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Por que ainda estamos traumatizados com o fim de 'Game of Thrones'?

A personagem Daenerys faz discurso no último episódio da série Game of Thrones - Divulgação
A personagem Daenerys faz discurso no último episódio da série Game of Thrones Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

23/05/2020 04h00

Na última terça (19), fez um ano do fim de "Game of Thrones", a série. Foi um final que deixou um gosto amargo em muitos fãs —e ainda deixa, né?

Mas por que ainda estamos tão traumatizados com esse final, mais até do que ficamos com outros finais controversos como os de "Lost", "Dexter" e "How I Met Your Mother"? Sinceramente, não sei se há uma resposta certa para isso, mas tenho algumas ideias:

Rolou uma 'traição'

"Game of Thrones" foi crescendo a ponto de se tornar o maior fenômeno da TV contemporânea —e talvez tenha sido a última série que o mundo parou completamente para assistir ao mesmo tempo. Investimos anos em teorias sobre como tudo iria acabar e sobre o que as profecias e visões a que fomos apresentados poderiam significar, só para elas serem completamente esquecidas no decorrer das duas últimas temporadas.

Óbvio que o tempo gasto falando sobre uma série não garante a nenhum fã a propriedade sobre ela. Há problemas, no entanto, a partir do momento em que a trama insinua que algo seja importante para, no fim, isso não fazer tanta diferença assim. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a tão alardeada paternidade de Jon Snow. No fim, o fato de ele ser um legítimo herdeiro ao Trono de Ferro (e, ainda por cima, sobrinho de Daenerys) foi pouquíssimo explorado e não teve consequências reais para a história.

Desnecessário, não?

Daenerys merecia mais

Falando em Daenerys: o final dela deixou muita gente indignada, e com razão. Não porque alguém esperasse um final "de novela", com ela e Jon governando felizes para sempre, mas porque todo o arco dela na temporada final foi tratado de forma apressada e superficial, levando-a de protagonista à vilã em um piscar de olhos. Nada daquilo condiz com a trajetória da personagem.

Sim, ela já havia mostrado propensão para o autoritarismo em outras ocasiões, mas isso não é —ou não deveria ser— uma desculpa para os showrunners David Benioff e D.B. Weiss não desenvolverem com propriedade a trama, tornando crível a virada dela. É um problema de como ela chegou lá, e não de ela ter chegado lá.

Saudades, Daenerys.

Sim, a qualidade caiu mesmo

O que aconteceu com Daenerys foi sintoma de um problema maior nos roteiros da série, que passaram a adotar soluções rasas, fáceis e que não necessariamente faziam sentido dentro do universo construído por ela. E, em uma espécie de "segunda traição", isso deixou evidente como o padrão de qualidade da série caiu ao longo dos seus oito anos no ar.

Como escrevi em um texto publicado aqui no UOL no ano passado:

Nas primeiras temporadas, as reviravoltas eram sutilmente construídas ao longo de várias cenas que, a princípio, pareceriam de menor importância; por isso, eram surpreendentes, mas nunca gratuitas. A decapitação de Ned Stark é o melhor exemplo disso: 'GoT' nos deu vários indícios de que ele não poderia ter outro fim que não fosse trágico, mas nos recusamos a vê-los por ele ser, àquela altura, o herói da atração.

A diferença é nítida, não?

D&D não ajudaram

Não bastassem os problemas com o roteiro das últimas temporadas de "GoT", os showrunners ainda deram declarações que não ajudaram muito —ou, sendo mais direta: que deixaram claro para o mundo todo que as pessoas que comandavam a maior série de TV no ar não sabiam direito o que estavam fazendo.

Em outubro, os dois participaram de um festival na cidade de Austin e disseram, entre outras coisas, que "tudo que podíamos fazer de errado, nós fizemos" e que a série foi, basicamente, "uma escola de cinema cara" para ambos.

Assim fica difícil olhar para trás e ver tudo com bons olhos, né?

Maaaas...

A HBO já deu um sinal verde para um spin-off de "GoT". Chamada "House of the Dragon", a nova série vai contar a história dos Targaryen e terá Miguel Sapochnik, diretor de episódios importantes como "A Batalha dos Bastardos", como um dos showrunners.

Será que vem uma redenção por aí?

E por último, mas não menos importante:

Libera logo esse último livro, George R. R. Martin!