Bienal: Famílias reagem à "censura" de Crivella: "Tiro saiu pela culatra"

Com uma ação de distribuição de 14 mil livros com temática LGBTQ+, centenas de famílias ocuparam a praça central da Bienal do Livro para pegar exemplares, sem poupar críticas ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
A ação foi financiada pelo youtuber e empresário Felipe Neto, que comprou os livros e sugeriu que fossem embalados com plástico preto com o seguinte aviso: "Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas. Felipe Neto agradece a sua luta pelo amor, pela inclusão e pela diversidade".
A ação começou pontualmente às 12h, e seguiu ininterruptamente até as 14h. Com milhares de exemplares ainda a serem distribuídos, a organização pausou a distribuição e retornará às 18h. Nas primeiras duas horas de livros grátis, pais e mães acompanharam seus filhos crianças e adolescentes. O discurso comum a todos era de repúdio à ação de Crivella, que enviou 12 agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública para recolher a história em quadrinhos "Vingadores: A Cruzada das Crianças" por conter uma cena de beijo gay, considerada pelo prefeito como "imprópria para crianças". A Justiça do Rio, na noite de sexta (6), proibiu novas ações similares.
Apesar do discurso de Crivella ser recheado por expressões como "proteger as crianças" e "salvar as crianças", os pais que levaram seus filhos à distribuição discordam. Juliana Ribeiro, de 36 anos, levou suas filhas Júlia, 11, e Giovanna, 12, para ganharem seus exemplares. Para ela, Crivella deveria se preocupar mais com o que realmente é grave e assuntos mais pertinentes à gestão municipal.
As irmãs gêmeas Chiara e Clarice Rodrigues, de 16 anos, também garantiram seus exemplares. Elas têm um perfil de resenhas literárias, o ChiandCla, e quando viram a notícia de tentativa de apreensão de exemplares na Bienal esperavam realmente uma repercussão grande. Para Chiara, a ação de Crivella teve efeito reverso: "O tiro saiu pela culatra. E eu me senti incomodada porque livros com beijos hetero não têm essa repercussão negativa, mas com beijos gay agem como se não fossem normal".
Clarice elogiou a ação de Felipe Neto: "Me surpreendi com a ação dele. É legal ele estar se posicionando agora, e essa é uma ação importante".
Outra jovem presente na ação e que elogiou a postura de Felipe Neto foi Catherine Machado, de 19 anos: "Foi uma iniciativa incrível e valeu a pena estarmos aqui. Eu espero que mais gente se entenda com a causa e entenda a importância do movimento", afirma. Com ela faz coro Duilio Lima, de 33 anos, um dos primeiros a obter seu exemplar. Para ele, a ação do empresário é um ponto de virada no combate ao conservadorismo: "É importante para discutir e combater o preconceito".
Denúncia ao Ministério Público
Neste sábado (7), a Aliança Nacional LGBTI encaminhou ao Ministério Público do Rio de Janeiro um ofício para que Marcelo Crivella seja investigado. A organização da sociedade civil argumenta que a ação de Crivella feriu o direito à liberdade de expressão, e que não cabe à Prefeitura recolher publicações em feiras de livros.
A Aliança Nacional LGBTI também pede que Crivella seja investigado sob a luz da decisão do Supremo Tribunal Federal que tipifica a homofobia como crime de racismo, com as mesmas penas previstas na lei 7.716/1989. O argumento final da organização é que nunca houve tentativa de censura entre o Super Homem e a Lois Lane, também personagens de histórias em quadrinhos.
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