Até Maurício de Sousa esculacha "Liga da Justiça" em novo gibi
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Fui acusado recentemente de ser um ignorante quando o assunto é quadrinhos, graças a minha isenta e equilibrada resenha sobre o filme da "Liga da Justiça". Aproveitei a oportunidade para conhecer uma miríade de ofensas que jamais havia suspeitado existirem.
Mas creio que a fúria direcionada a mim seja injustificada. O que me acalmou foi ler a revista "Clássicos do Cinema" de número 58, preparada pela Maurício de Sousa Produções e publicada pela Panini Comics, que traz uma paródia da Turma da Mônica ao estapafúrdio "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016). O gibi é um verdadeiro esculacho para cima do universo cinematográfico da DC. E ninguém vai ousar dizer que Maurício de Sousa e sua valorosa equipe não manjam nada sobre quadrinhos, imagino eu.
Com a certeza de que estou no lado certo da história, aproveito para recomendar a divertidíssima edição. Se alguns consideraram o teor de minha crítica ácido demais, creio que ficarão com dor de estômago ao ler a aventura do Batmenino (Cebolinha) contra Super-Home (Chico Bento).
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Talvez um breve preâmbulo se prove necessário. Há décadas que as paródias são uma das forças motrizes dos quadrinhos brasileiros. O mais célebre produto dessa estirpe foi o gibi dos Trapalhões, em suas duas encarnações mais relevantes, trazendo sempre comentários picantes sobre a cultura popular dos anos 80 e 90.
Desde o esvaziamento da produção nacional da Editora Abril, são os estúdios da MSP que vêm mantendo a chama acesa. A Turma da Mônica hoje chancela duas publicações pisando nos calos de Hollywood: a supracitada "Clássicos do Cinema", trimestral e em formato magazine, e uma versão luxuosa da mesma série, com edições temáticas em capa dura e seleção das melhores histórias.
Como todo bom profissional de humanas, os autores de "Batmenino vs Super-Home" são uns desavergonhados nerds. Conseguiram enfiar em 52 páginas mais referências do que qualquer youtuber antenadão sobre easter eggs de blockbuster. Seria até o caso de haver algum tipo de índice remissivo, explicado cada uma das brincadeiras ao longo da história.
Além de arruinar completamente a (pouca) moral dos filmes da DC, o gibi ainda brinca com a própria cronologia do "Sousaverso", faz acenos à Marvel, Chaves, Tintim e uma infinidade de outras esquinas do universo pop. Claro que apenas os ex-jovens em atividade, entre 30 e 40 anos, serão capazes de pescar tudo, ainda que não sejamos o público primário.
Compartilho com o amigo leitor algumas passagens que me causaram muita alegria.
Superman é um caipira
A turma do Maurício de Sousa entendeu algo fundamental que escapou completamente à capacidade cognitiva de Zack Snyder: Superman é um caipira. Enquanto o diretor dos blockbusters fracassados retratou o grande herói americano como um E.T.eimoso, aqui encontramos Chico Bento representando muito bem as cidades do interior.
Os trocadilhos nos nomes de personagens
Faz tempo que nossos quadrinhos desenvolvem um excelente trabalho de esculhambação total e irrestrita. Mas achei essa edição especialmente inspirada. "Chico Bent" é genial!
A infantilidade do roteiro original
Os dois heróis passam 3 horas fechando porrada para fazer as pazes ao descobrirem que suas mães tem o mesmo nome. O ridículo da situação em "Batman vs Superman" é exposto como uma obra de arte no gibi.
A infantilidade do roteiro original (II)
Batmenino demonstra como a embalagem "dark e verossímil" do universo DC nos cinemas é frágil ao nos lembrar que bravatas ridículas como "você sangra?" soa tão aparvalhado quanto "cueca é por dentro da calça". O sumiço das roupas de baixo por cima do look dos heróis demonstra que os austeros profissionais responsáveis pela Liga da Justiça são inseguros como os pré-adolescentes que consomem suas bugigangas.
Zé Lelé como Lex Luthor
Muito se falou sobre os problemas de casting de Lex Luthor. Jesse Eisenberg errou feio na interpretação do empresário / cientista / psicopata. E ninguém melhor para ilustrar essa confusão generalizada do que Zé Lelé para viver tão deprimente papel.
Politicamente correto
Não pega bem desenhar armas em gibis infantis, aparentemente. Mas o gibi consegue resolver de maneira duplamente estapafúrdia: colocar tarjas pretas para "censurar" os trabucos e usar isso como crítica à própria solução criativa.
Um afago para os esquisitões com mais de 30 anos que ainda compram gibizinhos
Faça um teste: mostre essa página para aquele seu sobrinho de 10 ou 12 anos. Veja quantos personagens ele será capaz de identificar. Pindarolas, é muito provável que nem o Cebolinha ele acerte.
Resumindo, trata-se de mais um golaço da Maurício de Sousa Produções. Com sua trajetória de tanto sucesso, podemos até dizer que a MSP é a Marvel brasileira.
No mais, por enquanto é isso.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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