Whitesnake em SP: David Coverdale mostra todo carisma, mas baterista rouba cena
Assistir a um show do Whitesnake em São Paulo é a certeza de:
a) Hinos do rock de arena sendo entoados do início ao fim pelo público - a banda já teve plateias mais barulhentas, mas aconteceu ontem, no Allianz Parque, no festival Rockfest;
b) Ver o vocalista David Coverdale lépido e faceiro, aproveitando cada momento em que não canta para fazer alguma referência a sexo e ao amor dos brasileiros.
Meu show continua bom, mas minhas voz...
David Coverdale está prestes completar 68 anos. Tem forma física e repertório e bom humor de fazer inveja a iniciantes e veteranos. Seu único porém, atualmente, é a voz. Não que chegue a atrapalhar o show, mas seu registro, hoje mais rouco, não tem mais a viscosidade e pegada de discos do passado. É normal. Tudo bem. Ele se redime com carisma e presença de palco. A energia não desceu um segundo em músicas como Love Ain't No Stranger, Here I Go Again e Still of the Night. Instrumental sempre no talo.
Joelhos novos
Após sofrendo de artrose, Coverdale foi submetido no ano passado a uma cirurgia em que colocou placas de titânio dos dois joelhos. Em entrevista ao UOL, ele prometeu "correr pelo palco feito Justin Bieber" com as novas peças. Não aconteceu - correr, aliás, nunca foi a dele, nem a de Justin Bieber. Mas, visivelmente mais confortável, o vocalista se movimentou mais, ergueu mais o pedestal do microfone simulando um falo, sua pose clássica, e mandou mais acenos e olhares fatais do que nas últimas apresentações no Brasil. É um novo (velho) homem.
Roubando a cena
Talvez nem David Coverdale esperasse por isso. Pela primeira vez no Brasil, quem saiu mais aplaudido do show do Whitesnake não foi sua grande estrela, mas um coadjuvante, o veterano baterista Tommy Aldridge, de 69 anos, ex-Ozzy e Thin Lizzy. Em seu solo, o integrante mais velho da banda misturou precisão, malabarismo e uma sessão em que dispensou as baquetas e tocou com as mãos, ao estilo John Bonham. Houve delírio nas arquibancadas. O cabelão crespo, grisalho e estiloso alimentou o carisma. "O indestrutível Tommy Aldridge", deu a letra Coverdale.
Brasil na cintura
Durante Slow an' Easy, o líder do Whitesnake catou uma bandeira brasileira no público, a estendeu para as câmeras e a amarrou na cintura, onde ela ficou durante quase até o fim do show. O verde e amarelo também se fez presente estampado na camisa do cantor, que sobrepôs o lábaro estrelado ao logo vermelho do Whitesnake. Durante essas homenagens --também aconteceram posteriormente, no show do Scorpions--, a reportagem não identificou nenhum grito ou manifestação de teor político. O amor ao rock falou mais alto.
Uma ideia para outros shows
Antes de receber o Whitesnake, o Rockfest contou com shows da banda brasileira Armored Dawn, da sueca Europe e da alemã Helloween, que, substituindo o Megadeth, fez uma apresentação histórica no Brasil. A banda trouxe seu guitarrista e vocalista original, Kai Hansen, seu vocalista clássico, Michael Kiske, e o vocalista atual, Andi Deris. O trio dividiu vocais em faixas de todas as fases da banda, para o delírio dos fãs e de quem acha que ego não deveria combinar com música. Fica a lição para outros grupos que também passaram por separações.
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