Riz Ahmed inspira-se em sua vida para falar de identidade em "Mogul Mowgli"
Em seus discursos e sua música, Riz Ahmed sempre falou bastante sobre a experiência de ser um muçulmano e filho de imigrantes paquistaneses, o que envolve ser considerado terrorista.
O ator teve pouca chance de abordar o assunto em seus filmes - ele fez papeis em "Rogue One - Uma História Star Wars" e "O Abutre" e ganhou o Emmy pela série "The Night Of". Mas isso muda com "Mogul Mowgli", dirigido por Bassam Tariq, exibido na seção Panorama e um dos destaques do 70º Festival de Berlim.
"É meu projeto mais pessoal no cinema", disse em entrevista ao UOL. "E isso significa lidar com medos, ansiedades, esperanças, desabafos. É algo que sempre fiz na minha música, mas quero fazer mais no cinema".
Em "Mogul Mowgli", Riz (nascido Rizwan) Ahmed é MC Zed, americanização de Zaheer, que, como Riz MC, é um rapper. "Eles nos bombardeiam ou nos suicidamos/ Somos carne de kebab Você não quer provar? / Eles querem matar todos nós / Mas eles não podem matar todos nós" diz a letra da música de abertura.
Passando um tempo em Nova York, Zed tem um intervalo antes de sua tão sonhada turnê. Bina (Aiysha Hart), com quem tem um relacionamento meio indefinido, sugere que vá visitar os pais, imigrantes paquistaneses, em Londres.
Faz dois anos que ele não aparece. Lá, Zed reencontra a cultura dos pais, que rejeita, a religião muçulmana, o passado. Mas também descobre algo que ameaça seu futuro: uma doença autoimune que faz com que perca a força nos músculos a ponto de não conseguir mais andar.
Enquanto enfrenta um tratamento experimental, Zed tem alucinações cada vez mais frequentes que envolvem o mito de Toba Tek Singh, que habita a região afetada pela partição da Índia, que resultou na fundação Paquistão em 1947, e também a fuga de seu pai de lá, antes de se refugiar no Reino Unido.
"O filme nasceu de conversas entre Bassam e eu sobre nossas origens e também sobre a contradição de tentar representar seu povo por meio da arte, mas se alienando e distanciando das pessoas que você está tentando representar ao tentar fazer essa arte", disse Ahmed. "Há muita discussão sobre artistas não-brancos, mas este é um filme sobre ser um artista não branco."
A busca da identidade não é assunto novo no cinema, mas neste caso tem muitas nuances. "O tipo de distúrbio de identidade ou ruptura de identidade ou oportunidade de identidade que pessoas como Bassam e eu carregamos aparece inclusive nos nossos nomes", disse Ahmed, que oferece mais uma performance forte e cheia de nuances. "Riz é uma pessoa diferente de Rizwan, que é diferente de Golo (o apelido que sua família usa), ou Ahmed, como eu era chamado na escola."
O ator acha que por ser filho de imigrantes teve dificuldades até de se assumir como artista. "Parece que não é um trabalho de verdade. Soa pretensioso. Mas eu vi que era a verdade, e que eu tinha de aceitar a confusão do meu próprio desconforto com esse rótulo, da mesma forma como tenho desconforto em ser definido como britânico, paquistanês, muçulmano, ator, rapper."
Muitas das músicas que ele fez para o filme agora vão aparecer no álbum "The Long Goodbye", que sai semana que vem. "É um álbum sobre o rompimento de uma relação, sobre o rompimento com o país que você acreditava ser o seu. Acho que muita gente se sente assim hoje. E falamos muito da onda de xenofobia intelectualmente, ou se faz sentido eleitoralmente, mas não emocionalmente. Porque parece o fim de uma relação tóxica."
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