Cleo Pires confessa desejo de estar em filme sobre Brizola: "Achava o máximo, lindo"
Política e romance marcaram a terceira noite do 47º Festival de Gramado (RS), com a exibição, fora de concurso, de Legalidade, longa-metragem dirigido por Zeca Brito. O filme resgata a campanha civil e militar liderada por Leonel Brizola (1922-2004), então governador do Rio Grande do Sul, para garantir a posse do vice-presidente João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. O político gaúcho é interpretado por Leonardo Machado, ator que morreu ano passado, aos 42 anos, e a quem o filme é dedicado.
Goulart era malvisto pelos militares por causa de suas posições políticas alinhadas à esquerda - a época da inesperada renúncia de Jânio, ele estava em viagem à China comunista. Em meio à ameaça de uma insurreição militar, surge a figura de Cristina, uma jornalista misteriosa, que se aproxima de Brizola e se envolve em um triângulo amoroso com dois irmãos. A personagem é interpretada por Cleo Pires, que agora faz questão de ser reconhecida apenas como Cleo.
"Eu devia ter uns quatro ou cinco anos, e minha avó sempre falava sobre o Brizola no café da manhã. Então, eu o achava o máximo, lindo", confessou a atriz e cantora durante o encontro com a imprensa nesta segunda-feira (19), justificando seu interesse pelo projeto. "Na verdade, eu soube que o Zeca queria fazer um filme sobre o Brizola quando fazíamos a minissérie O Tempo e o Vento (2013). Eu disse para ele: 'Quero fazer, pode usar o meu nome'".
O filme combina figuras histórias com personagens fictícios, ou combina personalidades reais em um só personagem. Cecília, por exemplo, logo revela-se uma espiã da CIA, a agência de inteligência americana, que passa informações sobre os bastidores da campanha de Brizola para os americanos, que têm interesses comerciais no Brasil. "O personagem da Cleo é uma metáfora da ameaça estrangeira", explicou o diretor.
O movimento orquestrado por Brizola sustou a possibilidade de um golpe militar naquele momento, mas Jango seria deposto três anos depois, dando início a 21 anos de ditadura militar no país. "O problema do brasileiro é que ele não tem memória" observou o Brito, autor de filmes como Em 97 Era Assim e A Vida extra-ordinária de Tarso de Castro, documentário sobre o jornalista fundador do Pasquim.
"Meu pai sempre me dizia que ninguém havia contado no cinema esse importante capítulo da história brasileira moderna. Achava muito estranho uma história tão importante do país como o episódio da Legalidade não estar em nenhum livro escolar. E se está nos livros, porque eles não chegam às salas de aula?", questionou o diretor.
O filme se passa durante os 14 dias que se seguiram à saída de Jânio do Planalto, que gerou um clima de instabilidade que rapidamente se espalhou pelo país. Legalidade combina imagens de arquivo e cuidadosa reconstituição de época para descrever uma trama que se desenrolou, basicamente, no interior e no entorno do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. O esforço do resgate histórico custou cerca de R$ 3 milhões.
"Alguns episódios da história do Brasil são preservado pela memória das famílias, não são abraçadas pelos historiadores oficiais. Às vezes, alguns momentos históricos são demonizados por um ou outro grupo, ou visto como um capítulo perigoso, e tende a ser esquecido. Mas isso não quer dizer que seja ilegítimo registrá-lo", observou Brito, que foi questionado pela abordagem folhetinesca de seu filme. "A teledramaturgia faz parte da história e da cultura do país. É uma forma de aproximar o filme do grande público", justificou.
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