Zé do Caixão era sucesso com seus 'causos' no Notícias Populares; relembre
José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, pode ter se despedido do público com sua morte nesta quarta-feira (19), mas seus filmes e histórias curiosas permanecerão eternizados no imaginário popular brasileiro.
Com uma carreira que se estendeu por pelo menos sete décadas, o mestre do terror era figurinha fácil com suas excentricidades no Notícias Populares, jornal que circulou em São Paulo entre 1963 e 2001, célebre pelas bizarrices de suas páginas. Procurados pelo UOL, jornalistas relembraram as melhores histórias envolvendo o icônico Zé do Caixão.
Zé na Fórmula 1:
"O Mojica acompanhou a história do Notícias Populares, já com o Zé do Caixão popular. Não fazemos ideia de como ele era gigante. Tudo do jornal ele repercutia ou era personagem. Ele era onipresente. Em 1993, o convidamos para ser repórter do Notícias Populares na cobertura da Fórmula 1. Sempre chamávamos alguém que não tivesse nada a ver com o automobilismo. Eu lembro dele abençoando o carro do Rubinho. Ele tirou foto até com o Schumacher! Ele amaldiçoava os carros que eram contra o Brasil"
Paulo César Martin
Falsa namorada e unha cortada:
"Não me lembro bem quando, mas o Mojica disse que ia casar com uma garota bem mais nova que ele. Entrevista rolando e ele falando de amor e interesse dos dois pelo cinema de horror e tudo mais. Reportagem publicada. Soube que ele ficou feliz com a mídia. Um dia, um dos autores do livro dele me liga e recupera a história para o livro... Foi um golpe de marketing do Mojica para promover seus filmes! A moça? Acho que virou atriz da película. Outra vez, fizemos uma matéria com um Mojica muito triste. Ele recebeu ordens médicas para diminuir o tamanho das unhas e relutou em cortar sua marca registrada. Dizia: 'Não posso fazer isso comigo'. Era uma atração na redação"
Djalma Campos
Moradores de rua em túmulos:
"Era 1998 e eu fazia uma série de reportagens para o Notícias Populares sobre pessoas em situação de rua que ocupavam jazigos (com ou sem corpos) do Cemitério de Santo Amaro. Naquela que seria a última reportagem da série, meu editor teve a ideia de eu levar o Zé do Caixão para conhecê-los —e vestido como tal, de capa e cartola. Enquanto o fotógrafo já estava dentro do jazigo e um dos personagens estendia a mão para o Mojica de dentro dele, dois funcionários do cemitério correram na nossa direção para saber o que estava acontecendo. Tenho congelado na memória o meu desespero ao ver o funcionário correndo, o Zé de capa e o fotógrafo dentro de um túmulo com um morto e um morador de rua —e eu tendo que inventar uma explicação. O Zé inventou uma de suas sábias mentiras e saímos ilesos da pauta furada, que nunca foi publicada, dizendo que eram fotos para o próximo filme dele"
Marcos Sergio da Silva
Foto das bundas:
"O meu primeiro contato com o Mojica foi em 1986, quando ele começou a migrar do cinema de terror para o cinema erótico. Fui chamado para fotografá-lo com mulheres nuas no bairro da Lapa. Quando chegamos na casa, era muito simples, mas com improviso, até rolou. Ele tinha levado quatro mulheres. Começamos uma amizade assim, através das fotografias. Tirei uma foto com ele cercado por bundas. Toda vez que encontrava com ele, ele me cobrava essas fotos. Numa outra vez, ele estava lançando um serviço de histórias de terror por telefone. Ele posou dentro de um caixão com um telefone. Achei aquilo pioneiro".
José Luis da Conceição
Concurso da Mulher Superior:
"Eu me lembro de uma vez ter chegado na redação, que ocupava o quinto andar do prédio da Folha de S. Paulo, e ouvi vozes de mulheres gritando na sala do arquivo —uma sala fechada onde havia vários armários que guardavam fotos ampliadas e exemplares antigos do jornal (e onde nós nos reuníamos para comer pizza às sextas-feiras, quando ficávamos até mais tarde no trabalho). Assustada, fui ver o que era. Mojica estava lá. Ele olhava umas mulheres com os cabelos bem escuros e compridos que demonstravam os poderes de suas cordas vocais. Era o concurso para a vaga de 'Mulher Superior', que seria a companheira do Mestre do Terror".
Claudia de Castro Lima
Caracu com ovo:
"Quem trabalhou no Notícias Populares nos anos 1990 (como eu) certamente fez alguma pauta com ele —ou pelo menos cruzou com ele na redação. Ou o viu como DJ nas festas do Garagem pilotadas pelo Paulo César Martin e pelo André Barcinski. Ou ajudou de alguma forma a pesquisa do Ivan Finotti e do Barcinski para a biografia genial dele —uma das mais divertidas que já li. A minha principal história com ele envolveu uma pauta (que depois foi vetada) que era "caracu com ovo faz mal à saúde". Rodei muitos botecos no Ipiranga com ele tentando achar alguém que bebesse a tal mistura. Nada, ninguém bebia. Ele foi junto porque haviam dito que ele gostava, mas ele falou que não bebia isso não, mas, pela pauta, faria, diria que bebia, tiraria foto. E fez"
Denise Bobadilha
Zé Ramalho botou medo em Zé do Caixão:
"Em 1990, eu era um novato na redação do Noticias Populares quando me convocaram para uma pauta bizarra. Eu teria de passar uma tarde de sábado ao lado de Zé do Caixão no cemitério do Araçá em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Aparentemente, os funcionários da obra da então iniciante linha verde do metrô tinham visto espíritos. Driblei meu medo de cemitério e lá fui eu acompanhar Mojica em sua missão. O "diagnóstico" era que o som das britadeiras impedia os defuntos de gozar seu sono eterno. Naquele dia, Mojica me contou um causo sobre Zé Ramalho, que o convocou para brilhar na capa de "A Peleja do Diabo Contra o Dono do Céu". Ramalho passou uns dias na casa de Mojica. Sonâmbulo, certa feita ficou encarando o rosto do cineasta, que morreu de medo ao ver o compositor. No dia seguinte, Ramalho foi convidado a procurar outro lugar para pousar. Ave, Mojica!"
Sérgio Martins
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