Documentário de Michelle Obama abre espaço para anônimos e toca em feridas
Uma ex-primeira dama descolada, que ouve pop e hip-hop e não escapa de uma zoeira do irmão mais velho. Uma figura séria, sempre acompanhada de guarda-costas e de um estafe, que precisa medir cada gesto e fala pública. "Minha História" (no inglês, "Becoming"), documentário sobre Michelle Obama que chega hoje à Netflix, tenta mostrar as várias faces da mulher que viveu durante oito anos na Casa Branca.
Ainda que leve o mesmo nome da autobiografia lançada há dois anos, o documentário se diferencia ao compartilhar e comparar a trajetória de Michelle com outras histórias bem menos conhecidas.
O filme segue a turnê de divulgação do livro da ex-primeira dama dos Estados Unidos por 34 cidades americanas e abre um espaço generoso para alguns personagens com quem ela cruza no caminho e que surgem como um adendo ao que já havia sido explorado nas 464 páginas do livro.
Histórias que importam
Muito destacadas na divulgação do documentário, as participações do marido, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, e das duas filhas deles, Sasha e Malia, são quase do mesmo tamanho que o tempo dedicado, por exemplo, à história da estudante negra Shayla Allen. Ela cruza o caminho da ex-primeira dama em um dos bate-papos que ela faz com jovens e questiona como não virar só mais um número nas estatísticas.
Espero que a minha história encoraje você a ver o poder da sua história, e que você se apodere dela. Michelle Obama dá conselho para uma jovem negra
Didática, a edição corta para a história de Shayla, acompanhando a garota até a casa dela e mostrando um pouco de sua rotina com a família e na escola. Um paralelo óbvio com a história comum de tantas famílias negras como a de Michelle Obama, que cresceu em um bairro de classe média na região sul de Chicago, origem que ela sempre faz questão de lembrar.
De volta ao ninho
A própria Michelle Obama volta à casa onde cresceu, acompanhada da mãe, Marian Shields Robinson. Lá, elas se lembram do pai, vitima da esclerose múltipla, das tardes regadas a jazz que influenciaram o gosto musical da ex-primeira dama e que ilustram várias passagens contadas com mais detalhes no livro. Outro raro momento de intimidade é quando a equipe acompanha Michelle e Marian em uma visita à casa de Craig Robinson, o irmão mais velho.
Compartilhar a história de alguém me dá a perspectiva que preciso e que não tenho, porque todas as minhas interações são meio que filtradas. É assim que me identifico com as pessoas e isso me ajuda a ficar conectada. Michelle Obama no documentário "Minha História"
A história é de Michelle Obama, mas figuras que sempre estão junto dela também ganham uma boa dose de atenção. Melissa Winter, sua assessora direta desde a primeira campanha de Barack Obama à presidência, enriquece a experiência do documentário com sua visão e seus depoimentos.
Outro personagem interessante é Allen Taylor, chefe de segurança que também está com Michelle Obama desde o início. Em um momento mais descontraído, ele mostra sua foto favorita com a ex-primeira dama, quando ele, apavorado, teve de descer o escorregador da muralha da China atrás de sua protegida.
Racismo persiste
Entre lições de autoajuda e feminismo, trechos de eventos de divulgação do livro em estádios lotados na companhia de mediadores como Oprah Winfrey, Gayle King, Reese Witherspoon e Stephen Colbert, e imagens de bastidores que dificilmente seriam reveladas durante um mandato presidencial, Michelle Obama também toca em feridas.
Não podemos esperar a igualdade do mundo para começar a nos sentir vistos. Estamos longe disso. Não dá tempo. Michelle Obama em bate-papo com jovens estudantes negros
A ex-primeira dama reconhece os avanços de sua família ter sido a primeira família negra na Casa Branca, mas admite que isso não resolveu a questão racial nos EUA. Ela lembra que sua árvore genealógica tem escravos e que a violência policial contra a população negra persiste.
Por dentro do poder
Michelle ainda recorda um dos dias mais divergentes que enfrentou enquanto ainda vivia na Casa Branca, em 2015, quando de dia foi com Obama ao funeral de vítimas do massacre na igreja de Charleston e, horas depois, à noite, iluminava a Casa Branca com as cores do arco-íris em celebração à aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Por mais que seu livro e seu documentário possam ser avaliados como autopromoção, a primeira-dama dá alfinetadas elegantes e deixa uma importante mensagem.
Quando se é presidente dos EUA, as palavras importam. Você pode começar guerras, você pode quebrar economias, há poder demais para ser descuidado. Michelle Obama
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