Cinco vezes em que o novo Rambo agride, tortura e mata o "politicamente correto"
Aviso 1: de volta em Rambo - Até o Fim, que estreou ontem nos cinemas, John Rambo (Sylvester Stallone) não é mais o mesmo. Setentão, ele virou fazendeiro no interior do Arizona e trocou a faixa de soldado por um inusitado chapéu de cowboy e em nenhum momento surge descamisado na tela, ostentando sua ótima forma física. Aviso 2: fora isso, absolutamente nada mudou.
Dirigido por Adrian Grunberg, o quinto capítulo da franquia do veterano do Vietnã é um compêndio anabolizado de tudo que o personagem programado para matar fez de mais violento e revanchista ao longo de 37 anos. O filme, especialmente em sua segunda parte, é um festival de sangue em todas as variações possíveis da tríade tiro, porrada e bomba --mais facadas, decapitações, perfurações, mutilações, flechadas na cara...
Se você tem amor pelo universo áspero e maniqueísta do personagem e acha que o mundo está muito chato, fique tranquilo: não há brechas para algo que se aproxime minimamente do chamado "politicamente correto" em Até o Fim, longa que surge em 2019 como um aceno para um mundo que deixou de existir, mas ainda mais pesado e sanguinário.
AVISO DE SPOILER: Atenção não leia o texto abaixo caso você não queira saber o que acontece no filme
Em busca de vingança, não de justiça
Na trama do filme, a sobrinha adolescente de Rambo, Gabrielle (Yvette Monreal), é sequestrada por um cruel cartel mexicano que a obriga a se drogar e prostituir. Rambo leva uma surra histórica e tenta salvá-la dos criminosos, mas a menina morre antes de conseguir voltar aos EUA. Não existe polícia, inquérito ou investigação sobre o caso. Existe Rambo em uma obcecada jornada pelo sabor da vingança.
Uma das personagens, uma jornalista que investigava os bandidos no México (a atriz Paz Vega) e que também teve uma irmã morta pelo crime, tenta convencer o personagem a não ceder ao instinto primal e tentar viver o luto silenciosamente. Não funciona: lançando mão de um discurso emotivo e carregado de ódio —para ele, parafraseando a Chiquinha de Chaves, a vingança é plena, sim, e não mata alma nem envenena—, Rambo faz a jornalista subitamente mudar de ideia e concordar com ele.
Agride mulher
Depois que se dá conta do desaparecimento da sobrinha, Rambo vai atrás de uma antiga amiga da menina, Jezel (Fenessa Pineda), adolescente de origem mexicana retratada como uma pessoa de "má influência". Na história, ela leva Gabrielle para uma boate, a embebeda e a "vende" para um cafetão rico e sedutor.
Rambo senta frente a frente com ela em uma mesa, a confronta duramente e só consegue a informação que deseja, a identidade do cafetão, depois de usar a força contra Jezel. Sem meio-termo, o protagonista chega a agredir fisicamente a adolescente antes de a obrigá-la a voltar ao clube com ele para apontar o criminoso.
Tortura criminoso
Se Rambo pegou "leve" com Jezel, o mesmo não se pode dizer de sua abordagem com o cafetão. Em busca do QG da organização criminosa, Rambo não só agride violentamente o criminoso em uma caminhonete como o tortura, com direito a perfuração no ombro e fratura explícita da clavícula. A cena é forte.
Violência explícita, por sinal, é o que não falta no filme. Após atrair os mexicanos para seu rancho nos EUA, Rambo mata sozinho um a um, com requintes de crueldade, dezenas de deles. Imagine a passagem de Esqueceram de Mim em que Macaulay Culkin prepara e coloca em ação as mais engenhosas armadilhas para pegar os ladrões de jeito, mas com classificação indicativa para maiores de 18.
Mostra vilões como mexicanos
Sabemos que não é adequado apelar para estereótipos e preconceitos, não só no cinema mas em qualquer esfera social, especialmente se os personagens em questão fazem partes de minorias ou populações em situação de vulnerabilidade, como é o caso dos mexicanos.
No universo maniqueísta de Rambo - Até o Fim, não existe pessoa boa vivendo no México, ainda mais se ele tiver "cara" de mexicano. Todos os personagens no país são retratados como vilões e/ou pessoas com graves problemas de caráter, à exceção da jornalista interpretada pela espanhola Paz Vega. Rambo é a Rambo, e a história não está nem aí para isso.
Polícia para quê?
Se você está procurando forças policiais para estabelecer a ordem e fazer cumprir a lei em Rambo - Até o Fim, esqueça. O personagem sempre foi mostrado como lobo solitário e "outlaw", que faz justiça com as próprias mãos, e as coisas não mudaram nem um pouco. As autoridades quase não aparecem na tela e não possuem nenhum tipo de protagonismo no roteiro, nem no território mexicano nem no norte-americano.
No México, por sinal, a situação é ainda mais periclitante. Os policiais só aparecem em um momento, quando recebem um "presentinho" do cartel: mulheres. Um grupo de prostitutas, incluindo a sobrinha Gabrielle, é oferecido como propina, e as jovens são imediatamente estupradas por ele, em uma cena que pode provocar vômitos. Em Rambo, a terra é sem lei, e por isso ele precisa agir. De forma alguma recomendamos que você faça o mesmo em casa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.