Não foi só o Porta dos Fundos: 6 versões de Cristo que irritaram a Igreja
Quando diretores se embrenham em contar a trajetória de Jesus Cristo, algo é quase tão certo quanto a crucificação do filho de Deus no estopim da via-crúcis: a controvérsia. O Jesus gay e resistente ao chamado divino, retratado no especial do Porta dos Fundos, não é a primeira e muito provavelmente não será a última representação a incomodar Igreja e grupos religiosos, que costumam acusar tais produções de cometerem blasfêmia e promoverem intolerância religiosa. Essa é uma história tão antiga quanto o cinema.
O Rei dos Reis (1961)
Pode parecer banal, mas exibir o rosto de Cristo já foi motivo de discussão. Este épico dirigido por Nicholas Ray, com Jeffrey Hunter no papel de protagonista, foi o primeiro grande filme de língua inglesa a mostrar as feições do personagem, apresentado não miticamente mascarado, como em Ben-Hur (1959) e outros longas. O Jesus é um homem com tendências filosóficas, e, além disso, o fato de ter sido interpretado por um galã bronzeado e sem pelos no corpo também não pegou bem com cristãos ortodoxos.

Jesus Cristo Superstar (1973)
Transformar Cristo (Ted Neeley) em protagonista de ópera-rock, praticamente um astro hippie da música, já seria ir muito longe nos ainda conservadores anos 1970. Conservadores reclamaram da relação da música pop, que teria banalizado a história bíblica, e do fato de Jesus ser um humano em conflito, com possível interesse carnal. O musical, assim como outras produções do gênero, ainda irritou judeus por terem sido retratados como vilões e carrascos de Cristo.

Jesus de Nazaré (1977)
Exibido há décadas na TV brasileira, a minissérie virou demônio para cristãos e protestantes fundamentalistas. O motivo: as qualidades humanas de Cristo, vivido por Robert Powell, teriam sido ressaltadas demais, deixando sua divindade em segundo plano. A produção foi elogiada pela crítica, e o papel marcou a carreira do ator, o que não impediu detratores de pedirem o boicote da GM Motors, que, pressionada, desistiu de investir US$ 3 milhões na produção.

A Última Tentação de Cristo (1988)
Mais polêmica, agora com o ator Willem Dafoe. O filme dirigido por Martin Scorsese sofreu ataques principalmente por causa da cena da crucificação, quando, próximo da morte, Jesus vislumbra como teria sido uma vida em "normal", caso não tivesse atendido o chamado de Deus. Ele imagina um casamento com Maria Madalena. Com o desvio da narrativa bíblica, o longa motivou protestos violentos e acabou proibido na Turquia, México, Singapura, Argentina, Chile e em algumas localidades dos Estados Unidos.

Dogma (1999)
A comédia do diretor Kevin Smith foi o quarto filme do Universo View Askew, ambiente fictício que conta uma história sobre temas cristãos que causaram protestos e polêmicas. Jesus é visto apenas na forma de estátua, a famosa Buddy Christ, que anos depois acabaria virando meme. Católicos radicais protestaram fervorosamente nos Estados Unidos, chegando a ameaçar o diretor de morte, apesar de o personagem principal redescobrir sua fé no fim da trama.

A Paixão de Cristo (2004)
Dirigido por Mel Gibson e protagonizado por James Caviezel, o filme rendeu barulho, principalmente pela representação judaica, mais do que por seu tratamento a Cristo. Por exemplo, a história identifica Simão de Cirene como judeu, apesar de os evangelhos fornecerem apenas seu nome e origem. A história ainda mostra um soldado romano ridicularizando Simão, que ajuda Jesus a carregar a cruz, chamando-o ironicamente de judeu. Gibson colocou lenha na fogueira ao criticar publicamente a crença judia, o que fez o filme ser alvo de boicotes.

156 Comentários
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.
A Última Tentação de Cristo (1988) foi um filme de certo modo bastante religioso, e de fato até elogiou Cristo, de certo modo. Mostrou, na ideia do filme, que ele teria tido um caminho mais difícil e com muito mais tentações e sofrimentos emocionais, pois teria os mesmo dilemas que os homens. Se Cristo fosse absolutamente perfeito, seu caminho teria sido muito mais fácil. Assim, embora eu seja ateu, creio que a comparação com esse especial do Porta Dos Fundos é equivocada.
Já critiquei o exagero do Porta dos Fundos por estar mais ofendendo por ofender do que criticando com embasamento, mas agora eu devo salientar que os cristãos que jogaram o coquetel molotov não estão seguindo o cristianismo. Cristo, segundo os manuscritos, teria dito : "Amai ao próximo como a ti mesmo". "Amai ao próprio inimigo." "Perdoai uns aos outros." Sou ateu mas acho interessante lembrar disso para reflexão sobre esse tema polêmico.