uma variedade muito maior. "Acho que os profissionais da área perceberam a lacuna desse tipo de literatura. Infelizmente, o Brasil ainda é um país onde se lê muito pouco, mas acho que o futebol é um assunto que pode atrair novos leitores", avalia Clara.

Ela tem razão. Se o aumento de livros sobre futebol é um gol de placa para o mercado literário, ele não reflete um aumento real do número de leitores no Brasil. Divulgada em 2012, a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", do Instituto Pró-Leitura, revela que o brasileiro está lendo menos.

A média de livros lidos por todos os 5.012 entrevistados nos três meses que antecederam a pesquisa foi de 1,85 título em 2011, contra 2,4 livros em 2007. Ainda em 2011, 88,2 milhões de brasileiros haviam lido apenas uma obra. Os campeões de leitura na América Latina, Chile e Argentina, têm, respectivamente, uma média de 5,4 e 4,6 livros lidos por habitante ao ano.

A 30ª edição da Bienal do Livro acontece até o próximo 8 de setembro, no Rio de Janeiro.