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'Pandemia revela ódio pela humanidade, o desejo por morte', diz Petra Costa

Petra Costa, diretora do documentário "Democracia em Vertigem", no Oscar 2020 - Reprodução/Instagram/Ricardo Stuckert
Petra Costa, diretora do documentário "Democracia em Vertigem", no Oscar 2020 Imagem: Reprodução/Instagram/Ricardo Stuckert

Do UOL, em São Paulo

01/05/2020 12h08

Petra Costa, cineasta brasileira indicada ao Oscar neste ano pelo documentário "Democracia em Vertigem", apresentou nesta sexta-feira (1) uma palestra em parceria com o festival de cinema suíço Visions du Reél, falando sobre sua experiência de produção do filme e também sobre seus próximos projetos, que incluem o documentário "Distopia", sobre as consequências da pandemia do novo coronavírus.

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"Eu acho que a pandemia revela muito do que não era óbvio para todos: essa retórica fascista estava escondida atrás da retórica do ódio pelo diferente, pela esquerda, pelo partido dos trabalhadores, pelos artistas, gays, mulheres", opinou a cineasta. "O que o coronavírus mostra é que se trata de um ódio pela humanidade. Um desejo por morte", lamentou.

'Democracia em Vertigem'

Um dos assuntos mais comentados da conversa, é claro, foi o sucesso de "Democracia em Vertigem", que garantiu a primeira indicação de Petra ao Oscar.

O filme sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff, a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de Jair Bolsonaro divide opiniões. Petra explicou que já esperava por isso.

"O filme só poderia ser polarizador porque o que aconteceu era polarizador. Construíram um muro em frente ao Congresso. Qualquer filme sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos cinco anos seria polarizador", explicou Petra.

Esse suposto muro entre a direita e a esquerda, contra ou a favor do impeachment, é o que movia a narrativa do documentário. "Eu já estava lidando com essa divisão dentro da minha própria família e como encontrava essa contradição do Brasil ali", relembrou.

Petra contou que precisou viajar a Brasília diversas vezes para filmar novas cenas para o filme, transformando as semanas de gravação em meses. "A realidade forçou o filme a se reimaginar constantemente", pontuou.

Sobre a possibilidade de uma continuação do documentário, Petra deixou a questão em aberto. "É algo que me assombra também. Não tenho resposta para isso ainda", admitiu.