Maurício de Sousa mais uma vez deixa a Disney para trás
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Talvez você tenha ouvido falar do fenômeno chamado booktubers: jovens ávidos por literatura e quadrinhos que fazem reviews sobre suas últimas leituras no YouTube. É um mercado em franca expansão, especialmente graças à popularidade do gênero young adult para a geração que cresceu lendo Harry Potter.
Tem uma rapaziada ficando famosa na internet simplesmente por comprar gibis. Raramente discutem as tramas ou seus personagens preferidos, mas investem tempo e dinheiro para exibir as lombadas das edições de luxo, discutir quais os melhores sites para adquirir tudo com desconto e reclamar muito quando alguma editora não publica o que desejam --apesar do volume de novos lançamentos por mês beirar o absurdo atualmente.
O assunto de hoje é motivado por um dos principais expoentes dos ostentubers, os YouTubers ostentadores que são viciados em adquirir muita coisa e rapidamente guardar na estante, sem qualquer pressa para ler coisa alguma.
Alexandro, autointitulado O Colecionador, é dono de um canal muito interessante sobre quadrinhos. O rapaz compra tudo que sai nas bancas e livrarias brasileiras, desde os gibis mais pedestres até as coleções mais parrudas, passando por peças de xadrez da Marvel, pôsteres e até miniaturas de absolutamente qualquer coisa.
Discussões sobre o design das lombadas, principalmente depois que algumas editoras passaram a oferecer uma bela arte como diferencial nas coleções completas, já é comum entre entusiastas de quadrinhos.
Polêmicas envolvendo o papel utilizado em cada edição também são muito importantes --um leitor médio não faz a menor ideia do que é pisa-brite, lwc ou off-set, mas um aficionado é capaz de passar horas xingando outros fãs por conta do tema (normalmente reclamando da escolha da editora, independente de qual tenha sido).
Um novo capítulo no fundamental debate sobre quadrinhos vem à tona com o lançamento do vídeo "Elogio: Panini arrasa no formatinho X Abril baixo nível", de Alexandro, O Colecionador.
Filmando com uma mão e folheando os gibis com a outra, o youtuber demonstra de maneira bucólica a qualidade de encadernação do novo almanacão da Turma da Mônica em comparação ao trabalho desenvolvido pelos calhamaços da Disney.
Imbuído pelo caráter investigativo desta coluna, resolvi ver com as minhas próprias mãos essa situação.
Como um jornalista gonzo com problemas de compulsão bem diferentes de Hunter S. Thompson, fui até a banca mais próxima atrás das publicações citadas por meu guru virtual. Chegando lá, fingi espanto: cada edição não sai por menos de R$ 15, variando entre 240 páginas (Disney Especial) e 300 páginas (Superalmanaque Turma da Mônica, Disney BIG).
Mas a quem estou querendo enganar com minha surpresa? Não aposto em cavalos, mas sofro de um hobby ainda mais propenso a falir famílias: já perdi o equivalente a 3 apartamentos comprando gibis. Acompanho tais revistinhas desde o tempo em que dava para comprá-las com o troco do pão --mas nem uma dieta low carb foi capaz de afastar meu entusiasmo por quadrinhos.
De qualquer forma, o resultado de minha pesquisa foi impressionante.
Disney Especial
A edição mais recente da coleção Disney Especial traz apenas histórias sobre personagens azarados. Ninguém deve ter menos sorte do que o fã da Disney no Brasil, graças às páginas enrugadas que dificultam a leitura. Se a encadernação parece perigosa para adultos, fico imaginando quanto tempo elas duram nas mãozinhas pouco delicadas do público-alvo, as crianças.
Disney BIG
Disney BIG sofre do mesmo problema, com rachaduras no miolo e muita dificuldade para ler as bordas das páginas à esquerda. Típico da Editora Abril. Não bastasse os problemas técnicos, o gibi ainda traz aventuras inéditas desenvolvidas principalmente na Itália e uma vasta coletânea de velharias --com o agravante de ter 60 páginas a mais de histórias em relação ao Disney Especial.
Superalmanaque Turma da Mônica
Veja a leveza do encadernado da Panini. A qualidade do material faz parecer até que é poesia, embora seja só mais um plano infalível do Cebolinha.
Alexandro estava certo. A Turma da Mônica mais uma vez se sobressaiu em relação aos habitantes de Patópolis.
Apesar da qualidade discutível do produto final, o sucesso dos gibis difíceis de manusear da Disney motivou a editora Abril a lançar caríssimas edições de luxo. As belas lombadas ficam perfeitas na estante --e bem longe das mãos de leitores enxeridos.
Afinal, é esse o objetivo principal de qualquer colecionador que se preza.
VIDEOGRAFIA RECOMENDADA: ALEXANDRO COLECIONADOR
Veja o vídeo que inspirou essa coluna: o colecionador Alexandro tece loas à Panini, normalmente um de seus alvos preferidos, enquanto defenestra o trabalho da Abril.
Também montei uma playlist básica para que mais pessoas tenham acesso ao fundamental trabalho do Canal do Colecionador no YouTube.
Episódios selecionados:
1 - Deitado na cama, o Colecionador reclama da coleção DC Eaglemoss
2 - O dia em que admitiu que nunca leu Cavaleiro das Trevas ou Watchmen, apesar de tê-los na estante
3 - Dicas práticas para usufruir quadrinhos de luxo da melhor forma
4 - Já parou pra pensar quem é que compra aquela coleção de miniaturas de caminhões nas bancas?
Continuo atento às novidades do mercado editorial brasileiro. Voltamos a qualquer momento com novas informações.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.