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Maurício de Sousa mais uma vez deixa a Disney para trás

"Somos todos Bairro do Limoeiro" - Divulgação
"Somos todos Bairro do Limoeiro"
Imagem: Divulgação

29/06/2017 04h00

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Talvez você tenha ouvido falar do fenômeno chamado booktubers: jovens ávidos por literatura e quadrinhos que fazem reviews sobre suas últimas leituras no YouTube. É um mercado em franca expansão, especialmente graças à popularidade do gênero young adult para a geração que cresceu lendo Harry Potter.

Tem uma rapaziada ficando famosa na internet simplesmente por comprar gibis. Raramente discutem as tramas ou seus personagens preferidos, mas investem tempo e dinheiro para exibir as lombadas das edições de luxo, discutir quais os melhores sites para adquirir tudo com desconto e reclamar muito quando alguma editora não publica o que desejam --apesar do volume de novos lançamentos por mês beirar o absurdo atualmente.

O assunto de hoje é motivado por um dos principais expoentes dos ostentubers, os YouTubers ostentadores que são viciados em adquirir muita coisa e rapidamente guardar na estante, sem qualquer pressa para ler coisa alguma.

Alexandro, autointitulado O Colecionador, é dono de um canal muito interessante sobre quadrinhos. O rapaz compra tudo que sai nas bancas e livrarias brasileiras, desde os gibis mais pedestres até as coleções mais parrudas, passando por peças de xadrez da Marvel, pôsteres e até miniaturas de absolutamente qualquer coisa.

Alexandro - Reprodução - Reprodução
Alexandro enviando suas considerações diretamente da caminha (à esquerda); a elegante Coleção Marvel da Salvat no grande acervo de gibis jamais lidos de Chico Barney (à direita)
Imagem: Reprodução

Discussões sobre o design das lombadas, principalmente depois que algumas editoras passaram a oferecer uma bela arte como diferencial nas coleções completas, já é comum entre entusiastas de quadrinhos.

Polêmicas envolvendo o papel utilizado em cada edição também são muito importantes --um leitor médio não faz a menor ideia do que é pisa-brite, lwc ou off-set, mas um aficionado é capaz de passar horas xingando outros fãs por conta do tema (normalmente reclamando da escolha da editora, independente de qual tenha sido).

Um novo capítulo no fundamental debate sobre quadrinhos vem à tona com o lançamento do vídeo "Elogio: Panini arrasa no formatinho X Abril baixo nível", de Alexandro, O Colecionador.

Filmando com uma mão e folheando os gibis com a outra, o youtuber demonstra de maneira bucólica a qualidade de encadernação do novo almanacão da Turma da Mônica em comparação ao trabalho desenvolvido pelos calhamaços da Disney.

Dramas - Reprodução/Canal do Colecionador - Reprodução/Canal do Colecionador
Dramas reais de um leitor de quadrinhos com canal no YouTube (fonte: Canal do Colecionador)
Imagem: Reprodução/Canal do Colecionador

Imbuído pelo caráter investigativo desta coluna, resolvi ver com as minhas próprias mãos essa situação.

Como um jornalista gonzo com problemas de compulsão bem diferentes de Hunter S. Thompson, fui até a banca mais próxima atrás das publicações citadas por meu guru virtual. Chegando lá, fingi espanto: cada edição não sai por menos de R$ 15, variando entre 240 páginas (Disney Especial) e 300 páginas (Superalmanaque Turma da Mônica, Disney BIG).

Mas a quem estou querendo enganar com minha surpresa? Não aposto em cavalos, mas sofro de um hobby ainda mais propenso a falir famílias: já perdi o equivalente a 3 apartamentos comprando gibis. Acompanho tais revistinhas desde o tempo em que dava para comprá-las com o troco do pão --mas nem uma dieta low carb foi capaz de afastar meu entusiasmo por quadrinhos.

De qualquer forma, o resultado de minha pesquisa foi impressionante.

Disney Especial

Gibis - Chico Barney - Chico Barney
Imagem: Chico Barney

A edição mais recente da coleção Disney Especial traz apenas histórias sobre personagens azarados. Ninguém deve ter menos sorte do que o fã da Disney no Brasil, graças às páginas enrugadas que dificultam a leitura. Se a encadernação parece perigosa para adultos, fico imaginando quanto tempo elas duram nas mãozinhas pouco delicadas do público-alvo, as crianças.

Disney BIG

Disney Big - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Disney BIG sofre do mesmo problema, com rachaduras no miolo e muita dificuldade para ler as bordas das páginas à esquerda. Típico da Editora Abril. Não bastasse os problemas técnicos, o gibi ainda traz aventuras inéditas desenvolvidas principalmente na Itália e uma vasta coletânea de velharias --com o agravante de ter 60 páginas a mais de histórias em relação ao Disney Especial.

Superalmanaque Turma da Mônica

Superalmanaque Turma da Mônica - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Veja a leveza do encadernado da Panini. A qualidade do material faz parecer até que é poesia, embora seja só mais um plano infalível do Cebolinha.

Alexandro estava certo. A Turma da Mônica mais uma vez se sobressaiu em relação aos habitantes de Patópolis.

Apesar da qualidade discutível do produto final, o sucesso dos gibis difíceis de manusear da Disney motivou a editora Abril a lançar caríssimas edições de luxo. As belas lombadas ficam perfeitas na estante --e bem longe das mãos de leitores enxeridos.

Afinal, é esse o objetivo principal de qualquer colecionador que se preza.

Coleção de gibis - Chico Barney - Chico Barney
Mais alguns exemplares dos gibis que Chico Barney jamais se importou o suficiente para ler
Imagem: Chico Barney

VIDEOGRAFIA RECOMENDADA: ALEXANDRO COLECIONADOR

Veja o vídeo que inspirou essa coluna: o colecionador Alexandro tece loas à Panini, normalmente um de seus alvos preferidos, enquanto defenestra o trabalho da Abril.

Também montei uma playlist básica para que mais pessoas tenham acesso ao fundamental trabalho do Canal do Colecionador no YouTube.

Episódios selecionados:
1 - Deitado na cama, o Colecionador reclama da coleção DC Eaglemoss
2 - O dia em que admitiu que nunca leu Cavaleiro das Trevas ou Watchmen, apesar de tê-los na estante
3 - Dicas práticas para usufruir quadrinhos de luxo da melhor forma
4 - Já parou pra pensar quem é que compra aquela coleção de miniaturas de caminhões nas bancas?

Continuo atento às novidades do mercado editorial brasileiro. Voltamos a qualquer momento com novas informações.