Joelhos novos e microfone para o público: como serão os shows do Whitesnake no Brasil
Tente bater poucos minutos de papo com David Coverdale, o solar vocalista do Whitesnake, sem cair na risada meia dúzia de vezes. Praticamente impossível. Agora tente fazer o mesmo falando apenas de Rock in Rio, da primeira vez em 1985 até o show do próximo dia 28 de setembro, no palco Sunset do festival, quando a banda fechará um longo ciclo de turnês e amor compartilhados com os brasileiros. David vai falar pelos cotovelos e periga virar seu melhor amigo.
"Voltar ao Brasil e ao Rock in Rio, depois de mais de 30 anos é mais que especial. É uma honra. E também é uma honra poder comemorar mais uma vez meu aniversário no país. Desde o início, percebo que tenho uma conexão espiritual com vocês, coisa de alma", diz ao UOL o cantor, que também se apresentará em São Paulo (21/9), no festival Rockfest --com Scorpions, Helloween, Europe e Armored Dawn--, em Uberlândia (23), no Roadfest --com os três primeiros--, e em Belo Horizonte (25) e Porto Alegre (1º/10).
Dia 23 é a data da festa de aniversário dele. "Já comemorei aniversário no Brasil antes, mas nunca tive o prazer de comemorá-lo em Uberlândia", brinca David, gargalhando. "Desta vez estou trazendo minha mulher e meu filho, para que eles possam usufruir da experiência fantástica que sempre tive no Brasil, de estar em um país tão incrível, exótico e hospitaleiro."
O regresso ao país terá novidades além das músicas do novo álbum do grupo, Flesh & Blood. Depois de sofrer por anos com uma artrose degenerativa e com dolorosas infiltrações, David implantou no ano passado placas de titânio em ambos joelhos. Ele jura estar 100% e diz que correrá loucamente pelo palco, como se fosse Justin Bieber.
Outra novidade da turnê: para retribuir a fidelidade do nosso público, "que canta até os riffs das músicas", o Whitesnake registrará shows em vídeo usando um microfone especial posicionado no meio do público, com captação surround 360. A ideia é tentar transmitir essa energia em disco. Segundo David, o material deve servir de base para um DVD ao vivo.
UOL - O Whitesnake tocou no primeiro Rock in Rio, em 1985, substituindo o Def Leppard, depois do acidente com o Rick Allen. Como foi para vocês?
David Coverdale - Infelizmente, a tragédia aconteceu com nossos amigos do Def Leppard, com o amável Richard. Temos o mesmo empresário e ainda somos muito próximos. Meu empresário me ligou logo depois do acidente, antes de as pessoas saberem o que aconteceu, dizendo que teríamos de ir ao Rio. Aceitamos na hora, mas não tínhamos a menor ideia de como o evento seria. Lembro de ir para o Rio de Frankfurt no mesmo voo com Freddie Mercury. Eu e o Freddie já nos conhecíamos havia muito tempo. Éramos da mesma gravadora e usávamos o mesmo estúdio. Estouramos várias champagnes juntos (risos).
E a chegada aqui?
O chefe da polícia foi direto nos encontrar e nos levou pelo aeroporto. Tivemos que passar pelo controle de passaporte. Era uma época muito louca. Tenho dito a jornalistas brasileiros que me conectei imediatamente e muito profundamente com o espírito e a alma dos brasileiros. E isso continua até hoje. É sempre empolgante. A hospitalidade de vocês é sempre espetacular.
É verdade que você teve laringite antes do primeiro show do Rock in Rio?
Não consigo me lembrar. Foi há muito tempo. A verdade é que, para um vocalista, a coisa sempre está feia. Se você perguntar para um vocalista com ele está, ele sempre te dirá que o tempo está muito úmido, muito seco, muito calor, muito frio. Vocalistas precisam viajar acompanhados de médicos. Bem, se aquilo for verdade, minha laringite provavelmente teve a ver com minha curtição no Rio (muitos risos).
Ah, é? Você tem histórias lendárias de festas e sexo no Rock in Rio. Qual sua favorita?
Tudo que posso dizer é que eram intensas e era muito difícil de me tirar delas (gargalhadas). Foi uma época memorável.
Além da curtição desenfreada, qual é sua melhor lembrança de 1985?
Sem dúvida, ver aquele incrível oceano de gente. Não me lembro se foi no primeiro ou segundo show que fizemos, mas começamos a tocar Crying in the Rain e começou a chover de verdade. Pensei: "Oh, meu Deus. Deus está ajudando com efeitos especiais aqui!" (gargalhadas). Isso tornou ainda mais incrível aquela imagem do público, que ia até o ponto mais longe que eu conseguia enxergar. Já fiz grandes shows na Europa. Já fiz o California Jam com o Deep Purple. Mas nada foi como aquilo.
E a pior lembrança? A ressaca de quando a festa acabou?
Na verdade, a pior coisa acontece do lado de fora do festival. A merda do trânsito. Demoramos uns dois dias para chegar à área do backstage.
Por que vocês não usaram helicóptero?
Aquilo era coisa do Queen (risos). Lembro que foi demais ter o Queen no hotel. Ver o Freddie, Ozzy, amigos queridos. Foi aí que nasceu o que chamo de caso de amor do Whitesnake com o Brasil. É uma coisa linda o que acontece. Whitesnake tem muita sorte de ser uma banda global. Excursionamos pelo mundo todo. E essa conexão não é algo que acontece em todos os lugares. Com o Brasil, aconteceu imediatamente. Essa é a grande diferença para mim.
Como anda se sentindo com os joelhos novos de titânio?
Eles estão funcionando lindamente. Eu vinha sofrendo há dez anos de uma artrose degenerativa, tomando muitas injeções. Lembro de estar no Brasil tomando injeções, comemorando meu aniversário com um show em São Paulo [em 2016], mas elas pararam de surtir efeito. Estava osso no osso. Eu estava quase chorando de dor no palco. Liguei para minha mulher e falei que, se eu não fizesse alguma coisa, eu tinha certeza que acabaria em uma cadeira de rodas. E eu não queria ter essa imagem comigo. Desta vez eu estarei correndo pelo palco como a merda do Justin Bieber (risos).
Você vai fazer 68 anos no Brasil. O quão propenso você está à ideia de se aposentar?
Minha mulher me proibiu de usar a palavra "aposentadoria" (risos). Porque estou falando disso há 15, 20 anos. Ela diz que eu tenho que parar com isso. Por causa da situação dos meus joelhos, continuar cantando era algo que parecia incrivelmente desconfortável para mim. Esse problema me impôs a ideia de que eu não seria mais fisicamente capaz de me apresentar. Mas hoje eu estou com uma ótima saúde. Não participo mais de festas insanas. Respeito muito minha voz. Quero continuar fazendo o que faço. Temos um novo álbum fazendo sucesso, estamos nos divertindo e já estamos planejando a turnê do ano que vem.
Mas é impossível manter o ritmo da turnê com muitos show, não?
Sim. Não quero mais fazer turnês tão longas como fazia. Estou completando 68 anos em Uberlândia (parada para risos)... e há milhares de pessoas que ainda querem nos ver. Sou muito honrado ter o público e a banda que tenho. E logo depois que terminarmos essa conversa, tenho uma sessão de massagem me esperando aqui do lado. Como não gostar disso, irmão (risos)?
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