Livros para quem quer pirar de vez com a pandemia de coronavírus
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Primeiro foram ficções consagradas. Com a explosão da pandemia e a quarentena imposta mundo afora, leitores resgataram obras como "A Peste", de Albert Camus, "Um Diário do Ano da Peste, de Daniel Defoe, e "Amor Nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez. Este ganhou até um trecho apócrifo espalhado via WhatsApp (fraquinho e meloso, o texto que pinga de celular em celular é do italiano Alessandro Frezza, não de Gabo).
Cada um faz o que quiser com suas leituras, não tenho nada a ver com isso. Por aqui, quando há cabeça para algum livro além dos que leio por obrigação, prefiro ir para um mundo onde não lembre do coronavírus a cada página. Muitos, no entanto, não conseguem parar de pensar na pandemia. Para quem quer pirar de vez não desgrudando do assunto e não se desagarrando da condição em que estamos metidos por conta do vírus, livros de não ficção começam a pipocar por aí.
"Na Batalha Contra o Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade", de Yuval Noah Harari, e "O Amanhã Não Está à Venda", de Ailton Krenak, ambos publicados pela Companhia das Letras, fizeram grande sucesso há algumas semanas, quando as pessoas ainda levavam a sério a ideia de ficar em casa para se salvar e ajudar a salvar os outros. No embalo da febre, escrevi sobre um terceiro título que chegou ao Brasil pouco antes do corona, num momento oportuno para surfar nessa possível versão do apocalipse. Falo de "O Fim Está Sempre Próximo", escrito por Dan Carlin (HarperCollins Brasil).
Dentre as novidades, me chamou bastante atenção o "Contágio Social: Coronavírus e a Luta de Classes Microbiológica na China", publicado pela Veneta em sua Coleção Baderna. Escrito pelo coletivo comunista Chuang, formado por pensadores e ativistas anônimos (alguns deles vivem exilados, garantem), o livro apresenta uma análise sobre os impactos do coronavírus baseada em dados econômicos, em estudos das pandemias, em interpretações contemporâneas do capitalismo e no conhecimento dos autores da complexidade cultural chinesa. A mistura parece boa. Estivesse a fim de encarar o assunto, começaria por ele.
Para os fãs da cloroquina
A Intrínseca está com duas novidades que dialogam com este momento. "A Grande Gripe", do historiador e jornalista John M. Barry, oferece ao leitor um panorama da gripe espanhola, responsável pela morte de 5% da população do planeta no começo do século passado (que horror seria se batêssemos os 380 milhões de mortos pelo corona, hein!?). Já "Inimigo Mortal", parceria do epidemiologista Michael T. Osterholm com o escritor Mark Olshaker, analisa como lidamos com outros surtos recentes em nossa história: Sars, Aids, Ebola, Mers, Zika... A obra, lançada originalmente em 2017, ganhou nesta edição em português um prefácio dos autores comentando a atual pandemia e deixando esta mensagem para todos nós:
"Todos [os surtos] pegaram o mundo de surpresa, e não deveria ter sido assim. Como o próximo também não deverá - e, tenha certeza, haverá um próximo, depois outro e outro e outro. E, como traçamos neste livro, um desses surtos será ainda maior e mais grave que o Covid-19. O mais provável, como escrevemos, é que seja um novo vírus influenza, com o mesmo impacto devastador da Grande Pandemia de 1918-19, que matou entre 50 e 100 milhões de pessoas, mas agora em um mundo com população três vezes maior, viagens aéreas internacionais, megalópoles em equilíbrio precário em países em desenvolvimento...". Sim, a Grande Pandemia é a maneira como Michael e Mark tratam a Gripe Espanhola. Tá aí o vislumbre do horror mencionado há pouco.
Só que se eu estivesse a fim de mergulhar nos assuntos relacionados à tragédia da vez, leria logo um livro da Todavia. "Dez Drogas - As Plantas, os Pós e os Comprimidos que Mudaram a História da Medicina" saiu no ano passado nos Estados Unidos e chegou há poucos meses aqui no Brasil, já neste ano. Nele, o jornalista Thomas Hager, especialista em história da medicina e da ciência, conta como a descoberta e o desenvolvimento de dez remédios impactaram na humanidade. Posso estar errado, mas me parece que o título faria bem sobretudo aos que insistem em defender a tal cloroquina, agora rechaçada até pela Organização Mundial da Saúde, tendo como base algum delírio ou interesse obscuro.
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