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Gay e drag queen, filho de Eyshila fala da mãe: 'Não apoia, mas respeita'

Eyshila e o filho Lucas Santos (Reprodução/Instagram) - Eyshila e filho Lucas Santos (Reprodução/Instagram)
Eyshila e o filho Lucas Santos (Reprodução/Instagram) Imagem: Eyshila e filho Lucas Santos (Reprodução/Instagram)

Daniel Palomares

Do UOL, em São Paulo

28/04/2020 04h00

Lucas Santos viu seu nome ganhar as manchetes de vários sites de notícias nos últimos dias depois de revelar que está se montando como drag queen. O jovem de 20 anos é filho de Eyshila, cantora gospel de sucesso no Brasil, e despertou a curiosidade sobre a relação entre os dois.

"Recebi comentários Incontáveis. Não deixo os negativos me abaterem. Prefiro dar ouvidos as mensagens de apoio e incentivo, que também são muitas!", conta Lucas, em papo com o UOL.

Em post no Instagram, Eyshila registrou uma mensagem de carinho para Lucas.

Eles são nossos filhos, não nossos troféus. Eles são nossos, mas são seres independentes. Não são a nossa continuação, mas têm sua própria história, com suas escolhas e suas experiências. Pais, amem seus filhos! Amemos sem culpa e sem vergonha alguma. Afinal, quem ama não deve nada a ninguém

Em entrevista, Lucas, que vive há dois anos na Flórida, nos EUA, contou mais sobre a decisão de investir na carreira de drag queen e sobre as experiências que teve com a mãe e seu processo de aceitação em ter um filho gay.

"Eu me sinto privilegiado por ter sido criado por uma pessoa tão criativa e apaixonada por música. Sempre admirei minha minha mãe por ser uma artista dedicada e talentosa", relembra. "Mas nós tivemos conflitos, sim, quando comecei a expressar minha sexualidade", explica.

"Não diria que ela me apoia, mas me respeita. Ela não acha correto existir um relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo. É algo que já conversamos e brigamos muito sobre", conta Lucas. "O que percebemos no final das contas é que em vez de nos desgastarmos tentando mudar a cabeça um do outro, só deveríamos nos respeitar, se quiséssemos seguir num relacionamento saudável. Cada um com sua opinião", explica.

Conflitos religiosos

O jovem admite que a relação dos pais com sua sexualidade sempre foi bastante conturbada, mas acredita que, mesmo que algumas pessoas usem a religião para reforçar preconceitos e visões conservadoras, é possível existir paz mesmo entre pais e filhos tão diferentes.

"Não é só possível, como necessário haver respeito em qualquer tipo de situação e relacionamento. Por experiência própria, discutir e tentar convencer o outro das suas próprias convicções é um gasto desnecessário de energia. Hoje em dia não sou mais cristão, mas também prefiro deixar meu coração livre de mágoas", explica.

Mesmo diante de pais religiosos, Lucas ainda garante que nunca foi levado para nenhum tipo de terapia de conversão ou "cura gay".

Futuro como drag queen

Desde o início do ano, Lucas vem aperfeiçoando sua persona como drag queen: Peridot. O nome foi inspirado em um cristal e é intencionalmente neutro em gênero.

"Não sei se diria que preciso de uma válvula de escape, já que finalmente vivo de forma confortável e aberta. Ser drag para mim é se divertir e mergulhar na fantasia, ter o prazer em desenvolver a habilidade na maquiagem, me olhar no espelho como uma pessoa totalmente diferente e botar para fora toda a admiração por figuras femininas que um gay possa ter", pondera.

O mergulho no universo drag, contudo, ainda é tímido. Lucas admite que nunca assistiu ao tão famoso "RuPaul's Drag Race", competição entre drags, mas que deseja se debruçar cada vez mais no tema.

"Pretendo investir nisso. Tenho me sentido tão realizado me envolvendo com a arte drag; é um mundo de possibilidades e formas de me expressar artisticamente. Sempre tive muitos hobbies artísticos e, através da minha drag, sinto que consigo fazer uso de todos ao mesmo tempo", comemora.

Com orgulho de sua trajetória e da relação com a família, Lucas quer servir de exemplo para outros jovens gays que ainda enfrentam preconceito e têm problemas com os pais.

"Eu me arrisco a dizer que sou grato por todos os conflitos que vivi, eles me moldaram a ser quem sou hoje. Acredito que exista um propósito em tudo o que acontece, e fico feliz em poder inspirar pessoas que passem por situações similares a minha a serem eles mesmas, sem medo", festeja.