O fim de uma era da TV

Despedida de "Game of Thrones" põe fim à época em que todos paravam para ver a mesma coisa

Beatriz Amendola Do UOL, em São Paulo Divulgação

Quando o último episódio de "Game of Thrones" for exibido, neste domingo, ele não marcará apenas a despedida da série, mas também o fim de uma era da TV: aquela em que as pessoas paravam tudo o que estavam fazendo, em certo horário, para assistir à mesma coisa.

No momento em que as quedas de audiência afetam de séries-blockbuster como "The Walking Dead" às telenovelas globais, a saga da HBO, criada por David Benioff e DB Weiss, foi a única que conseguiu não só aumentar exponencialmente o seu número de fãs como também se tornar um dos maiores fenômenos culturais já vistos. Independentemente de seu final ser satisfatório ou não, uma coisa é certa: "Game of Thrones" já fez história.

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Veja o teaser do último episódio da série

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Fenômeno

Um dos grandes expoentes da chamada "Era de Ouro" da TV americana "Game of Thrones" estreou em 2011, quando Netflix e outros serviços de streaming ainda estavam em fase inicial. Com sua produção de alto nível e suas reviravoltas pouco comuns na TV, a adaptação das "Crônicas de Gelo e Fogo", de George R.R. Martin, foi ganhando fãs na base do boca a boca e não só arrebatou milhões de espectadores na HBO como também se tornou a segunda série mais pirateada daquele ano - atrás apenas de "Dexter", segundo o site Torrent Freak.

Daí em diante, a série veio em uma curva crescente, com a audiência aumentando significativamente a cada ano. A primeira temporada manteve, nos Estados Unidos, uma média de 2,2 milhões de espectadores por episódio. O penúltimo episódio da série, o recordista (até o momento), foi visto por quase nove vezes mais gente: foram 18,4 milhões de espectadores, tanto na TV como no streaming da HBO, segundo dados da consultoria Nielsen.

Nesse meio tempo, a pirataria também cresceu: segundo dados da consultoria MUSO, a estreia da oitava temporada da série foi pirateada cerca de 55 milhões de vezes no mundo todo. Não deixa de ser uma prova do sucesso da produção com o público - tanto que em 2013 o então CEO da Time Warner (dona da HBO), Jeff Bewkes, disse que o título de "série mais pirateada" do mundo era "melhor do que ter um Emmy", referindo-se ao prêmio que é considerado o "Oscar da TV".

(Aqui, um parêntesis: desde que ele deu aquela declaração, "Game of Thrones" se tornou, também, a série mais premiada da história do Emmy - e deve continuar quebrando seu próprio recorde neste ano.)

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Como "Thrones" chegou lá

Desde seu início, a série chamou a atenção: seu visual, com figurinos elaborados e efeitos especiais de primeira linha, estava muito acima do que a concorrência apresentava; ela também mostrava um universo de fantasia que era incomum no cenário da TV americana, à época centrado em figuras anti-heroicas como o Don Draper de "Mad Men" e o assassino em série que era o personagem-título de "Dexter".

Mas talvez mais importante do que isso fosse a forma como "Game of Thrones" contava a sua história. A série subvertia a todo tempo os clichês narrativos, com reviravoltas bem construídas e nenhum pudor em matar personagens queridos do público. Isso era suficiente não só para deixar o público ansioso pelo próximo episódio, mas também manter a produção entre os assuntos mais comentados da semana, seja nas redes sociais ou no cafezinho da firma.

Dessa forma, "Thrones" acabou criando (e fortalecendo) uma cultura em que os fãs faziam questão de assistir ao episódio na hora em que ele fosse ao ar - especialmente para não correr o risco de tomar um spoiler e ter sua experiência de assistir ao episódio estragada. Em sintonia com isso, em 2015 a HBO anunciou que pela primeira vez a série teria transmissão simultânea em nada menos do que 170 países e lançou, nos Estados Unidos, seu serviço de streaming independente da TV a cabo.

Não por acaso, foi o mesmo ano em que a atração parou o mundo com a morte do mocinho Jon Snow, ao fim de sua quinta temporada. Pelos meses seguintes, até a estreia da sexta temporada, especulações sobre o destino do personagem dominaram todas as conversas no universo da cultura pop, e Kit Harington passou a ter cada passo seu acompanhado por fãs e paparazzi. O processo mandou o ator direto para a terapia, mas foi a prova definitiva da força da série como fenômeno cultural.

E ela, indiscutivelmente se manteve: desde o início de sua oitava e última temporada, "Game of Thrones" está entre os assuntos mais comentados -- em todos os lugares.

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E a concorrência?

Ao longo das oito temporadas de "Game of Thrones", a HBO viu surgir uma nova concorrência na forma de plataformas de streaming como a Netflix e o Amazon Prime Video. Elas mudaram a forma como consumimos TV, popularizando e facilitando as chamadas maratonas ao lançar, de uma vez só, temporadas completas em seus serviços.

"Thrones", porém, teve o luxo de passar incólume por isso - e é a única série que tem força suficiente para atrair os espectadores em um horário pré-determinado em uma época na qual qualquer um pode assistir as suas séries favoritas na hora que quiser.

A série de Weiss e Benioff, vale notar, se tornou inclusive referência para as plataformas. A Netflix até tentou (mas não conseguiu) ter uma "Game of Thrones" com a épica "Marco Polo", uma extravagância que custou US$ 200 milhões, divididos em duas temporadas; agora, a Amazon se preparar para brigar pelo posto de sucessora com sua ambiciosa adaptação de "O Senhor dos Anéis", que deve custar US$ 1 bilhão em cinco temporadas.

Mas quem quiser ocupar o vácuo deixado pela despedida da série, neste domingo, terá de enfrentar, primeiro, a própria HBO: a emissora já está trabalhando em uma série derivada que contará uma história situada milhares de anos antes, escrita pelo próprio George R. R. Martin.

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