Topo

See: Série da Apple com Momoa mostra que nem só de visual se faz um épico

Jason Momoa na série See, da Apple TV+ - Divulgação
Jason Momoa na série See, da Apple TV+ Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

02/11/2019 04h00

Sem conter gastos para entrar na guerra dos streamings, o Apple TV+ teria empenhado a cifra de US$ 17 milhões por episódio em See, uma fantasia de proporções épicas estrelada por Jason Momoa. Ao fim dos três primeiros episódios da temporada, porém, restam dúvidas se a série fará valer o investimento.

Visualmente, See é um espetáculo. Criada por Steven Knight (Peaky Blinders) e dirigida por Francis Lawrence (Jogos Vorazes), a série traz belíssimas cenas de paisagens do norte dos Estados Unidos, complementadas por uma direção de arte competente e por figurinos vistosos, que ajudam a conceber o universo distópico em que a história se situa.

O visual, no entanto, é apenas uma parte de um épico. Game of Thrones, que parece ter inspirado as ambições da Apple, conquistou o público com uma trama que era, antes de tudo, escrita de forma consistente e envolvente - e é na ausência disso que See peca.

A ideia central é interessante: um vírus dizimou boa parte da população mundial, deixando cegos os que restaram. 600 anos depois, a falta da visão persiste, e os humanos vivem em tribos. Mas Baba Voss (Jason Momoa), o chefe de uma delas, se torna pai de duas crianças que conseguem enxergar - e precisa assegurar a sobrevivência delas, já que a visão se tornou uma heresia na nova ordem social.

O problema é que a série não consegue construir seu universo de forma coerente. Os sentidos dos personagens que não enxergam ora são extremamente aguçados, ora pouco ajudam; a vilã da série, uma rainha que reza por meio de orgasmos (não, você não leu errado), em certo momento pede que seus súditos "contemplem" uma execução, em uma péssima escolha de palavras; e há, em geral, pouco esforço para trazer o espectador para dentro da perspectiva dos personagens, o que enriqueceria a narrativa.

O ritmo da série também é inconstante, especialmente nos dois primeiros episódios, que alternam entre a lentidão e um salto temporal de quase 18 anos conduzido às pressas. Os atores, por sua vez, pouco têm o que fazer. Momoa, escalado em um tipo que guarda semelhanças com o Khal Drogo de GoT, aparece apagado por um roteiro que não parece ter comprado o protagonismo de seu personagem. Situação semelhante é a da veterana Alfre Woodward (Luke Cage), relegada a ser uma anciã sábia, e nada mais. Sylvia Hoeks (Blade Runner 2049) é quem mais se destaca, com seu retrato quase caricato da rainha Kane.

As cenas de ação sangrentas, beirando o gore, garantem momentos de diversão a See. Só elas, no entanto, não conseguirão segurar os outros sete episódios da temporada, que serão lançados semana a semana. Resta ver se a trama vai entregar mais consistência - e se nós teremos paciência para ver o que virá.