Um leão na casa do Mickey

Jon Favreau passou de coadjuvante em Hollywood para peça fundamental do universo criativo da Disney

Rodolfo Vicentini Do UOL, em Los Angeles Tolga AKMEN / AFP
REUTERS/Mario Anzuoni

Uma década de sucesso

Jon Favreau acabou de dirigir O Rei Leão, mas nos últimos 11 anos ele esteve presente como diretor ou produtor em Homem de Ferro, Homem de Ferro 2, Vingadores, Mogli, o Menino Lobo e The Mandalorian (a série do universo Star Wars).

Quem vê o braço direito da Disney colhendo bilheterias gigantescas e sendo um dos protagonistas criativos do estúdio, talvez não se lembre do começo dele em Hollywood como ator e roteirista de filmes menores de comédia, como Swingers: Curtindo a Noite (1996) e Crime Desorganizado (2001). Ou mesmo como Pete Becker, o namorado playboy de Monica, na série Friends.

Sua explosão no blockbuster foi em Homem de Ferro, filme que deu origem ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), a maior saga conjunto da história do cinema com 23 filmes... até agora.

O atarefado "faz tudo" chegou a trabalhar ao mesmo tempo em O Rei Leão, Homem-Aranha: Longe de Casa e Star Wars, passando anos para compreender como contar a história de Simba e Mufasa com uma tecnologia inédita.

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A importância de Jon Favreau na origem do MCU

Antes de chegar a uma das importantes cadeiras da Disney, Favreau fez seu primeiro contato com produtores da Marvel em 2003 (seis anos antes de os dois estúdios se unirem), quando interpretou Franklin "Foggy" Nelson em Demolidor - o Homem sem Medo. Um papel sem muito destaque, mas que colocou seu nome para circular.

Anos depois, em 2006, a Marvel procurava um diretor para o primeiro filme do Homem de Ferro. O produtor Avi Arad, que tinha trabalhado com Favreau em Demolidor, foi quem cantou a bola sobre ele assumir o projeto.

Favreau era considerado um diretor promissor: esteve por trás de Um Duende em Nova York (2003), um filme de ação com comédia, e Zathura: Uma Aventura Espacial (2005), que passeava entre ação, fantasia e humor.

Essa experiência foi o combustível para que o produtor e presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, o escolhesse para comandar o primeiro filme do Homem de Ferro, um herói playboy, irônico e que derrotava seus inimigos graças a uma armadura tecnológica.

A Marvel queria um diretor que soubesse focar na história. Ser um nome conhecido em Hollywood não era um pré-requisito naquele momento. Tanto que o próprio Jon Favreau define o desenvolvimento de Homem de Ferro como o de um filme independente.

Ninguém acreditava em nós. O que era sucesso na época era o Batman [de Christopher Nolan]. Estávamos na sombra disso tudo, o que foi bom para nós. E demos sorte que Robert Downey Jr. não era tão caro na época.

Favreau ainda foi o responsável por bater o pé e escolher Robert Downey Jr. para viver o protagonista da abertura do MCU. Os executivos da Marvel não tinham tanta certeza se o então problemático ator conseguiria incorporar o Tony Stark que o público precisava. A confiança no cineasta levou à escalação do astro, que se transformou em um dos símbolos da Marvel Studios.

Kevin Feige disse que o formato burocrático que eles costumavam trabalhar também foi quebrado com Favreau, que preferia conversar a ter que ler centenas de papéis e trocas de e-mails. O presidente da Marvel Studios ainda revelou em 2017 que o cineasta, muitas vezes, não recebeu os créditos necessários pelo que fez para fazer do MCU uma força poderosa.

Homem de Ferro arrecadou US$ 585 milhões, quatro vezes mais do que custou para os cofres da Marvel, e ditou o ritmo de praticamente todos os filmes do estúdio, juntando ótimas cenas cômicas a efeitos visuais certeiros e momentos de ação impressionantes.

Jesse Grant / Stringer

Aposta certa

Com o sucesso de Homem de Ferro, Jon Favreau foi escalado para ser produtor executivo de todos os Vingadores, trabalhando em conjunto nos últimos anos com os irmãos Joe e Anthony Russo.

Nos bastidores, Favreau passou a imprimir seu estilo. Todos os filmes da Marvel são derivações do que Homem de Ferro se propôs a contar: equilíbrio entre humor e aventura, espaço para cada herói, diálogos engraçados e cuidado com os efeitos visuais.

Mais do que seu próprio trabalho, Favreau ainda abriu caminho para que a Marvel começasse a apostar mais em diretores pouco experientes para contar suas histórias, como James Gunn (Guardiões da Galáxia), Ryan Coogler (Pantera Negra) e a dupla Anna Boden e Ryan Fleck (Capitã Marvel).

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O caminho dentro da Disney

Jon Favreau chegou à Marvel Studios como uma promessa e se tornou um nome de confiança da Disney depois ter arrecadado quase US$ 1 bilhão com a versão live-action de Mogli - O Menino Lobo (2016).

Com a tecnologia revolucionária de Avatar, que James Cameron tinha planejado em 2009, Favreau recontou a história do menino criado por animais. O filme serviu para plantar a ideia de que remakes do estúdio poderiam ser viáveis comercialmente. E deu certo.

O próximo passo dentro da Disney, enquanto ainda trabalhava nos Vingadores e fazia por fora o filme Chef (um retorno às origens com uma comédia de baixo orçamento), foi pensar em O Rei Leão, atualizando o formato da animação e com novas ideias para definir o rumo de como efeitos especiais podem conversar com a sétima arte.

Favreau foi uma espécie de maestro de uma equipe gigantesca que trabalhou em cada take de O Rei Leão, bolando até um game em realidade virtual para que o elenco entendesse como incorporar na voz os animalescos personagens.

Essa foi uma das grandes diferenças entre O Rei Leão e Mogli. Em Mogli, nós usamos roupas de captação de movimento que tinham sido desenvolvidas dez anos atrás para Avatar. Mas no final do filme, já tinha um mercado aquecido dos VR (realidade virtual).

A savana tecnológica

O Rei Leão evoluiu a tecnologia de Avatar de uma maneira revolucionária para as animações de Hollywood. O filme inteiro é digital, não há nada real no que você vê na tela de cinema, e ainda assim é inevitável pensar que você está vendo um documentário do National Geographic.

Favreau utilizou a realidade virtual não como um acessório do diretor, mas como um recurso dentro das gravações para que os atores mergulhassem no mundo de O Rei Leão e sentissem a melhor maneira de como interpretar seus respectivos animais.

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E não para por aí...

O futuro de Jon Favreau parece ainda mais promissor. Para este 2019, The Mandalorian, a primeira série em live-action do universo Star Wars, será lançado pela Disney. Ele assina não só a criação do projeto como também a produção executiva.

A série será exclusiva da Disney+, a plataforma de streaming da empresa que será lançada para bater de frente com a gigantesca Netflix.

Outro projeto que também está na lista de Favreau é a sequência mais do que aguardada de Mogli - o Menino Lobo. O filme ainda está no desenvolvimento inicial e deve começar a ser produzido ano que vem.

Depois de tantos acertos, o cineasta conseguiu se firmar como o braço direito da Disney e seus próximos projetos podem colocá-lo em um patamar ainda mais significativo dentro de Hollywood, muito distante do seu começo tímido nas comédias independentes.

Trailer legendado de O Rei Leão

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