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Antes de vir ao Lollapalooza, Bring Me The Horizon lança disco mais pop; ouça

A banda britânica Bring Me the Horizon - Divulgação
A banda britânica Bring Me the Horizon
Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

25/01/2019 04h00

Se o Bring Me The Horizon (ou, simplesmente BMTH) entrasse no "10 year challenge", o desafio dos dez anos que sacudiu as redes sociais, o que se veria na imagem de 2009 é um grupo de moleques que já fazia barulho - literal e metafórico - na cena inglesa. Mas ao cortarmos para dez anos depois, muita coisa mudou, inclusive no som. Nesta sexta-feira (25), a banda lança seu sexto disco, "Amo", mirando ainda mais no pop e buscando ampliar o sucesso de "That's the Spirit" (2015), que os levou ao número 2 das paradas norte-americanas.

O Bring Me The Horizon que chega a "Amo" e que se apresenta no Lollapalooza deste ano, em São Paulo, é bem diferente do que foi criado em 2004. Lá, o quinteto tocava deathcore - uma amalgama de metal extremo com hardcore, que foi a base do álbum de estreia, "Count Your Blessings". Eles passaram a ser conhecidos com o segundo disco, "Suicide Season", desta vez transitando pelo metalcore. E desde então, o sucesso só cresceu à medida que o peso de suas canções diminuía. Um tanto excluídos na cena metal pelo visual e até pelo som, passar a ter músicas mais acessíveis provou ser o caminho do sucesso para o grupo.

A banda Bring me the Horizon em foto de 2009 - Divulgação - Divulgação
A banda Bring me the Horizon em foto de 2009
Imagem: Divulgação

O desafio do BMTH é provar que ter se "vendido", como alguns fãs das antigas acusam, flertando mais com pop, hardcore e até o emo, não foi um erro e que, mesmo com um som mais suave eles conseguem manter a personalidade. "That's the Spirit" já mostrava esse rumo, com linhas suaves nos vocais de Oliver Sykes, batidas eletrônicas e refrãos supergrudentos.

A banda lançou entre 2018 e 2019 quatro singles e conseguiu com o primeiro deles, "Mantra", sua primeira indicação ao Grammy, na categoria melhor canção de rock. Com 30 milhões de audições no Spotify, a faixa indica que ainda há espaço para peso, com guitarras pesadas e alguns gritos de Sykes, mas sempre com atenção especial às melodias e elementos pop.

O single "Medicine" chegou a ser chamado de "uma composição à la Maroon 5" pela imprensa norte-americana de metal, enquanto "Wonderful Life" veio mais roqueira, com participação de Dani Filth, vocalista da banda de black metal Cradle of Filth.

O destaque para essa guinada pop é "Mother Tongue", que traz o título do disco em sua letra. A balada tem uma pegada mais eletrônica e cheia de elementos pop e um refrão que diz "so don't say you love, me fala amo" (em tradução livre, então não diga que me ama, me fala amo). O mais curioso é que o sotaque de Sykes faz "amo" virar "emo". Significa?

Para completar, outro single foi lançado na quinta-feira (24), "Nihilist Blues", e mais uma vez trouxe quase nada de rock, com muita música eletrônica e pop.

Virada na vida pessoal influenciou a banda

Apesar de parecer uma linha consistente de ascensão, por trás dos discos e shows o Bring me the Horizon teve dificuldades para lidar com seu sucesso. Em entrevista ao "The Independent", antes de "That's the Spirit", Oliver Sykes falou abertamente sobre como a fama estava distanciando os integrantes do grupo e como seus vícios acabaram sendo uma "benção com sofrimento", para que as coisas mudassem, principalmente depois de "Sempiternal" - quando encararam uma polêmica com o Coldplay.

Sykes estava viciado em cetamina, uma substância anestésica, e, após vencer o problema, "That's the Spirit" veio com uma mensagem sobre a pior fase da vida do vocalista. "Eu quase me matei. Eu já não ligava se vivia ou morria, Eu estava muito perto do suicídio, e queria morrer. Mas saí dessa pela minha família, meus amigos e minha banda", afirmou Sykes ao jornal.

As letras vieram com o que o vocalista chama de "positividade negativa", ou, sobre como achar a felicidade mesmo na tristeza.

Desta vez, mais uma questão pessoal influenciou no processo. "Amo" teve o divórcio de Sykes como um dos motivadores na hora de compor. O título tem um trocadilho em inglês, já que "ammo" quer dizer munição. "Claro que 'amo' quer dizer 'eu amo', em português, mas ainda pode ser lido como 'mestre' em português de Portugal e tem o trocadilho com munição. Então, soa feliz, mas tem esses significados ocultos que deixam as coisas mais complexas", explicou Sykes ao site da revista "NME".

"Eu enfrentei um divórcio há uns dois anos e não queria falar disso. Não queria dar a glória àquela pessoa de escrever sobre ela, mas, depois de um tempo, eu vi que precisava fazer isso, tirar do meu sistema. Sempre disse isso, escrever músicas é a coisa mais terapêutica que se pode fazer. De certa forma é uma sorte poder colocar isso para fora, escrevendo e subindo no palco para cantar", completou ele.

O BMTH já tocou no Brasil, sendo que a última vez foi na turnê de "That's the Spirit". O sucesso internacional ainda não é retribuído da mesma forma no país, mas rendeu a posição de maior prestígio da banda até aqui agora, com sua inclusão no line-up do Lollapalooza. Os ingleses tocam no mesmo dia de Kings of Leon, Post Malone e Bring me the Horizon, no sábado, dia 6 de abril, no autódromo de Interlagos de São Paulo.